Estudos mostram que mães desenvolvem com a maternidade é a chave para competências como resiliência e comunicação, fundamentais para o sucesso profissional
Rafaela Furlan* Publicado em 05/05/2025, às 06h00
Em um mundo em constante evolução, que demanda cada vez mais adaptabilidade, produtividade e profissionais com a inteligência emocional altamente desenvolvida, não podemos ignorar uma das maiores e mais antigas escolas de desenvolvimento de habilidades: a maternidade.
Segundo dados recentes, 89% dos recrutadores associam contratações malsucedidas à ausência de competências comportamentais — e essa estatística continua a crescer. O relatório mais recente do World Economic Forum reforça essa tendência, destacando que as competências mais valorizadas até 2030 serão predominantemente comportamentais: pensamento crítico, inteligência emocional, resiliência, comunicação eficaz, liderança e influência social.Estas são, coincidentemente (ou não), competências que ser mãe desenvolve de forma orgânica, no dia a dia, na imprevisibilidade.
Vamos começar com a adaptabilidade: cada criança nasce com uma personalidade diferente e criar e educar as futuras gerações não vem com manual a prova de falhas. Nesse cenário de improviso, cansaço e amor onde erros são inevitáveis, precisamos improvisar e aprender constantemente.
Ser mãe também faz com que nossa inteligência emocional seja constantemente colocada a prova. Como se culpar menos e seguir em frente? Sem essa habilidade, certamente desistiríamos nas primeiras tentativas. Mas essa opção não existe na maternidade.
Quando aceitamos isso retomando as rédeas da nossa saúde mental, as coisas começam a se encaixar. Conseguimos então raciocinar de uma forma mais clara, e entra em cena o pensamento crítico tão essencial de uma mãe para antecipar e planejar cada movimento na casa e tomar decisões em contextos multifatoriais, onde os tempos e movimentos da casa viram de cabeça para baixo com a chegada de mais um membro na família.
Haja flexibilidade cognitiva para orquestrar os horários do dia, a logística do leva e traz em meio aos seus compromissos, planos do final de semana e, claro, tudo isso mantendo o seu precioso tempo para você (tentar) se cuidar e lembrar de quem era antes de ser mãe.
E quando nada sai como planejado? A criança não dorme na hora prevista, acorda bemdisposta mas às 10h ligam da escola para falar de uma febre súbita de 40º, a fralda vaza na sua roupa de trabalho, acontece um episódio de birra no meio do supermercado. São tantos os imprevistos e haja equilíbrio para manter os pratinhos sempre em movimento.
É aí que entra em cena uma criatividade que beira ao extraordinário e que torna as mães espécies extremamente potentes: elas encontram soluções em tempo real, com os recursos disponíveis no momento, fazendo isso um hábito de inovação contínua. Acreditem, antes de ser mãe eu não tinha noção da minha capacidade criativa e de resolução de problemas.
Apesar do vasto leque de competências desenvolvidas, o mercado de trabalho ainda impõe barreiras significativas. De acordo com a Movimento Mulher 360, associação que promove a equidade de gênero e aumenta a participação das mulheres no ambiente corporativo, mães têm 20% menos probabilidade de estarem empregadas do que os pais, e recebem, em média, 24% menos que os homens. A situação é ainda mais desafiadora para mães solo: 29,4% estão fora da força de trabalho, e 7,2% encontram-se desempregadas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Economia da FGV.
Da próxima vez que entrevistar uma mãe e perceber um hiato explicado pela maternidade, veja além da pausa. O que muitos ainda veem como um intervalo, na verdade, é um período de intenso desenvolvimento de competências, vitais para o futuro do trabalho.
Enxergue a potência, a líder humana e empática, a estrategista com visão do todo, a inabalável e resiliente solucionadora de problemas.
Ao contratar uma mãe, você não está apenas preenchendo uma vaga — está trazendo para dentro da sua organização uma fonte de altíssimo valor, multiplicadora de resiliência e inteligência emocional em sua forma mais genuína. O futuro do trabalho agradece.
*Rafaela Furlan é mãe e sócia-fundadora da IKME, empresa de treinamentos corporativos. Graduada em Administração de Empresas, Pós-graduada em Marketing e formada em Inovação Disruptiva pela Harvard Business School. Também é autora do livro infantil O Polvo das Pernas Coloridas e tem dado palestras sobre a importância do desenvolvimento das soft skills para o público infantil, em idade escolar.