Ensinar as crianças a valorizar experiências, ao invés de bens materiais, o consumo, ajuda a formar adultos mais conscientes e financeiramente equilibrados
Thiago Godoy * Publicado em 12/10/2024, às 08h00
Você já parou para pensar como o consumo excessivo afeta nossas crianças? Hoje, mais do que nunca, as crianças estão expostas a um mar de publicidade e produtos. Desde cedo, elas têm contato com mensagens que associam felicidade e sucesso a bens materiais. E nós, como pais e educadores, temos a responsabilidade de guiá-las.
A infância é um período crucial para o desenvolvimento da relação com o consumo. É durante essa fase que as crianças começam a formar suas primeiras percepções sobre dinheiro, o valor das coisas e o que realmente importa na vida.
Um estudo feito pela Universidade de Cambridge mostrou que até os 7 anos, as crianças já estabelecem grande parte de seus hábitos financeiros. Portanto, ensinar desde cedo o valor do dinheiro e como gerenciá-lo pode influenciar positivamente a maneira como lidam com suas finanças na vida adulta, criando uma base mais sólida para decisões financeiras futuras.
Uma das maneiras mais eficazes de evitar que as crianças se tornem materialistas é promover uma educação financeira desde cedo. Não estamos falando de lições complexas sobre economia, mas de ensinar conceitos simples como o valor do trabalho, o preço das coisas e a importância de economizar. Isso pode ser feito de forma lúdica e natural, como usar mesadas para ensinar responsabilidade ou mostrar como pequenas economias podem se transformar em grandes conquistas.
Também devemos tomar cuidado com o excesso de presentes. Quantas vezes você comprou algo para o seu filho para compensar alguma falta? O problema disso é que, quando o consumo vira uma resposta automática, a criança pode começar a associar afeto e felicidade com bens materiais.
Uma estratégia poderosa para combater o materialismo é ensinar a importância de dividir. Incentivar as crianças a doar brinquedos ou roupas que não usam mais é uma ótima maneira de mostrar que o valor de um objeto pode ir além do seu uso individual. Isso também ajuda a criar empatia e a desenvolver a ideia de que existem outras formas de dar e receber, que não passam necessariamente pelo consumo.
Crianças aprendem muito mais com o que veem do que com o que ouvem. Se, como pais, mostramos uma postura de consumo consciente, focada no essencial e com valores claros, nossos filhos vão seguir o exemplo. Ter conversas abertas sobre como decidimos gastar o dinheiro, o que vale ou não a pena comprar, e priorizar experiências em vez de produtos, pode fazer uma grande diferença.
Os pais também devem incentivar atividades que não dependem de produtos caros ou de tecnologia, como brincadeiras criativas, passeios ao ar livre, jogos de imaginação e até atividades manuais podem nutrir a mente de forma muito mais profunda do que o último brinquedo da moda. Essas experiências também ajudam a desenvolver habilidades emocionais, sociais e cognitivas, essenciais para o crescimento saudável da criança.
Evitar o materialismo nas crianças não é apenas proteger o bolso dos pais, é também cultivar valores que vão acompanhá-las por toda a vida. Ao ensinar que o valor das coisas vai muito além do preço, estamos preparando nossos filhos para serem adultos equilibrados, conscientes e menos suscetíveis ao consumismo desenfreado. No fim, a maior lição que podemos deixar é que os momentos de qualidade, o amor e as experiências compartilhadas são os verdadeiros "presentes" da vida.
*Thiago Godoy é mestre pela FGV, onde estudou 400 famílias endividadas para entender as origens comportamentais e emocionais do desequilíbrio financeiro. Ele também é autor do best-seller “Emoções Financeiras”, palestrante duas vezes do TEDx e colunista no portal InfoMoney e na revista Vida Simples. Com 10 anos de experiência na área, foi Head da XP por 4 anos e liderou a Mobilização de Recursos e Relações Governamentais na Associação de Educação Financeira.