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O Divórcio não é o fim, mas o recomeço - Será?

Diante dos relacionamentos interpessoais, estamos em uma fase difícil, e hoje, falaremos sobre o divórcio.

Caroline Oehlerick Serbaro* Publicado em 18/10/2023, às 06h00

O divórcio é a chance de um recomeço
O divórcio é a chance de um recomeço

Por um lado, nos deparamos com a superficialidade das relações-relâmpago, o vazio existencial e a banalização dos sentimentos, e por outro, a toxidade das relações trasbordando possessividade, violência e abuso em todos os níveis. Casos de assassinatos de mulheres e homens por ex-cônjuges motivados por vingança após o término tem, infelizmente, ilustrado os noticiários diariamente.

O divórcio é uma consequência do desgaste das relações e de uma série de outros fatores que levam as pessoas a sentirem infelicidade juntas, e geralmente é uma luz no fim do túnel daqueles que decidem recomeçar suas vidas após um período conturbado e um término. Ter consciência de que o divórcio não é o fim, mas o recomeço é ter clareza e discernimento acerca dos ciclos da vida e da nossa história. Histórias começam e terminam, pessoas vem e vão, mas nós permanecemos, por isso, cuidar de nós mesmos em primeiro lugar é a única forma de seguir adiante com sabedoria e integridade.

Contudo, alguns casos nos mostram que nem todos pensam dessa forma e o extremo sofrimento daqueles que não elaboraram seus sentimentos e afetos tem levado algumas pessoas a cometerem suicídio. Acreditamos que isso também aconteça em virtude da perda de identidade que ocorre durante os relacionamentos, e quando há uma ruptura, a pessoa que está desconectada e desidentificada dela mesma, não suporta a notícia do fim, pois não enxerga outras possibilidades de vida sem o outro e sem àquela relação.

Há uma corrente da psicanálise que defende que uma pessoa que comete o suicídio em casos de separação, tem o desejo de punir o outro, na medida em que exerce o controle da situação, imputando uma eterna sensação de culpa. Independente de teorias e correntes, o suicídio é um ato extremo de tristeza, angústia e insatisfação e toda sociedade precisa estar alerta aos sinais de pessoas próximas.

Não podemos julgar os outros e cada caso é um caso, mas precisamos urgentemente rever a forma de lidar com nossos conflitos – seja com o outro, seja com a gente mesmo.

Vivemos em um momento histórico marcado pelo egoísmo. As pessoas atualmente não aceitam ser contrariadas. Como dissemos acima, diante do término alguns decidem acabar com a vida do outro na tentativa de que sua insatisfação e contrariedade não produza efeitos. Esse traço egóico é a causa de todos os problemas no mundo e se o egoísmo fosse substituído pela fraternidade, certamente todos os problemas estariam no caminho de serem resolvidos, e isso inclui os problemas durante e após um divórcio.

Por isso, durante o processo de separação é imprescindível trabalhar o autoconhecimento, fazer terapia, ter uma rede de apoio e caso a pessoa não tenha condições de pagar uma terapia e não tenha pessoas próximas para conversar, é possível buscar ajuda em grupos de apoio como o CVV (Centro de Valorização da Vida) - pelo número nacional 188 - formado por voluntários que já ajudaram muitas pessoas em mais de 60 anos de trajetória.

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Além disso, olhar para os desafios como uma oportunidade de crescimento nos ajuda na medida em que essa consciência nos conecta ao desenvolvimento humano e valores essenciais como a empatia, o respeito e a gratidão. Apesar dos problemas, não devemos tratar o outro como inimigo, mas como alguém fez parte da nossa vida e que contribuiu para chegarmos até aqui.

Não temos controle do que acontece, mas temos controle sobre como lidar com o que nos acontece. Escolher tratar o divórcio com aceitação e maturidade é uma escolha sensata e saudável.

Recentemente fomos surpreendidos com a morte da ex-jogadora da Seleção Brasileira Feminina de vôlei e campeã olímpica Walewska Oliveira, de 43 anos, que teve a causa de sua morte revelada pela Secretaria de Segurança Pública: óbito por conta de uma queda da área de lazer do seu condomínio, que fica no topo do prédio em que morava. A polícia investiga a possibilidade de suicídio. Segundo boletim de ocorrência, a ex-atleta enviou uma mensagem para o marido falando sobre os problemas conjugais e a decisão dele de se divorciar após vinte anos de união, minutos antes da queda do 17* andar, onde subiu sozinha com uma garrafa de vinho, uma taça e uma folha de papel na qual ela teria escrito uma carta para família. Segundo depoimento do marido, o casal estava em crise há mais de quatro anos e Walewska já havia tentado suicídio outra vez e ele teria inclusive avisado ao pai dela.

Em nosso projeto @divorciandos falamos sobre como viver o divórcio com leveza. Isso não quer dizer que seja fácil, mas queremos mostrar para as pessoas que é possível através de uma postura de maturidade, empatia e inteligência emocional, que os impactos emocionais e jurídicos do divórcio sejam minimizados, além de facilitar o caminhar daqueles que se separam rumo à uma vida mais harmônica e pacífica.

A triste notícia dessa semana que parece estar intimamente ligada ao divórcio, nos consternou e motivou a falarmos sobre o que houve, como um alerta e uma forma de contribuir com as pessoas para que histórias com finais tristes como essa, não se repitam.

Por mais desafiador que seja passar por um divórcio, a fase difícil passará como tudo na vida, e temos que lembrar que um final de relação é só um final de um capítulo, mas não o fim da nossa história - que poderá ter muitos capítulos novos e felizes, se assim desejarmos.

*Caroline Oehlerick Serbaro é Advogada especialista em Direito de Família Sucessões com ênfase Interdisciplinar em Psicanálise e Solução de Conflitos, pós-graduada em Mediação, Conciliação e Justiça Restaurativa, estudante de Filosofia e Psicanálise, Head Direito de Família no escritório Afonso PaciléoSociedade de Advogados e 

Co-Criadora do Projeto @divorciandos