A luta antirracista deve ser diária. Veja as reflexões da colunista Tatiane Santos sobre o desconhecido e a ignorância
Tatiane Santos* Publicado em 04/01/2025, às 06h00
Vivemos em uma sociedade plural, onde a diversidade é uma das nossas maiores riquezas. Apesar disso, muitas vezes emitimos opiniões sobre experiências alheias sem realmente compreendê-las. Um exemplo comum é quando pessoas afirmam que algo, como o racismo, não existe simplesmente porque nunca passaram por isso, ou não perceberam que passaram. Essa é uma armadilha perigosa que subestima a vivência do outro e perpetua preconceitos e desigualdades.
É importante reconhecer que não experimentar algo não significa que esse algo não exista. Essa lógica falha é semelhante a dizer que a pobreza não existe porque temos uma casa, ou que a violência é um mito porque nunca fomos vítimas dela. Cada indivíduo tem experiências únicas, influenciadas por uma série de fatores históricos, sociais, econômicos e culturais.
O racismo, por exemplo, é uma realidade documentada e vivida por milhões de pessoas diariamente. Ele se manifesta de formas sutis, como microagressões, ou de maneiras mais evidentes, como a violência institucional. Quando alguém nega o racismo com base na própria experiência limitada, desconsidera uma história longa e dolorosa de exclusão e opressão.
Então, como podemos ser mais cuidadosos ao abordar o desconhecido?
Antes de opinar sobre um tema ou experiência que não nos diz respeito diretamente, é fundamental ouvir quem vive aquela realidade. A escuta ativa implica não apenas em ouvir as palavras, mas em tentar entender o contexto e as emoções por trás delas. Perguntar, observar e refletir são passos essenciais.
Ler, estudar e buscar informações em fontes confiáveis são maneiras de compreender aquilo que não conhecemos. Documentários, livros e artigos escritos por pessoas que vivenciam essas questões oferecem perspectivas valiosas.
É essencial reconhecer que não sabemos tudo e que sempre há espaço para aprender. A empatia nos ajuda a nos colocar no lugar do outro, enquanto a humildade nos impede de julgar ou desqualificar experiências que não compreendemos completamente.
A partir do momento que entendemos uma realidade que não vivemos, podemos nos tornar aliados. Para isso, é fundamental lembrar que o papel do aliado é apoiar e amplificar as vozes das pessoas diretamente impactadas, não tomar o protagonismo da luta. Pessoas brancas, por exemplo, têm um papel importante no combate ao racismo, mas esse papel não é o de liderar ou ditar os rumos do movimento. É escutar, aprender e estar ao lado, usando seus privilégios para abrir espaços e garantir que as vozes negras sejam ouvidas e respeitadas.
Ao mesmo tempo, é essencial pontuar que as pessoas negras não são as únicas responsáveis por combater o racismo. Esperar que elas eduquem pessoas brancas ou carreguem sozinhas o peso dessa luta é injusto e exaustivo. Esse trabalho deve ser coletivo, envolvendo toda a sociedade, e não pode ser limitado a iniciativas isoladas ou delegadas exclusivamente a professores negros nas escolas. Trabalhar contra o racismo é uma responsabilidade de todos, independentemente de sua cor de pele.
Por fim, deixo a reflexão: e você, qual é o seu papel nessa luta?
*Tatiane Santos é educadora, autora do livro Super Black, o poder da Representatividade, e mãe de 2 meninos. @pretinhaeducadora