Psicóloga aponta a dependência emocional como forte fator de silenciamento e ensina mulheres a identificar relacionamentos abusivos
Redação* Publicado em 18/03/2024, às 22h59
Casos recentes de violência contra a mulher viraram manchete em todo o Brasil por se tratarem de pessoas famosas, como as apresentadoras Patrícia Ramos e Ana Hickmann que denunciaram seus então parceiros por agressão. Elas fazem parte das 25.458.500 mulheres que declararam, em 2023, terem sofrido violência doméstica e familiar ao menos uma vez na vida. Isso equivale a 30% das brasileiras. Mas é a minoria, que como Patrícia e Ana, denunciam o responsável. Das mulheres que sofreram violência no ano passado, 61% não procuraram uma delegacia, enquanto de janeiro a outubro, 1.127 feminicídios foram registrados no país. Os dados são do novo Mapa Nacional da Violência de Gênero, publicado recentemente pelo governo.
O que faz com que tantas mulheres continuem se calando diante da violência masculina? A psicóloga e mentora feminina, Najma Alencar, aponta a dependência emocional com relação ao agressor como um forte fator de silenciamento. “As mulheres também não foram ensinadas a identificar os sinais de um relacionamento abusivo. Muitas nem sabem que violência não é apenas física, mas pode ser também sexual, psicológica, moral ou patrimonial”, ressalta.
Najma costuma fazer 12 perguntas às suas pacientes para ajudá-las a identificar se há dependência emocional em uma relação. Quanto mais respostas “sim”, maior é a dependência:
Segundo Najma, superar a dependência emocional começa por entender o que a faz se sentir assim, pois por trás de toda dependência existe um medo que a sustenta. Fazer terapia é imprescindível para esse processo de cura e a psicóloga trata esses casos trabalhando os 3A's com a paciente: autocrítica, autoestima e autonomia.
"Ao perceber que o outro ocupa um lugar muito grande dentro de você, o que você pode fazer para se preencher de si?”, indaga Najma. “Essa é uma pergunta importante e muito eficaz para iniciar. Você pode experimentar uma caminhada sozinha, ir a um café sozinha, ler um livro no silêncio, criar hábitos que fortaleçam sua espiritualidade e tantas outras formas de se descobrir".
Já quanto à identificação de uma relação abusiva, outras questões entram em jogo. De acordo com a psicóloga, a mulher deve perceber um padrão de desequilíbrio de poderes no relacionamento e táticas manipuladoras. Quanto um homem é abusivo, ele costuma impor restrições à mulher (como sair para se divertir, conversar com os amigos e visitar os familiares), mentir compulsivamente e punir a mulher quando ela o desagrada, de várias formas: dando o tratamento de silêncio, a humilhando, diminuindo suas conquistas, a ameaçando e a agredindo, seja verbal ou fisicamente. A dependência emocional pode ser tratada. No entanto, violência é crime e deve ser denunciada pelo 180 ou outros canais similares.
“Ao menor sinal de abuso, a mulher deve procurar ajuda”, alerta Najma. “Seja em uma Delegacia da Mulher ou com alguém de confiança”. Nesse momento, o apoio do confidente, da família e dos amigos é essencial para que a mulher agredida pelo parceiro se sinta acolhida e tenha coragem para sair dessa relação. “Ela precisa sentir que tem uma rede de apoio, do contrário, as chances da violência doméstica aumentar é grande”, comenta a psicóloga.