Luciana Pavan estreia coluna sobre finanças aqui no site. Neste primeiro texto, planos financeiros da família pensando no futuro
Luciana Pavan* Publicado em 27/06/2024, às 06h00
Saiu aquela resposta esperada: o teste deu positivo! Primeiro e antes de mais nada, para quem está naquela expectativa, nada mais justo do que comemorar – e sem moderação. O anúncio de um novo ente querido na família costuma vir associado de expectativas, otimismo, às vezes frio na barriga e, para alguns “calouros”, uma certa insegurança. E é normal sentir esse receio, não há motivo para se culpar. Muito pelo contrário, isso é o que nos faz humanos.
Um medo muito comum diz respeito às finanças quando um bebê está quase aterrissando. Para algumas famílias, a preparação para a chegada começa bem antes: quando recorrem a tratamentos de reprodução assistida, que podem custar mais que um carro – mas acho que isso é tema de outro momento.
Para a chegada do novo familiar, acho importante, primeiramente, nos organizarmos, dividindo os gastos em: físicos (quarto do bebê, projetos de arquitetura, reformas, móveis e decoração); enxoval, isto é, as roupinhas e acessórios, uma missão que pode ou não incluir até viagens para o exterior, com consultorias especializadas no tema; comemorações (chá revelação, chá de fraldas, lembrancinhas e decorações de maternidade e serviços de fotografia); saúde (médicos, parto, hospital, exames – o que será coberto pelo plano de saúde?); e por fim, apoio profissional (consultoras de amamentação, enfermeiras e babás). Eventualmente, haverá algum outro gasto específico, dependendo da necessidade do bebê.
Do ponto de vista comportamental, ressalto que a família deve conversar bastante sobre todos esses temas, pesquisar os preços e escolher de acordo com o que está dentro do seu padrão de vida. Recomendo olhar a chegada do bebê como um todo, porque muitos desses gastos que comentei se sobrepõem, ou seja, caem todos no mesmo mês e o seu desembolso pode ficar maior do que sua disponibilidade. Para esse momento intenso, costumo dizer que as planilhas – e, quando possível, o apoio de educadores financeiros – são bons parceiros nessa jornada. E claro, vale tomar aquele fôlego monetário.
Mas como planejar com o pé no chão?
Para um orçamento realista, é importante entender que a chegada do bebê é só o começo de uma vida inteira, que inclui gastos, invariavelmente. Às vezes, a espera e o desejo por essa criança podem ser tão grandes que, em muitos momentos, temos aquela impressão de que chegamos “ao fim”. E consequentemente, vem uma vontade de gastar tudo como se não houvesse amanhã. E esse dia depois, na verdade, é muito longo: estamos diante de uma nova vida, recém-chegada, com novas necessidades e demandas.
A reserva de emergência é inquestionavelmente necessária e em todas as fases da vida, como a pandemia ou as enchentes do Rio Grande do Sul mostraram. Na chegada de um bebê, é imprescindível ter esse capital poupado, constituído para qualquer eventual situação que possa acontecer com aquela nova vida.
Como pensar positivamente sem perder a mão?
Tendemos sempre a ser otimistas. Como chamamos na Economia Comportamental, há o Otimismo Excessivo ou Excesso de Confiança, que nos levam a imaginar cenários sempre melhores do que de fato podem ser (definição: ocorre quando nossa confiança subjetiva em nossas próprias habilidades é maior do que nosso desempenho observado). Assim, quando o primeiro filho chega e você não tem nenhum parâmetro perto (de familiares ou amigos), fica mais fácil esquecer de prever, pois imagina-se que não vai precisar. Isso é bem mais comum do que pensamos.
Atendi uma família em que a criança com poucos meses de vida apresentou intolerância a lactose e eles precisaram passar a comprar uma fórmula que custava mais de R$ 1 mil por mês. É aí que reside a importância de ter uma reserva de emergência, de onde você possa resgatar para cobrir esse tipo de gasto, tão específico e tão difícil de se prever.
Pensamento estratégico
Vejo as famílias fazerem bastante economia comprando itens de desapego, de segunda mão, em brechós ou em grupos de WhatsApp de mães (da escola, do prédio, do clube, entre outros). Quando os bebês são pequenos, eles perdem as coisas muito rápido. Logo, muitas roupinhas acabam sendo vendidas nestes canais – e em ótimo estado. Os famosos bicos de mamadeira, então, são revendidos até mesmo na embalagem, porque as famílias acabam adquirindo vários e nem usam porque o bebê gostou de um específico.
Outra forma de economizar é gerando uma receita extra com desapego do que não serve mais para o seu bebê. Da mesma forma que você está comprando de outra família, alguém também pode fazer o mesmo de você – o que faz bem ao seu bolso e ao planeta. Costumo desencorajar esses sites de e-commerce internacionais, pois as compras podem demorar muito e o item nem servir mais no seu bebê quando chegar.
Futuro da criança
Uma parte chave que não pode ser esquecida pelos pais é o futuro financeiro daquela pequena vida. Começar um investimento de longo prazo (de 18, 20 ou 25 anos) o mais cedo possível é algo que não apenas recomendo, como oriento a muitos dos meus mentorados.
Esse investimento pode servir para estudo, compra de um carro ou de um imóvel, uma experiência de vida no exterior, entre outras finalidades. Isso pode ser feito por meio de um investimento mensal automático. Dica: caso você seja do time que só funciona “com conta pra pagar”, existem os produtos de previdência que serão esse “boleto mensal”, te condicionando a fazer esse investimento todo mês.
Ter essa disciplina de começar um investimento desde bem pequeno vai fazer com que dois fatores muito importantes estejam a seu favor: tempo e juros. Ambos os elementos, que normalmente jogam “contra” as finanças de muita gente, agora estariam jogando no seu time e a serviço do futuro do seu bebê.
Diálogo sempre
Por fim, sempre recomendo uma ferramenta das mais humanas: a conversa. Procure amigos, vizinhos, colegas de trabalho e faça perguntas claras e objetivas – sem medo de “errar”. Pode ser clichê, mas a única pergunta equivocada é aquela que não foi feita. Outra opção é seguir perfis no Instagram, ler os comentários e interagir com as pessoas ingressas naqueles espaços. É hora de falar e também de ouvir. Vale tudo para não gastar em vão e evitar desperdiçar dinheiro.
*Luciana Pavan é fundadora e idealizadora do 90 Segundos de Finanças