Mariana Kotscho
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Os sinais de um relacionamento: do encanto inicial ao reencontro com si mesmo

Psicóloga cognitivo-comportamental, Karine Brock, explica como reconhecer as fases emocionais de um relacionamento

Redação* Publicado em 18/11/2025, às 06h00

Aprenda a identificar os sinais que indicam que um relacionamento está afetando a saúde mental
Aprenda a identificar os sinais que indicam que um relacionamento está afetando a saúde mental

Relacionamentos passam por fases que afetam a saúde mental, e reconhecer sinais emocionais é crucial para evitar ciclos disfuncionais, segundo a psicóloga Karine Brock. A idealização inicial pode ocultar problemas, levando a ansiedade e controle disfarçado de cuidado.

O meio do relacionamento é um teste de realidade, onde a comunicação saudável fortalece o vínculo, enquanto agressões emocionais destroem a autoestima. Padrões de comportamento disfuncionais muitas vezes têm raízes na infância e podem ser reestruturados com terapia cognitivo-comportamental.

Encerrar um relacionamento abusivo é desafiador, pois a dependência emocional distorce a percepção da realidade. A reconstrução da identidade e a autonomia emocional são possíveis com técnicas de TCC, como escrita terapêutica e mindfulness, que promovem a reflexão sobre limites pessoais.

Resumo gerado por IA

No início, é paixão. No meio, convivência. E, no fim, muitas vezes, um reencontro doloroso com a própria verdade. Cada etapa de um relacionamento traz sinais emocionais que indicam se a relação está florescendo ou adoecendo e saber reconhecê-los é essencial para preservar a saúde mental e o amor-próprio. A psicóloga cognitivo-comportamental, Karine Brock, explica que compreender os comportamentos, sentimentos e pensamentos envolvidos em cada fase ajuda a interromper ciclos disfuncionais e construir relações mais saudáveis.

O início de um relacionamento, segundo a especialista, costuma ser guiado pela idealização. É o momento em que o olhar apaixonado, muitas vezes, impede a pessoa de enxergar a realidade com clareza. Para Karine, os primeiros alertas de que algo pode não estar bem costumam ser sutis, mas significativos. “A pessoa começa a sentir uma ansiedade constante, medo de desagradar, a sensação de estar pisando em ovos”, explica. “Ela deixa de ser espontânea, passa a se policiar em excesso para ser aceita e agradar o outro. Esses são sinais emocionais de alerta”.

Outro ponto que pode passar despercebido é o controle disfarçado de cuidado. Comentários como ‘não gosto dessa roupa’ ou ‘esse amigo não te faz bem’ parecem proteção, mas escondem comportamentos possessivos. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) ajuda o paciente a reconhecer esses sinais precoces e identificar crenças disfuncionais que podem alimentar vínculos de dependência. “O terapeuta auxilia a substituir pensamentos de idealização e normalização do abuso por percepções mais realistas, fortalecendo a autonomia emocional”, acrescenta a psicóloga.

Com o tempo, o encantamento inicial dá lugar à convivência — e é aí que o relacionamento é posto à prova. “O meio da relação é o teste da realidade”, resume Karine. Para ela, quando há diálogo, respeito e desejo de resolver os conflitos, o vínculo se fortalece. Mas, quando o diálogo dá lugar a ataques, silêncios punitivos e humilhações repetidas, entra-se em um ciclo de agressões emocionais. Segundo a especialista, conflitos saudáveis fortalecem o vínculo, enquanto as agressões emocionais destroem a autoestima e aumentam o medo.

A profissional atenta para o fato de que, no ciclo da agressão, não há aprendizado, há controle e dor.  É onde o outro deixa de ser parceiro e se torna uma ameaça emocional. A TCC entende que muitos desses padrões têm raízes na infância. “Quem cresceu em ambientes de rejeição ou instabilidade pode repetir inconscientemente essas dinâmicas na vida adulta. O papel da terapia é identificar e reestruturar esses esquemas emocionais, criando novas formas de se relacionar”, alerta.

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Encerrar um relacionamento, especialmente quando há abuso emocional, é uma das etapas mais desafiadoras. A negação e a esperança de mudança fazem com que muitas pessoas permaneçam presas a vínculos que já perderam o sentido. “É comum ouvir frases como ‘ele vai mudar’ ou ‘melhor com ele do que sozinha’. Esses pensamentos distorcem a percepção da realidade e alimentam a dependência emocional”, afirma Karine.

As consequências são profundas: baixa autoestima, ansiedade, sintomas depressivos e perda de identidade. “A pessoa se perde dela mesma. Passa a se definir pelo olhar do outro e já não sabe mais quem é fora da relação”. A reconstrução, explica a psicóloga, envolve reconexão com a própria identidade, um processo possível com o apoio da TCC. De acordo com ela, são utilizadas técnicas de reestruturação cognitiva, treino de habilidades sociais e práticas de autocuidado para resgatar a confiança e a autonomia emocional.

Entre as ferramentas indicadas estão a escrita terapêutica e o mindfulness, que ajudam o indivíduo a se perceber e refletir sobre seus limites. “Escrever o que se sente, observar o corpo e se perguntar: ‘estou me sentindo livre para ser quem eu sou?’ — isso pode transformar completamente a forma como alguém se relaciona”, conclui Karine Brock.

*Com edição de Marina Yazbek Dias Peres