Transforme a criação dos filhos em uma jornada de autoconhecimento e cura emocional, evitando transmitir feridas da infância
Larissa Fonseca* Publicado em 30/05/2025, às 06h00
Criar filhos é um dos maiores desafios e, ao mesmo tempo, uma oportunidade única de crescimento pessoal.
Muitas vezes, sem perceber, carregamos feridas emocionais da nossa própria infância, sejam elas mágoas, inseguranças, padrões tóxicos, dentre outros, e acabamos transmitindo esses pesos para nossos filhos.
Mas e se, em vez disso, usássemos a parentalidade como um caminho para a cura?
A verdade é que nossos filhos aprendem muito mais por aquilo que somos do que por aquilo que dizemos.
Se crescemos em um ambiente de críticas constantes, podemos, inconscientemente, ser duros demais com nossos filhos. Se nunca nos sentimos amados incondicionalmente, podemos lutar para oferecer esse amor a eles. Se fomos criados em meio ao medo ou à escassez, podemos acabar transmitindo essa visão do mundo, mesmo sem intenção.
Outro reflexo das nossas dores é a superproteção. Quando tentamos compensar o que não tivemos na infância, muitas vezes oferecemos aos filhos aquilo que nos fez falta. Mas será que eles realmente precisam disso? O risco é não enxergar a criança como um ser independente, e sim como uma extensão das nossas próprias carências. Criamos filhos sem frustrações, sem desafios, acreditando que estamos protegendo, quando, na verdade, podemos estar tirando deles a chance de crescer fortes e resilientes.
Nossos filhos não são uma segunda chance para revivermos a infância de outro modo. Eles não estão aqui para preencher o que nos faltou ou para realizar os sonhos que não conseguimos alcançar. Quanto mais conscientes estivermos disso, mais liberdade damos a eles para serem quem realmente são.
Buscar a própria cura emocional não é egoísmo, é responsabilidade. Quando olhamos para dentro, identificamos nossas dores e trabalhamos nelas, quebramos ciclos.
Esse processo pode acontecer por meio da terapia, do autoconhecimento, da espiritualidade ou até de conversas honestas sobre nossa história. O importante é não negar as marcas que carregamos e ressignificarmos nossa trajetória passada.
Ao fazer isso, algo maravilhoso pode acontecer: nos tornamos pais e mães mais presentes, mais equilibrados, mais empáticos. Em vez de reagirmos automaticamente, conseguimos agir com consciência. Em vez de projetarmos nossas dores, damos espaço para que nossos filhos cresçam livres e seguros. O resultado? Crianças mais autônomas, confiantes e emocionalmente saudáveis.
Curar-se não significa ser perfeito! Significa estar em constante transformação, aprendendo, ajustando e se permitindo crescer junto com os filhos.
Porque, no fim das contas, o maior legado que podemos deixar para eles e para as futuras gerações, não são apenas palavras, mas a leveza de um coração que aprendeu a se curar.
*Larissa Fonseca é Pedagoga e NeuroPedagoga graduada pela USP, Pós Graduada em Psicopedagogia, Psicomotricidade e Educação Infantil. Autora do livro Dúvidas de Mãe.
*Com edição de Marina Yazbek Dias Peres