A colunista Larissa Fonseca fala sobre a maternidade atípica e a importância do apoio para estas famílias
Larissa Fonseca* Publicado em 02/12/2024, às 06h00
A maternidade é uma experiência única e transformadora, mas, para muitas mulheres, essa jornada pode ser marcada por desafios diferentes daqueles vividos pela maioria. Quando falamos em "maternidade atípica", nos referimos à experiência de ser mãe em situações que fogem do que é considerado "convencional", seja por conta de uma condição de saúde da mãe ou do filho, desafios emocionais ou psicológicos, ou circunstâncias sociais e familiares mais complexas.
Esses desafios, muitas vezes invisíveis para a sociedade, podem tornar a maternidade mais difícil, mas também mais enriquecedora. Neste artigo, vamos explorar as dificuldades enfrentadas por mães que vivem uma maternidade atípica e como é possível encontrar formas de superá-las com força, resiliência e apoio adequado.
A maternidade atípica pode incluir situações como a mãe enfrentando problemas de saúde mental ou física, como transtornos de ansiedade, depressão pós-parto, ou doenças crônicas, ou ainda a criança nascendo com condições que exigem cuidados especiais, como deficiências ou doenças raras.
Esses cenários criam uma carga emocional e física significativa. A mãe precisa não apenas lidar com os desafios da maternidade, mas também com as limitações impostas pela condição de saúde. Isso pode significar tratamentos constantes, consultas médicas frequentes, terapias, ajustes na rotina e a constante necessidade de encontrar equilíbrio entre cuidar de si e de seus filhos.
Como lidar: É essencial que as mães busquem apoio, seja por meio de grupos de suporte, acompanhamento psicológico ou médico especializado. A aceitação de que a maternidade pode ser diferente da idealizada é um passo importante. É necessário também que a rede de apoio – família, amigos, profissionais de saúde – esteja presente para oferecer suporte emocional e prático.
As mães que vivem uma maternidade atípica muitas vezes enfrentam o estigma e o isolamento, especialmente se sua jornada é marcada por dificuldades emocionais, como depressão, ansiedade ou estresse pós-traumático. A pressão para ser uma "mãe perfeita" pode ser esmagadora, e muitas mães se sentem inadequadas por não conseguirem atender às expectativas impostas pela sociedade ou até por si mesmas.
Além disso, as preocupações sobre o futuro da criança, os tratamentos necessários e as inseguranças quanto ao desenvolvimento podem gerar uma ansiedade constante.
Como lidar: O autoconhecimento e a aceitação dos próprios limites são fundamentais. Buscar ajuda psicológica ou psiquiátrica pode ser essencial para lidar com os altos e baixos emocionais. Participar de grupos de apoio, onde é possível compartilhar experiências com outras mães que enfrentam desafios semelhantes, pode ser uma grande fonte de força e compreensão.
A maternidade atípica, seja devido à condição de saúde ou a outros fatores, muitas vezes vem acompanhada de uma falta de apoio. Quando a situação é considerada fora do "padrão", a sociedade pode ser insensível ou desinformada, levando ao estigma e ao isolamento da mãe. Além disso, a falta de políticas públicas adequadas e a dificuldade de encontrar profissionais capacitados para lidar com situações mais complexas tornam a experiência ainda mais desafiadora.
Como lidar: Investir em redes de apoio, como grupos de mães com experiências semelhantes ou organizações que oferecem serviços especializados, pode ser fundamental. As redes sociais também são uma excelente ferramenta para encontrar grupos de suporte e pessoas que entendem as dificuldades. No aspecto social, os pais podem lutar por mais políticas públicas inclusivas e buscar comunidades que ofereçam um espaço seguro e acolhedor.
Muitas mães atípicas também enfrentam o desafio de equilibrar a maternidade com outras responsabilidades, como a vida profissional e a manutenção de uma identidade pessoal. Isso pode ser especialmente difícil quando as necessidades da criança exigem mais tempo ou cuidados especializados, criando um constante conflito entre as demandas familiares e profissionais.
Como lidar: É fundamental buscar formas de estabelecer limites saudáveis entre a vida pessoal, a profissional e a materna. A comunicação clara com o parceiro, familiares e empregadores sobre as necessidades específicas pode ajudar a encontrar soluções mais flexíveis. Não hesitar em pedir ajuda, seja para um amigo ou para profissionais especializados, é uma maneira de aliviar o peso da sobrecarga.
Quando a criança apresenta necessidades especiais, o foco da mãe pode se voltar para as terapias e tratamentos contínuos, com preocupações sobre o desenvolvimento da criança. Isso pode gerar inseguranças sobre o futuro, o que pode ser angustiante. Além disso, pode ser difícil encontrar apoio adequado nas escolas ou na comunidade, o que aumenta a sensação de solidão.
Como lidar: O mais importante é se informar e educar-se sobre as necessidades da criança, buscando profissionais que possam ajudar no desenvolvimento dela de maneira personalizada. Encontrar uma escola ou instituição que ofereça um ambiente inclusivo e que tenha experiência em trabalhar com crianças com necessidades especiais é crucial. O foco deve estar no que a criança consegue fazer, celebrando suas conquistas, por menores que sejam.
A maternidade atípica é um caminho desafiador, mas também repleto de aprendizado e crescimento. As mães que enfrentam esses desafios, muitas vezes, desenvolvem uma força e uma resiliência extraordinárias, aprendendo a adaptar-se às novas circunstâncias e a celebrar as vitórias diárias.
Ao reconhecer as dificuldades e buscar apoio, é possível transformar as adversidades em momentos de conexão profunda com o filho e com a própria jornada de maternidade. Cada mãe é única, e a maternidade atípica não define a capacidade de amor, dedicação e superação. Ao contrário, ela revela a capacidade de se reinventar e de criar uma rede de afeto e cuidado capaz de superar os obstáculos.
*Larissa Fonsecaé Pedagoga e NeuroPedagoga graduada pela USP, Pós Graduada em Psicopedagogia, Psicomotricidade e Educação Infantil. Autora do livro Dúvidas de Mãe.