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Dias chuvosos: reserva de emergência traz estabilidade emocional e segurança financeira

Entenda porque é importante ter uma reserva financeira, e como montar sua própria

Luciana Pavan* Publicado em 19/09/2025, às 11h00

Segue as dicas para entender como estabelecer sua própria reserva da maneira mais eficaz
Segue as dicas para entender como estabelecer sua própria reserva da maneira mais eficaz

Já ouviu a expressão "rainy day savings" (em tradução livre, uma economia para dias chuvosos)? No Brasil, chamamos de reserva de emergência. É aquele dinheiro guardado para imprevistos, como uma batida de carro, um roubo, um alagamento ou até para seguir pagando as contas caso a renda principal seja interrompida. Mais do que uma estratégia financeira, a reserva de emergência tem impacto direto na nossa saúde emocional: reduz a ansiedade, traz estabilidade e ajuda a lidar melhor com momentos de crise.

Falando assim, parece óbvio e fácil, mas não é, necessariamente. Os últimos anos deixaram lições difíceis. Vivemos uma pandemia global, que afetou milhões de empregos, e testemunhamos enchentes devastadoras no Sul do Brasil. Esses acontecimentos reforçam uma verdade simples: emergências acontecem e não avisam quando vão chegar. Apesar disso, dados mostram que a maioria das famílias brasileiras não possui uma reserva financeira. Esse é um dado preocupante, porque significa que muitos lares estão vulneráveis diante de imprevistos.

Quero começar, mas não sei por onde

Para quem está consciente sobre o tema, minha recomendação é simples: o ideal é acumular o equivalente a, no mínimo, seis meses de despesas. Se a família gasta em torno de R$ 5 mil por mês, a reserva deveria ser de, pelo menos, R$ 30 mil. Por exemplo, quando decidi sair do mercado corporativo para me tornar uma mentora, com os meus próprios clientes, coloquei isso como prioridade: isto é, ter uma reserva que fosse suficiente para arcar com as minhas despesas durante meses de baixa receita. E posso garantir: nada tranquiliza mais do que deitar no travesseiro com a consciência em dia.

O tempo necessário para atingir esse objetivo varia de acordo com a renda e a disciplina de cada pessoa. Famílias maiores podem optar por 12 a 18 meses de gastos guardados, enquanto solteiros ou casais sem filhos podem se sentir mais confortáveis com 6 meses.

Os erros mais comuns

O deslize mais frequente é usar o dinheiro reservado para outros fins. É o famoso “ah, mas eu mereço, trabalho tanto”. É legítimo e esses mimos são possíveis, desde que planejados. Esse valor poupado precisa estar blindado contra as tentações do dia a dia. Uma boa prática é aplicar em contas digitais de bancos que você não usa no dia a dia, de modo a não ver o saldo toda vez que abrir o aplicativo principal. Assim, fica mais fácil não mexer nele sem necessidade.

Onde aplicar e como começar

O destino ideal é sempre um investimento de baixo risco e alta liquidez – ou seja, que não oscile negativamente e que permita resgate imediato ou em até um dia útil. Entre as opções estão CDBs com liquidez diária, Tesouro Direto e caixinhas ou cofrinhos digitais. A poupança, que já não rende acima da inflação, acaba não sendo a melhor alternativa.

Quem ainda não conseguiu juntar nada pode iniciar com o que chamo de “dinheiro novo” – valores que entram de forma inesperada, como reembolsos, restituição de Imposto de Renda ou até a venda de itens esquecidos no armário. O importante é criar o hábito de separar esse recurso assim que ele chega, antes que seja absorvido por outros gastos.

Atualmente, com plataformas digitais que permitem investir a partir de R$ 1,00, é possível dar o primeiro passo sem esperar grandes valores.

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Disciplina e motivação

Construir uma reserva de emergência exige disciplina, mas também clareza sobre o propósito. Tive uma pessoa mentorada que sempre entrava no ciclo de endividamento, pagava dívidas e nunca conseguia juntar. Quando se casou novamente e passou a ser o ponto focal das finanças na família, a ficha caiu: era urgente proteger a família de imprevistos. O pontapé inicial veio de uma herança, mas, a partir daí, foi possível organizar as finanças e manter contribuições mensais para a reserva.

Segurança é também liberdade

Mais do que uma conta com dinheiro guardado, a reserva de emergência é um exercício de autocuidado. É planejar o futuro, reduzir o estresse e garantir que você e sua família possam enfrentar tempos difíceis sem perder o equilíbrio financeiro e emocional. Que cada um de nós encontre caminhos para construir esse “pé de meia” e, assim, caminhar com mais tranquilidade, mesmo nos dias chuvosos.

*Luciana Pavan é educadora financeira e fundadora do 90 Segundos de Finanças

*Com edição de Marina Yazbek Dias Peres