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Criança pode tomar café? Especialista alerta: consumo de cafeína pode prejudicar o sono e a saúde infantil

Estudo revela que consumo de cafeína pode causar taquicardia e distúrbios do sono em crianças, segundo especialistas

Redação Publicado em 11/08/2025, às 06h00

Café para crianças? - pexels
Café para crianças? - pexels

Recentemente, um alerta emitido pela Sociedade Brasileira de Pediatria reacendeu a discussão sobre o consumo de cafeína por crianças. Casos de crianças americanas chegando a hospitais com taquicardia após ingerirem café ou refrigerantes com cafeína levantaram preocupações globais. No Brasil, embora o hábito seja cultural em muitas famílias, médicos pedem atenção para os riscos que vão além de uma simples noite mal dormida.

De acordo com a Dra. Cristina Herreira, médica pediatra com capacitação em Medicina do Sono pelo Instituto do Sono de São Paulo, não há benefícios no consumo de cafeína por crianças. “A cafeína é um estimulante do sistema nervoso central. Em crianças, que têm menor peso corporal e metabolismo diferente dos adultos, pequenas quantidades podem gerar efeitos significativos, como irritabilidade, agitação, taquicardia, refluxo e, principalmente, distúrbios do sono”, explica.

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Dados apresentados pela Sociedade Brasileira de Pediatria mostram que nos Estados Unidos, 14% das mães entrevistadas em um estudo permitiam que filhos de até 2 anos bebessem café diariamente. Mais grave ainda, 2,5% ofereciam a bebida a bebês menores de 1 ano. “É alarmante. As crianças não são pequenos adultos. Seu sistema neurológico ainda está em formação, e substâncias como a cafeína podem afetar diretamente seu desenvolvimento neurocognitivo e seu padrão de sono”, alerta a especialista.

A Academia Americana de Pediatria recomenda que crianças menores de 12 anos não consumam nenhum produto com cafeína, incluindo café, chá preto, chá mate, refrigerantes do tipo cola e bebidas energéticas. Adolescentes entre 12 e 18 anos devem limitar a ingestão a menos de 100 mg por dia, o equivalente a uma xícara pequena de café.

Para a Dra. Cristina Herreira, o impacto na qualidade do sono é um dos principais motivos de preocupação. “Sabemos que a cafeína prolonga o tempo que a criança leva para dormir, diminui o tempo total de sono e altera sua arquitetura, reduzindo a fase de sono profundo. Isso afeta memória, atenção, crescimento e regulação emocional”, afirma.

Pesquisas citadas pela sociedade médica mostram que o consumo diário de bebidas cafeinadas dobrou o risco de distúrbios do sono em crianças escolares. Em um estudo americano, 73% dos adolescentes consumiam mais de 100mg de cafeína por dia, principalmente à tarde, horário que interfere diretamente no descanso noturno.

A médica ressalta que o problema não está apenas no café. “Muitos pais não sabem, mas chocolates, refrigerantes de cola, chás escuros, chimarrão e energéticos também contêm cafeína. Uma lata de refrigerante cola, por exemplo, tem cerca de 35mg, o que já é significativo para uma criança pequena”, diz.

Além do sono ruim, a ingestão excessiva pode levar a arritmias cardíacas, aumento da pressão arterial e ansiedade. “É um ciclo perigoso. A criança fica mais cansada no dia seguinte por ter dormido mal, e, em alguns casos, pais oferecem novamente cafeína para que ela ‘desperte’, perpetuando o problema”, explica.

Questionada sobre a melhor opção, Dra. Cristina é categórica: “O ideal é que crianças não consumam cafeína. Para manter a energia e a atenção durante o dia, nada substitui uma boa alimentação, hidratação adequada e um sono de qualidade. Esses são os pilares para o desenvolvimento saudável”.

A especialista finaliza com um conselho aos pais: “Quando falamos de saúde infantil, é sempre melhor prevenir. Evitar cafeína desde cedo ajuda a criar um padrão de sono saudável e reduz riscos cardiovasculares e neurológicos no futuro”.