Gerontóloga destaca benefícios mútuos da convivência entre os avós e netos e as férias escolares são um ótimo período para proporcionar isso
Redação* Publicado em 09/12/2025, às 06h00

Durante as férias escolares, a interação entre avós e netos se intensifica, proporcionando benefícios significativos para ambas as gerações, mas também exigindo cuidados para evitar a sobrecarga dos idosos.
Os avós modernos são mais ativos e saudáveis, e a convivência com os netos estimula sua saúde física e mental, além de oferecer às crianças uma fonte de sabedoria e valores familiares.
Para garantir uma convivência equilibrada, é essencial que as famílias planejem atividades, respeitem as limitações dos avós e mantenham uma comunicação aberta sobre responsabilidades e necessidades de descanso.
O período de férias escolares tradicionalmente marca um momento de maior proximidade entre avós e netos, quando muitas famílias recorrem ao apoio dos idosos para cuidar das crianças durante o recesso letivo. Essa convivência intensificada pode trazer benefícios significativos para ambas as gerações, mas também requer cuidados especiais para evitar a sobrecarga física e emocional dos avós.
A dinâmica familiar brasileira tem se transformado nas últimas décadas, e isso inclui também a forma como envelhecemos. Os idosos de hoje não se parecem com os de antigamente. Ativos socialmente, praticantes de exercícios físicos, participantes de cursos, viajantes e, muitas vezes, atuantes no mercado de trabalho. Esse é o perfil da pessoa idosa nos tempos atuais. A nova geração de avós é rica em autonomia, saúde e protagonismo. Durante as férias escolares, essa participação se intensifica, criando oportunidades únicas de fortalecimento dos vínculos familiares, mas também desafios que precisam ser gerenciados com cuidado.
“A convivência entre avós e netos durante as férias pode ser extremamente benéfica para ambos, desde que seja planejada de forma equilibrada e respeitosa com as limitações naturais do envelhecimento,” explica a gerontóloga Claudia Alves.
A interação regular com os netos pode proporcionar diversos benefícios para a saúde física e mental dos idosos. “O convívio com as crianças estimula a atividade cognitiva dos avós, mantendo a mente ativa através de brincadeiras, conversas e atividades lúdicas. Isso contribui para a prevenção do declínio cognitivo e pode retardar o desenvolvimento de demências,” destaca Claudia.
A especialista também aponta os benefícios emocionais dessa convivência. “Os avós que mantêm contato regular com os netos relatam maior sensação de propósito e utilidade, o que combate sentimentos de solidão e depressão, muito comuns na terceira idade. A alegria e espontaneidade das crianças trazem energia positiva para o cotidiano dos idosos,” observa a gerontóloga.
O aspecto físico também pode ser beneficiado pela presença dos netos. “Cuidar das crianças incentiva naturalmente os avós a se manterem mais ativos fisicamente, seja através de caminhadas, brincadeiras no parque ou acompanhando o ritmo energético dos pequenos. Essa atividade física moderada é fundamental para manter a mobilidade e a independência dos idosos,” explica Alves.
Vantagens para o desenvolvimento dos netos
Para as crianças, a convivência com os avós oferece benefícios únicos para o desenvolvimento emocional e social. Os avós representam uma fonte de sabedoria, paciência e afeto diferenciada, geralmente tendo mais tempo e disposição para ouvir, brincar, contar histórias e transmitir valores familiares e culturais.
Essa relação também contribui para a formação da identidade das crianças. “Os netos aprendem sobre respeito, empatia e compreendem melhor o processo do envelhecimento. Além disso, ganham uma perspectiva histórica única, por meio das experiências e memórias compartilhadas pelos avós”, ressalta Claudia.
Apesar dos inúmeros benefícios, a gerontóloga alerta para os riscos da sobrecarga. “Mesmo sendo uma geração de avós mais ativa e independente, ainda assim temos limites. Muitas famílias acabam sobrecarregando os idosos com responsabilidades excessivas, esquecendo que eles também têm rotina, compromissos, hobbies e necessidade de descanso. É fundamental estabelecer limites claros e realistas,” enfatiza Claudia.
Os sinais de sobrecarga podem incluir: fadiga excessiva, irritabilidade, alterações no sono, perda de apetite e agravamento de condições de saúde prévias. Também podem surgir sinais emocionais, como ansiedade ou estresse. Alguns avós têm dificuldade em dizer não por medo de decepcionar a família, o que pode gerar desgaste emocional e prejudicar a qualidade da convivência, completa.
Para maximizar os benefícios e minimizar riscos, a especialista recomenda uma organização familiar clara e empática. “É essencial que a família dialogue previamente sobre expectativas, horários e responsabilidades. Os avós precisam se sentir à vontade para expressar suas limitações e necessidades sem culpa,” orienta Claudia Alves.
Ela sugere incluir períodos de descanso na rotina. Mesmo durante as férias, os avós precisam de pausas. Organizar horários específicos para atividades com os netos, intercalados com momentos de descanso, é fundamental para preservar o bem-estar dos idosos.
Claudia reforça que o planejamento é a chave de tudo. Famílias que se organizam, estabelecem rotinas flexíveis e mantêm comunicação aberta costumam ter experiências mais positivas. O objetivo deve ser sempre o bem-estar de todos, respeitando as necessidades de cada geração.
Por fim, a especialista alerta que “os pais não devem transferir integralmente a responsabilidade pelos filhos para os avós. É importante manter um sistema de apoio, com revezamento de cuidadores e disponibilidade para situações de emergência,” conclui Claudia.
*Com edição de Marina Yazbek Dias Peres