A neuropsicopedagoga Renata Trefiglio traz um panorama da inclusão de alunos com TEA nas escolas brasileiras
Redação Publicado em 02/04/2023, às 11h20 - Atualizado às 12h12
O Dia Mundial da Conscientização, celebrado em 02 de abril, foi criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para difundir informação de qualidade sobre o tema, combatendo estigmatizações e preconceitos contra pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). No âmbito da educação, a data é uma oportunidade para as escolas avaliarem se estão, de fato, promovendo inclusão de alunos autistas.
De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), uma em cada 160 crianças possui TEA e, na maioria dos casos, as condições são aparentes logo nos primeiros cinco anos de vida. Além disso, a OPAS orienta que intervenções para as pessoas com TEA precisam ser acompanhadas por ações mais amplas que considerem ambientes sociais mais acessíveis e inclusivos. Nesse sentido, as escolas precisam estar atentas à temática para acolher alunos com transtorno do espectro autista de maneira adequada e humanizada.
Cenário atual
Em 2015, as Nações Unidas estabeleceram 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), um conjunto de ações globais que englobam objetivos a serem atingidos até 2030. Um desses objetivos prevê a necessidade de “assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos”.
Oito anos após a criação dos ODS, o debate sobre a importância de promover a inclusão a pessoas com TEA nas escolas avançou, mas ainda faltam recursos e capacitação para educadores, bem como apoio adequado para os alunos autistas e suas famílias. “Os professores precisam receber formação contínua especializada no tema para que os alunos autistas possam participar ativamente das atividades no ambiente escolar”, explica Renata Trefiglio Mendes Gomes, neuropsicopedagoga e Coordenadora de Whole Child Development na Camino School, escola da zona Oeste de São Paulo.
Inclusão efetiva nas escolas
Para além de garantir a presença de alunos com TEA nas escolas, é necessário criar uma série de condições estratégicas que promovam, de fato, sua inclusão. Renata Trefiglio sugere que se invista em um ensino multissensorial e em comunicação alternativa e aumentativa. “Recursos visuais como gráficos, diagramas e mapas mentais ajudam o aluno a organizar e processar informações complexas, assim como a realização de atividades que trabalhem diferentes sentidos, como visão, audição e tato”, explica Renata.
Outra forma de proporcionar uma ambiente escolar inclusivo é estabelecer rotinas claras e previsíveis, de modo a fazer com que alunos com TEA se sintam mais seguros e confiantes. “Estruturar as atividades em pequenas tarefas sequenciais, com instruções claras e objetivas, ajuda o estudante com autismo a completar os deveres de forma mais eficaz”, afirma Renata. “Outra medida interessante é o uso de feedbacks positivos, como recompensas e elogios, algo que pode motivar a incentivar os alunos”, reforça a neuropsicopedagoga.
A estrutura física das escolas também são pontos de atenção importantes quando o assunto é inclusão de alunos autistas. “Criar uma sala com redução de estímulos sensoriais excessivos pode ajudar os alunos com TEA a se acalmarem e se sentirem seguros”, sugere Renata Trefiglio. “Além dos espaços de tranquilidade, não se pode esquecer a acessibilidade física desses e de outros locais da escola”, acrescenta Trefiglio.
Perspectivas para os próximos anos
Apesar dos desafios, Renata é otimista em relação ao cenário futuro da inclusão de alunos com TEA nas escolas. “A tecnologia está sendo cada vez mais usada para apoiar a inclusão, a exemplo do uso de softwares e aplicativos para comunicação e aprendizado. Além disso, há uma crescente conscientização sobre a importância da inclusão e do respeito à diversidade nas escolas e na sociedade em geral. É possível que em 2023 haja ainda mais progresso na inclusão de alunos com TEA não apenas nas escolas, mas também nas universidades”, afirma Renata.
“É importante lembrar que a inclusão é um processo contínuo e que requer o compromisso e a colaboração de educadores, famílias, comunidades e governos para garantir que todas as pessoas com deficiência tenham acesso à educação e outros direitos básicos”, ressalta Renata Trefiglio.