Com técnicas cirúrgicas cada vez mais precisas, o tratamento da Síndrome de Transfusão Feto-Fetal redefine o prognóstico de gestações monocoriônicas
Prof. Dr. Rodrigo Ruano Publicado em 13/10/2025, às 06h00

A Síndrome de Transfusão Feto-Fetal (STFF) é uma complicação grave em gestações de gêmeos monocoriônicos, afetando cerca de 15% desses casos e podendo resultar na perda de um ou ambos os bebês se não for tratada a tempo.
A condição ocorre devido a conexões anormais entre os vasos sanguíneos da placenta, causando um desequilíbrio na circulação sanguínea entre os fetos, onde um pode sofrer com a falta de nutrientes e o outro com sobrecarga de sangue.
O diagnóstico precoce é crucial, e o tratamento mais eficaz atualmente é a cirurgia intrauterina por endoscopia fetal com laser, que melhora significativamente as taxas de sobrevivência e destaca a importância do acompanhamento especializado durante a gestação.
A Síndrome de Transfusão Feto-Fetal (STFF) ainda é pouco conhecida fora do meio médico, mas representa uma das complicações mais graves em gestações de gêmeos que compartilham a mesma placenta, chamadas gestações monocoriônicas. Trata-se de uma condição rara, porém extremamente séria, que pode levar à perda de um ou até mesmo dos dois bebês se não for diagnosticada e tratada a tempo.
Estima-se que a STFF afete cerca de 15% das gestações monocoriônicas. Ela ocorre quando vasos sanguíneos da placenta criam conexões anormais entre os fetos, gerando um desequilíbrio perigoso na circulação. Em termos práticos, um dos bebês — o chamado “doador” — pode perder nutrientes e líquido amniótico, enquanto o outro — o “receptor” — recebe sangue em excesso, o que sobrecarrega o coração e compromete sua saúde.
O diagnóstico precoce é fundamental. Por isso, gestantes de gêmeos monocoriônicos precisam de acompanhamento constante com especialistas em Medicina Materno-Fetal. Somente a vigilância criteriosa permite identificar sinais da síndrome em estágio inicial e, consequentemente, intervir a tempo. Quanto antes a condição for reconhecida, maiores são as chances de preservar as duas vidas.
Nos últimos anos, a medicina avançou de forma significativa no tratamento da STFF. Hoje, o método mais eficaz é a cirurgia intrauterina por endoscopia fetal com laser, um procedimento que cauteriza as conexões vasculares anormais da placenta e interrompe o fluxo desigual de sangue entre os bebês. Apesar da complexidade, trata-se de uma técnica que aumenta de maneira expressiva as taxas de sobrevivência, trazendo uma nova perspectiva para as famílias que enfrentam esse diagnóstico.
Ao longo de mais de 20 anos de dedicação à cirurgia fetal, tive a oportunidade de acompanhar centenas de casos de Síndrome de Transfusão Feto-Fetal. Minha experiência nos Estados Unidos, onde atualmente atuo em Miami, reforça a importância da informação. É essencial que gestantes saibam que existem riscos específicos nas gestações monocoriônicas e que busquem atendimento em centros especializados.
A informação salva vidas. Quanto mais falarmos sobre a síndrome, mais chances teremos de garantir que o diagnóstico seja precoce, o tratamento adequado e o desfecho positivo. A jornada dessas famílias não precisa ser marcada apenas pelo risco — pode também ser lembrada pela vitória da ciência e da vida.
*Prof. Dr. Rodrigo Ruano é cirurgião materno-fetal
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