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A eterna comparação no desempenho das crianças

A pedagoga Larissa Fonseca fala sobre como lidar com as expectativas familiares e criar um ambiente saudável em relação ao desempenho das crianças

Larissa Fonseca* Publicado em 29/11/2024, às 06h00

É preciso cuidado ao comparar crianças
É preciso cuidado ao comparar crianças

Vivemos em uma sociedade onde a comparação está presente em praticamente todos os aspectos da vida, e isso não poderia ser diferente quando se trata da educação e do desempenho das crianças. Desde a infância até a adolescência, muitas vezes as famílias se veem fazendo comparações entre os filhos, seja com os irmãos, os colegas de escola, ou com o próprio desempenho anterior da criança. Embora a intenção muitas vezes seja de incentivo, essa prática pode ter efeitos negativos no desenvolvimento emocional e psicológico dos pequenos.

A comparação no desempenho das crianças pode surgir como uma tentativa de motivá-las a melhorar. Quando um pai ou mãe compara seu filho a outra criança que tem um bom desempenho, é natural pensar que isso pode gerar uma reação de superação. Porém, a pressão gerada por essas comparações pode se transformar em um fardo, em vez de uma motivação saudável.

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Essa dinâmica pode ser reforçada por fatores externos, como a mídia, escolas e até mesmo outras famílias. As redes sociais, por exemplo, muitas vezes mostram “realizações” das crianças, fazendo com que os pais se sintam pressionados a colocar seus filhos em uma competição constante. Isso, muitas vezes, distorce a realidade e pode gerar sentimentos de insegurança e inadequação nas crianças.

Os Efeitos da Comparação no Desempenho das Crianças

  1. Ansiedade e Estresse Quando uma criança é constantemente comparada a outra, ela pode começar a sentir que precisa atingir um padrão elevado para ser aceita ou amada. Esse tipo de pressão pode resultar em altos níveis de ansiedade, que se manifestam em dificuldades para se concentrar nos estudos, problemas com o sono e uma sensação de constante insatisfação com seu próprio desempenho.
  2. Diminuição da Autoconfiança A comparação excessiva pode fazer com que a criança duvide de suas próprias capacidades. Quando ela percebe que não atende às expectativas em relação a outra pessoa, pode perder a confiança em si mesma, o que compromete seu desenvolvimento emocional e seu bem-estar geral.
  3. Relações Tensas com os Irmãos Entre irmãos, a comparação constante pode gerar rivalidades e ressentimentos, prejudicando a convivência familiar. Ao verem-se constantemente comparados, os filhos podem passar a competir entre si de maneira insalubre, sem espaço para individualidade e para a construção de uma relação de apoio mútuo.
  4. Falta de Motivação Intrínseca Quando uma criança é motivada apenas pela comparação com outros, ela pode perder a motivação genuína de aprender. O foco em superar outra pessoa pode impedir que ela desenvolva um amor verdadeiro pelo conhecimento e pelos seus próprios progressos.

Como Lidar com as Comparações e Criar um Ambiente Saudável

  1. Foque no Processo, Não Apenas no Resultado Em vez de comparar o desempenho da criança com o dos outros, é fundamental reconhecer os esforços e os avanços individuais dela. Incentivar a criança a focar no seu próprio crescimento, por meio de pequenos objetivos alcançáveis, pode ser mais eficaz do que estabelecer comparações externas. Isso ajuda a criança a se concentrar no processo de aprendizagem, não apenas na nota ou no resultado final.
  2. Valorize a Individualidade de Cada Criança Cada criança tem seu próprio ritmo de desenvolvimento e uma maneira única de aprender. Em vez de estabelecer um padrão rígido, procure entender as características, talentos e desafios de cada filho, criando uma atmosfera de respeito pelas diferenças.
  3. Evite Comparações Diretas com Outros É importante que os pais se abstêm de comparar diretamente seus filhos com outras crianças, seja com irmãos ou colegas. Em vez disso, incentive-os a se comparar com eles mesmos — com seus próprios progressos e conquistas. Isso fortalece a autoconfiança e permite que a criança se orgulhe das suas vitórias pessoais, sem a pressão da comparação.
  4. Promova o Diálogo Aberto Manter uma comunicação aberta e honesta com a criança sobre seus sentimentos em relação ao desempenho escolar ou em outras atividades pode ajudar a entender suas angústias. É importante ouvir a criança e validar suas emoções, sem pressões ou julgamentos. Esse espaço de diálogo pode ajudar os pais a identificar possíveis fontes de estresse e lidar com elas de forma mais eficaz.
  5. Celebre o Esforço, Não Só o Sucesso Muitas vezes, as crianças sentem que só são valorizadas quando alcançam grandes resultados. No entanto, é essencial celebrar também o esforço, a dedicação e as tentativas, pois são essas qualidades que ajudam a desenvolver resiliência e perseverança.

A comparação constante no desempenho das crianças pode prejudicar sua autoestima, suas relações familiares e seu desenvolvimento emocional. Ao invés de olhar para os outros como referência, os pais podem adotar uma abordagem mais saudável, focando no crescimento individual de cada filho. A valorização do processo, a promoção de um ambiente acolhedor e o incentivo ao autoconhecimento são ferramentas poderosas para que as crianças possam se desenvolver de forma equilibrada e feliz, sem a pressão de se comparar com os outros.

Assim, as famílias podem cultivar um ambiente de amor, compreensão e respeito pela singularidade de cada criança, promovendo sua autoestima e bem-estar de forma sustentável e saudável.

*Larissa Fonsecaé Pedagoga e NeuroPedagoga graduada pela USP, Pós Graduada em Psicopedagogia, Psicomotricidade e Educação Infantil. Autora do livro Dúvidas de Mãe.