Estudos da American Psychological Association e da Stanford Medicine mostram que a hipnose altera a percepção cerebral da dor
Redação Publicado em 29/10/2025, às 06h00

A hipnose, antes cercada de mitos, é agora reconhecida como uma ferramenta clínica eficaz para o controle da dor, ansiedade e distúrbios do sono, com respaldo de estudos recentes da Stanford Medicine e da American Psychological Association.
Pesquisas indicam que a hipnose altera a atividade cerebral relacionada à percepção da dor, permitindo que pacientes aprendam a controlar suas sensações dolorosas e melhorem sua qualidade de vida.
Atualmente, um estudo no Hospital das Clínicas da USP investiga a eficácia da hipnose em procedimentos cirúrgicos, com resultados iniciais promissores que podem integrar essa prática à medicina convencional, reduzindo a necessidade de medicamentos.
Durante muito tempo, a hipnose foi cercada por mitos e desconfiança. Hoje, com o avanço das neurociências, ela é reconhecida como uma ferramenta clínica e cientificamente comprovada para o controle da dor, da ansiedade e de distúrbios do sono.
Pesquisas recentes da Stanford Medicine (2023) e da American Psychological Association (APA, 2024) mostram que o estado hipnótico provoca mudanças reais nas áreas cerebrais ligadas à percepção da dor, reduzindo a atividade neural responsável pela sensação dolorosa.
De acordo com Felipe Gonzalez, hipnólogo e pesquisador do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP), a hipnose é um estado de foco, imaginação e concentração — um estado comum e fisiológico da mente, que todos nós acessamos espontaneamente cerca de cem vezes ao dia. “Quando estamos absortos em um filme, concentrados em um pensamento ou imersos em uma lembrança, já estamos em um estado hipnótico”, explica.
Ele destaca que é importante diferenciar hipnose de hipnoterapia. “A hipnose é esse estado natural da mente. Já a hipnoterapia é o uso terapêutico desse estado para tratar causas emocionais e físicas, incluindo dores agudas e crônicas”, esclarece Gonzalez.
Nos quadros de dor aguda, a hipnose pode promover analgesia imediata. Em casos de dores crônicas, como a fibromialgia, o foco do tratamento é compreender a origem emocional e reprogramar a resposta cerebral à dor. “O estado de hipnose permite que o paciente aprenda a controlar a própria dor. Quando ele acessa esse estado sozinho, consegue reduzir tensão, relaxar e até dormir melhor”, diz o pesquisador.
A técnica também tem mostrado resultados relevantes em diferentes contextos clínicos, inclusive durante o parto, ajudando mulheres a vivenciarem o momento com menos dor e mais tranquilidade. “A hipnose é um recurso que pode oferecer um alívio significativo e natural, sem interferir no processo fisiológico”, comenta Gonzalez.
Atualmente, Felipe Gonzalez conduz um estudo pioneiro no HCFMUSP, em parceria com a equipe de Urologia, para avaliar a eficácia da hipnose na redução ou eliminação da dor em pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos. “Os resultados iniciais são muito promissores e reforçam a importância de integrar a hipnose à prática médica, especialmente em protocolos que buscam minimizar o uso de medicamentos e promover o conforto do paciente”, afirma.
Para o pesquisador, o reconhecimento científico da hipnose representa um avanço importante na medicina moderna. “A dor é também uma experiência emocional. Quando entendemos que o cérebro pode ser treinado para mudar essa percepção, abrimos um novo caminho para o alívio, o equilíbrio e, em muitos casos, para a cura”, conclui.
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