Construindo estratégias concretas para a sustentabilidade em meio a um mundo em mudança
Bianca Aichinger e Susana Azevedo* Publicado em 07/05/2024, às 06h00
Escutamos, no dia a dia, constantes notícias sobre desastres ambientais ou injustiça social. Neste contexto, a sigla ESG (em inglês: Meio ambiente, Social e Governança) aparece como a “solução” para vários dos problemas modernos e assim se torna uma “exigência” da sociedade.
O que se constata, no entanto, é que efetivamente não está muito claro o que este conjunto de letras significa ou representa, nem o motivo que o torna um dos eixos para a sustentabilidade de organizações e sociedade. Além disso, mesmo quando entendido, nem sempre fica fácil buscar formas de trazer os conceitos para a realidade. Percebemos frequentemente a dificuldade em criar e colocar em prática ações específicas, que tragam resultados e gerem o valor desejado.
Tentamos neste texto trazer maior clareza sobre estes temas de ESG, ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) e sustentabilidade, além de compartilhar uma possível forma sobre como organizações e suas equipes de liderança podem construir planos de desenvolvimento concretos para lidar com os desafios, atuais e futuros, a partir da matriz de objetivos temáticos universais ODS.
Acreditamos que, a partir desta clareza e de um exercício de integração do propósito da organização, sua visão de futuro, com o seu contexto de negócio e seus desafios, é possível expandir a consciência das lideranças sobre o impacto atual e as possibilidades reais de impacto futuro, moldando a estratégia e a cultura da organização.
A sigla ESG surgiu em 2004 e foi citada em um relatório da ONU produzido em conjunto por várias organizações financeiras internacionais a convite do então Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan. O objetivo do grupo era desenvolver uma série de diretrizes e recomendações sobre como integrar melhor as questões ambientais, sociais e de governança corporativa, na análise e gestão de ativos e serviços de corretagem de seguros, títulos e ações. Daqui já se pode identificar o significado de cada letra de ESG.
O Banco do Brasil foi uma das instituições que contribuiu e subscreveu o relatório. Curiosamente, o título do documento que trouxe a sigla ESG para a discussão pública era: “quem se preocupa, ganha”. O subtítulo se intitulava “Conectando os mercados financeiros a um mundo em mudança”.
As instituições estavam convencidas, a esta altura, que organizações que performassem melhor em ESG poderiam aumentar o valor para acionistas e partes interessadas, não só por meio de melhor gestão dos riscos e acesso a novos mercados e oportunidades, mas também pelo impacto na percepção de marca.
As instituições que a endossaram estavam convencidas de que uma melhor consideração dos fatores ambientais, sociais e de governança, em última instância, contribuiria para mercados de investimento mais fortes e resilientes, bem como contribuir para o desenvolvimento sustentável das sociedades. O mais recente relatório sobre o Futuro do Trabalho do Fórum Económico Mundial indica as principais 10 macrotendências para os próximos anos que irão afetar as estratégias das organizações:
Por tudo o que se lê e se escuta nas mídias sociais, percebemos que as causas ambientais e sociais, associadas à governança corporativa mais transparente e ética, estão entrando na agenda estratégica das organizações. Por questões financeiras e de gestão de riscos, e de percepção de marca e de gestão eficaz de talentos, a sustentabilidade das organizações passa também por ações concretas nos temas associados de ESG.
Acreditamos que organizações e líderes mais conscientes e preocupados em criar valor para o ecossistema em que atuam terão mais resultados no futuro, pois terão maior facilidade em atrair financiamento de investidores e clientes, assim como atrair e reter funcionários. Tal como é dito no lema do relatório, “quem se preocupa, ganha”.
E os ODS? Em 2000 a ONU estabeleceu as oito metas do milênio, com o apoio de 191 nações, que ficaram conhecidas como Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) para serem trabalhados até 2015.
Já os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), foram adotados pelos países-membros das Nações Unidas em 2015 como um apelo universal à ação para acabar com a pobreza, proteger o planeta e garantir que até 2030 todas as pessoas desfrutem de paz e prosperidade.
Os 17 ODS são integrados, no sentido de que a ação em uma área afetará os resultados em outras, e que o desenvolvimento deve equilibrar a sustentabilidade social, econômica e ambiental.
O resultado financeiro é um dos elementos da saúde e viabilidade de uma organização. Por outro lado, devido aos desafios complexos atuais e futuros, as organizações estão sendo “convidadas” ir além e a expandir, além de criar valor para acionistas (shareholders) para atender necessidade e criar valor para partes interessadas do ecossistema (stakeholders), internas e externas.
Nesse sentido, além de funcionários, clientes e concorrentes, surgem como partes interessadas menos óbvias fornecedores e parceiros, o ambiente, a sociedade e até as gerações futuras.
Os ODS são uma forma de tangibilizar objetivos concretos de ESG e de criação de valor para os diversos grupos interessados. Cada organização, pela natureza da sua atividade, tem a possibilidade de impactar em algum ou mais temas da matriz de ODS.
Qual é a questão que não quer calar? O que acontece se a organização não considerar os temas de ESG na sua visão, estratégia e até valores? Talvez esse seja o maior risco para a sustentabilidade dela.
* Bianca Aichinger e Susana Azevedo são ex-executivas, coaches e sócias-proprietárias da Quantum Development