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Distúrbios do sono e saúde mental: como estão conectados?

Entenda como noites mal dormidas impactam sua saúde mental e emocional, segundo especialistas em medicina do sono

Redação Publicado em 03/02/2025, às 06h00

Dormir bem é fundamental
Dormir bem é fundamental
Dormir bem é essencial para a saúde física e mental, mas para milhões de pessoas, noites mal dormidas são mais a regra do que a exceção. A relação entre os distúrbios do sono e a saúde mental tem sido amplamente estudada e é tema de crescente preocupação entre especialistas. Segundo a psicóloga e neuropsicóloga Dra. Ksdy Sousa, doutora e especialista em Medicina do Sono pela UNIFESP, os problemas relacionados ao sono não só são sintomas comuns de transtornos mentais, como também podem ser uma das causas principais.

Como o sono e a saúde mental estão conectados?

Dra. Ksdy explica que o sono é essencial para o equilíbrio emocional e cognitivo. Durante o sono, o cérebro processa emoções, consolida memórias e regula os níveis hormonais. “Quando o sono é interrompido ou insuficiente, essas funções são prejudicadas, levando a um aumento do estresse, piora do humor e redução da capacidade de lidar com desafios diários”, afirma.
A especialista aponta que distúrbios do sono, como insônia, apneia do sono, síndrome das pernas inquietas e sonambulismo, estão frequentemente associados a transtornos mentais, incluindo:
  • Ansiedade: Pessoas com insônia têm maior risco de desenvolver transtornos de ansiedade. A privação de sono pode amplificar pensamentos obsessivos e preocupações excessivas.
  • Depressão: A dificuldade em dormir ou dormir demais é um dos critérios diagnósticos da depressão. “O sono irregular pode agravar os sintomas depressivos, criando um ciclo difícil de romper, bem coml aumenta a ocorrência de ideação suicida em pacientes que apresentam depressão e insônia”, ressalta Dra. Ksdy.
  • Transtornos de humor: A interrupção do sono está diretamente ligada a variações extremas de humor, como ocorre no transtorno bipolar, piorando também a capacidade de tomada de decisão e regulação emocionais. 
  • Déficit cognitivo: A falta de sono prejudica a memória, a atenção e o desempenho mental, podendo levar a dificuldades no trabalho e na vida social.

Distúrbios do sono como causa e consequência

Os distúrbios do sono podem ser tanto a causa quanto a consequência de problemas de saúde mental. Dra. Ksdy esclarece que condições como insônia podem surgir de preocupações ou estresse, mas, ao mesmo tempo, a insônia crônica pode desencadear ou intensificar transtornos mentais.

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Outro exemplo é a apneia do sono, caracterizada por interrupções respiratórias durante a noite, que pode levar à irritabilidade, fadiga e sintomas depressivos. “Muitas vezes, esses pacientes são tratados apenas para a saúde mental, mas, se o distúrbio do sono não for abordado, o problema persiste”, alerta a especialista.

O impacto da privação de sono na saúde emocional

Além dos distúrbios clínicos, a privação de sono, mesmo em indivíduos saudáveis, tem impactos significativos na saúde mental. Dra. Ksdy aponta que noites mal dormidas afetam o sistema límbico, a região do cérebro responsável pelas emoções, tornando as pessoas mais reativas e menos capazes de regular suas emoções.

“A privação crônica de sono aumenta os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, e reduz a produção de serotonina, um neurotransmissor crucial para o bem-estar. Isso pode levar a um estado de maior vulnerabilidade emocional”, explica.

Como tratar a relação entre sono e saúde mental?

A abordagem para tratar distúrbios do sono relacionados à saúde mental deve ser multidisciplinar. Dra. Ksdy enfatiza que o primeiro passo é identificar a causa principal, seja ela um transtorno psicológico, físico ou comportamental.
Entre as estratégias mais eficazes estão:
  • Terapia Cognitivo-Comportamental para Insônia (TCC-I): Uma abordagem que ajuda a mudar padrões de pensamento e comportamento que interferem no sono, sendo considerada a primeira opção no tratamento da insônia crônica. 
  • Higiene do sono: Estabelecer uma rotina regular de sono, evitar estímulos antes de dormir e criar um ambiente propício para o descanso.
  • Tratamento médico: Em casos de apneia ou outros distúrbios físicos, tratamentos específicos, como CPAP (pressão positiva contínua nas vias aéreas), podem ser necessários e em alguns casos de insônia o uso de medicações pode ser indicado, principalmente se associado a algum quadro psiquiátrico. 
  • Acompanhamento psicológico: Tratar as causas emocionais subjacentes, como ansiedade ou depressão, é fundamental para uma recuperação completa.

Prevenção e cuidados

A especialista ressalta que o sono deve ser uma prioridade na rotina diária e que sinais de distúrbios não devem ser ignorados. “Tratar o sono não é apenas uma questão de melhorar o descanso; é investir na saúde mental, no equilíbrio emocional e na qualidade de vida”, conclui.