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O maternar: útero até coça

A mamãe Bruna Fonseca comenta sobre com o maternar pode ser uma oportunidade de autodesenvolvimento

Bruna Antinori Fonseca Publicado em 03/06/2023, às 12h00

Bruna Fonseca e sua família - Foto: arquivo pessoal
Bruna Fonseca e sua família - Foto: arquivo pessoal

Eu nunca imaginei que a decisão de mudar de emprego durante a minha segunda gestação pudesse causar tanta surpresa em amigos e familiares, assim como encorajar colegas de trabalho e amigas a também se tornarem mães. A chegada do meu filho Arthur, que em breve completará dois anos, foi um marco importante na minha vida, não somente pela razão óbvia que envolve a felicidade da chegada de um filho, mas pela grande oportunidade que tive na minha vida profissional no mesmo período. Depois de quatro anos trabalhando em uma empresa multinacional, decidi fazer uma movimentação de carreira e buscar uma posição gerencial no mercado. Entre uma entrevista e outra, eu e o João, meu marido, nos descobrimos grávidos novamente. À época, minha primeira filha, a Lorena, tinha pouco mais de dois anos, estávamos em plena pandemia, e não é que fui contratada com um barrigão de sete meses?!

Apesar do meu histórico anterior, esta seria uma posição desafiadora, já que iria liderar uma área e não tinha toda a experiência que imaginava ser necessária, e ainda considerando que haveria o parto e a licença maternidade pela frente. Cheguei a pensar em renunciar dois meses da maternidade solidária, que é de seis. Mas caí em mim e percebi que estava me auto sabotando, pois, afinal de contas, esse era um direito não só meu, mas do meu filho. E ainda, a minha “nova casa” tinha me deixado completamente segura para viver aquele momento.

Este evento tão comum na vida de muitas famílias acaba ganhando contornos de excepcionalidade e traz luz para uma discussão ainda atual e necessária em pleno 2023: a mulher no ambiente profissional. Investi muito na minha carreira e no contínuo desenvolvimento. Me formei fisioterapeuta, por mais de 10 anos cliniquei, fiz especialização, mestrado e doutorado em neurologia e sempre conciliei essas responsabilidades com meus momentos em família.

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Prazer, sou uma mulher de 38 anos, apaixonada pelo João desde os tempos de faculdade, mãe da Lorena e do Arthur, filha, amiga e gerente, médica da Biogen, e tenho como propósito de vida ajudar pessoas dentro de suas condições de saúde a viverem melhor. Tudo isso reside em mim sem esse conceito binário de vida profissional e pessoal. E a maternidade tem e sempre terá espaço nesse pacote chamado Bruna.

Quando retornei ao trabalho, fui muito bem recebida, e assim, como depois da primeira gravidez, voltei com bastante energia para realizar coisas. Eu sou apaixonada pelo meu trabalho, pois acredito que ele faz diferença para milhares de pessoas. E este é o argumento principal ao falar com a Lorena porque tenho de sair de casa. Amo cuidar dos meus filhos e amo meu trabalho. Não existe um ‘mas’.

Eu acredito fortemente que maternar é uma oportunidade de autodesenvolvimento, pois incorporamos ou aprimoramos habilidades, como empatia, respeito, paciência e aprendermos a gerenciar melhor o nosso tempo, que são tão fundamentais no ambiente corporativo. Entretanto, o mercado ainda nos vê de uma certa forma míope. Não são poucos os questionamentos a partir de uma cultura que a mulher tem mais responsabilidade na criação dos filhos. E partir disso, surge outro relevante ponto que é compartilhar as responsabilidades com o parceiro/a. No fim do dia, fazendo reuniões em meio a bonecas e amamentando, percebi que somos capazes de executar funções como qualquer profissional que não tem filhos. E ao contar minha história, me divirto ao ouvir minhas amigas dizerem, “o útero até coça”.