Abuso sexual contra crianças: como podemos mudar essa realidade e como ter um olhar atento para proteger também crianças com alguma deficiência?
Thaissa Alvarenga* Publicado em 21/08/2025, às 10h00

Que inquietação é essa na mente que me faz ficar estarrecida como a sociedade adoeceu. Como mães de três crianças sendo duas neuro divergentes e o meu filho mais velho com Síndrome de Down, a minha preocupação como empreendedora social de uma instituição que traz a mobilização e a discussão da inclusão de pessoas com deficiências e forma real na sociedade. Quero com esse texto trazer uma reflexão profunda do papel dos pais na educação das crianças e no olhar atento a ligação de redes sociais, jogos nesse processo do acesso tão meteórico de crianças e jovens a conteúdo online.
No Brasil, segundo os dados do Atlas da Violência 2025, a cada hora 13 crianças e adolescentes sofrem algum tipo de violência física, sexual ou de negligência. E se citarmos casos de estupro o número é assustador segundo o anuário brasileiro de Segurança Pública, a cada 6 minutos uma pessoa é estuprada e as maiores vítimas são mulheres e meninas de até 13 anos. Em 2023 um total de mais de 4.400 notificações de abusos sexuais contra pessoas com deficiências.
Precisamos de uma infância sem violência e essa é uma construção mútua de práticas anti racistas e anti capacitistas, nessa fase a criança cria memórias para o resto da vida, um chão firme para caminhar.
E a denúncia que o influenciador Felca faz traz mães atípicas questionarem cada vez mais o que de fato pode acontecer com crianças e adultos com deficiências, autistas e de que forma podemos trazer segurança no dia a dia deles para que não sofram abusos.
Primeiramente olhar como essas pessoas estão inseridas na sociedade com seus direitos e deveres assegurados desde a primeira infância, com acesso a uma educação inclusiva real, acesso a terapias para que se desenvolvam de forma plena para uma vida adulta com autonomia. Eles são capazes sim de desenvolvimento, mas com as ferramentas adequadas. Muitos têm atrasos cognitivos, mas com um trabalho em rede com a família, escola e rede de apoio isso pode ser melhorado. Tratar essas pessoas com respeito dando possibilidades de entendimento a situações delicadas como o influenciador trouxe. Outro ponto são as exposições nas redes sociais, os pais devem sim ter atenção ao uso de telas, jogos e mostrar limites, mas todos juntos, com explicações e mais trazer a criança para ser criança. Com brincadeiras, passeios ao livre e limitações ao uso de telas.
Para se ter um processo e construção de ambientes seguros para esse público, investimentos em formações para os profissionais da educação com uma linguagem simples e uso acessibilidade ampla, diálogos com a família e a cobrança que a LBI (lei brasileira da inclusão) seja respeitada e cumprida. Temos que proteger nossas crianças dessas exposições. A família tem que ter acesso a canais de denúncias, com a delegacia da Pessoa com deficiência em SP, para qualquer situação de abuso sexual. Disque denúncia Em São Paulo, você pode utilizar o Disque 100 (Disque Direitos Humanos) ou o Disque 181, além de outros canais como o Fala.BR. O Disque 100 é um serviço gratuito e anônimo, que funciona 24 horas por dia, incluindo finais de semana e feriados, e encaminha denúncias para os órgãos competentes.
Outra opção seriam rodas de conversas com especialistas no assunto, psicólogos e familiares para mostrar a importância de conhecerem seus direitos e se sentirem acolhidas e seguras em todos os ambientes até em casa no ambiente familiar isto pode ocorrer.
Cito um projeto muito lindo e importante Eu me Protejo, criado para que crianças com e sem deficiência aprendam que seus corpos são seus e devem ser respeitados. Ensina a criança a reconhecer e se proteger de abusos e agressões. Explica que, se algo acontecer, as crianças devem contar a um adulto responsável e em quem confiem. Orienta que, desde pequenos, todos devem respeitar os corpos dos outros e não recorrer a nenhuma forma de violência.
Como família temos que nos unir e levarmos informação, buscar nossos direitos e o mais importante cuidar dos nossos filhos desde a primeira infância. E voltarmos a ter um ambiente afetivo, com mais respeito e um olhar de mudança para a verdadeira inclusão das pessoas com deficiência.
Deixo uma reflexão de quando encontrar uma pessoa com deficiência em algum local se pergunte. Qual o meu olhar para essa pessoa, pois ela tem um nome, sobrenome, sonhos, desejos e sim pode se tornar um adulto com autonomia só precisamos dar a vara certa para ela pescar e as ferramentas corretas para seu desenvolvimento.
*Thaissa Alvarenga é formada em Publicidade e Propaganda, com especialização em Marketing, e Pós-graduada em Neurociência na Educação. Ela viveu uma transformação pessoal e profissional ao dar à luz seu filho Chico, que tem Síndrome de Down, além de suas caçulas, Maria Clara e Maria Antônia. É fundadora do Instituto Nosso Olhar, com mais de cinco anos de atuação, que se dedica ao trabalho de transformação e inclusão a pessoas com deficiências intelectuais e neurodivergentes. Thaissa é palestrante e TEDx Speaker e faz parte do Conselho Consultivo do Instituto JNG.