Ecocardiograma fetal detecta mais de 90% dos casos de cardiopatias congênitas e deve ser realizado entre a 24ª e 28ª semana de gestação
Marina M Zamith* Publicado em 13/06/2024, às 06h00
As cardiopatias congênitas, malformações na estrutura ou na função do coração, são mais frequentes no Brasil do que se imagina. A cada 1.000 bebês, 10 nascem com algum tipo de cardiopatia congênita. Segundo o Ministério da Saúde, aproximadamente 30 mil crianças nascem com defeitos cardíacos no País e aproximadamente 40% vão necessitar de cirurgia ainda no primeiro ano, o que representa cerca de 12 mil crianças.
As malformações mais graves podem necessitar de tratamento ou procedimento cirúrgico logo nos primeiros dias de vida. No entanto, estatísticas mundiais apontam que menos de 50% desses casos cirúrgicos são descobertos durante o pré-natal. As cardiopatias mais frequentes e que causam queda de saturação de oxigênio e cianose (falta de oxigenação) no bebê são a Transposição das Grandes Artérias (TGA) e a Tetralogia de Fallot, sendo que ambas estão entre as que são menos identificadas antes do nascimento. A TGA necessita de correção cirúrgica logo na primeira semana de vida e mais de 95% dos bebês têm excelente resultado. Para isso, é muito importante ter o diagnóstico precoce e, com isso, os pais junto com o acompanhamento médico especializado podem se programar para que o nascimento aconteça em um hospital preparado para este tipo de cirurgia.
Os defeitos cardíacos congênitos, na maioria dos casos, estão presentes desde a fase de formação do coração que ocorre até a 12 ª semana de gestação. Portanto, o primeiro check-up cardíaco deve ser realizado antes do nascimento, comprovando que a formação ocorreu adequadamente. O exame mais indicado para avaliação cardíaca do bebê é a ecocardiografia fetal, que detecta mais de 90% dos casos de cardiopatias e pode ser realizado com boas imagens desde a 20 ª semana de gestação. Este é um exame que utiliza o método ultrassonográfico e deve ser realizado por um profissional especializado. A Diretriz Brasileira de Cardiologia Fetal, publicada em 2019 pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), recomenda a realização do exame entre a 24ª e 28ª semana de gestação, quando as imagens são mais adequadas. No entanto, se durante o ultrassom morfológico do primeiro trimestre for identificada alguma alteração, o exame pode ser realizado mais precocemente, por exemplo, com 14 semanas de gestação.
Em 14 de junho de 2023, entrou em vigor no Brasil a Lei nº 14.598, decretada e sancionada pelo Congresso Nacional, que torna obrigatório a ecocardiografia fetal em todas as gestantes. Além disso, existe um programa da Rede Nacional de Saúde Cardiovascular Especializada na Cardiopatia Congênita (Renasce), do Ministério da Saúde (MS), que busca promover o diagnóstico precoce e a intervenção especializada para essas crianças, mostrando a importância desse assunto para a sociedade.
Em um País com dimensões continentais como o Brasil, onde as distâncias entre o domicílio e um centro de excelência para tratamento especializado das cardiopatias congênitas podem ser enormes, o diagnóstico pré-natal assume papel ainda maior na redução da mortalidade e melhora dos desfechos clínicos.
*Dra. Marina M Zamith, médica responsável pela área de Ecocardiografia Fetal e Neonatal do Hospital e Maternidade Santa Joana