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Escrever é um propósito: minha trajetória na literatura

Desde os 12 anos, eu falava que queria ser “escritora” - hoje, escrever faz parte de toda a minha vida.

Laura Redfern Navarro* Publicado em 30/10/2025, às 06h00

Laura Redfern Navarro
Laura Redfern Navarro: poeta, jornalista e pesquisadora. - Foto: Assessoria

Laura Redfern Navarro, jornalista e poeta, começou sua jornada literária aos 12 anos, desenvolvendo uma paixão por escrever que a levou a publicar seu primeiro livro aos 16 anos e a ingressar na faculdade de jornalismo aos 19.

Durante a pandemia, ela criou a plataforma @matryoshkabooks para explorar sua escrita e, aos 22 anos, venceu o ProAC com seu livro 'O Corpo de Laura', que foi publicado em 2023, marcando um importante passo em sua carreira.

Após um período de exaustão criativa, Laura iniciou um Mestrado em Literatura e Crítica Literária e lançou sua nova plaquete 'um sonho lúcido', refletindo seu contínuo crescimento e a realização de seu sonho de infância de se tornar escritora.

Resumo gerado por IA

Jornalista. Pesquisadora. Poeta. Estas são as palavras que uso quando me apresento, quando envio um currículo ou quando me perguntam o que faço da vida. É curioso perceber como todas essas funções têm, como principal tarefa, escrever. Acho que isso diz muito sobre mim.

Para falar a verdade, a minha jornada com o amor às palavras começou cedo.

Aos 12 anos, eu fazia longas viagens de carro com a minha família e, para não ficar entediada, lia - ou melhor, devorava os títulos infanto-juvenis que recomendavam nas listas de férias da escola. Esse contato inicial intenso com a leitura fez com que eu me apaixonasse por histórias e, aquariana que sou, logo comecei a fantasiar em contar, eu mesma, novas histórias.

Foi aí que eu comecei a responder “eu quero ser escritora” para os adultos que me perguntavam o que eu queria ser quando crescesse. E eu levei esse desejo muito a sério.

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Em pouco tempo, eu já passei a usar o intervalo das aulas para escrever poemas, além de carregar pastas com papéis sulfite para anotar alguma ideia nova. Essa foi uma época muito produtiva para a minha escrita, que permaneceu como hábito durante a adolescência.

Como qualquer jovem, eu tinha curiosidade por temas complexos, mórbidos e pesados - lembro-me nitidamente da primeira vez que li A redoma de vidro, de Sylvia Plath, ou os poemas de Augusto dos Anjos. Eu tive blogs, também - e muitos! - onde publicava poemas, contos, resenhas e textos de opinião.

Nesta época, eu já tinha entendido que eu realmente queria ser escritora - não era só um hobby. Eu tinha rotina, meta, aspiração. Meus pais sempre buscaram me apoiar, por sorte, e passaram a permitir que eu frequentasse cursos livres em espaços como a Casa das Rosas, onde conheci meu primeiro “mentor”, o escritor e cineasta Donny Correia, que não só acompanhou a minha produção como me abriu portas para o mercado editorial.

A partir daí, meu sonho começou a tomar forma. Aos 16 anos, publiquei meu primeiro livro de poemas. Aos 18, meu primeiro romance. E, aos 19, ingressei na faculdade de jornalismo - eu queria escrever em uma coluna cultural.

Confesso que os dois primeiros livros são trabalhos dos quais não me orgulho tanto, que ainda não apresentam um fluxo e um estilo de escrita definido e afinado. Já com o jornalismo, a vida foi acontecendo, e hoje eu trabalho majoritariamente com assessoria de imprensa, embora também faça freelas de crítica cultural.

O meu amadurecimento como escritora se deu, curiosamente, durante a pandemia. Privada do contato com o outro, mergulhei intensamente em mim mesma e nos livros. Criei o @matryoshkabooks, uma plataforma para falar de livros e trazer meus experimentos com a escrita criativa. E eu cresci muito nesse processo - não falo de seguidores, mas de olhar, de ler, de escrever.

Aos 22 anos, quando estava concluindo a graduação, recebi uma das maiores notícias da minha vida até agora: havia vencido, em primeiro lugar, o ProAC (Programa de Ação Cultural do governo do Estado de São Paulo) com o livro de poemas e fotografias O Corpo de Laura. Logo, passei o ano de 2023 inteiro compondo e realizando cada uma das etapas do projeto, que foi publicado pela Mocho Edições.

Após essa obra, enfrentei um período conturbado com relação à criatividade. A dedicação tão forte me levou à exaustão. Fiquei um ano praticamente sem escrever.

No início de 2025, ingressei no Mestrado em Literatura e Crítica Literária da PUC-SP, com uma pesquisa focada em Alejandra Pizarnik e a estética digital dos Liminal Spaces, e tive a ideia de iniciar esse processo desdobrando minhas ideias em torno do tema para a poesia. Era o jeito, que eu encontrei, de compreender melhor a complexidade daquilo tudo - pensando, também, em uma publicação nova, que trouxesse um frescor acerca do que eu vinha compondo e criando.

Foi assim que surgiu minha nova plaquete, um sonho lúcido, que está sendo publicada pela editora Orlando.

As pessoas não imaginam a felicidade que é ter uma publicação nova, um livro ou um texto materializado. Não é sobre publicar por publicar: é sobre ter a sensação de que estou concretizando o sonho da Laura criança.

Talvez escrever sempre tenha sido isso: a forma que encontrei, desde os 12 anos, de dar sentido ao que sou.

*Laura Redfern Navarro é poeta, jornalista de formação e pesquisadora.

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