Falar sobre saúde mental materna no Setembro Amarelo é romper o silêncio, combater o julgamento e mostrar que buscar ajuda não é fraqueza, é saúde
Redação Publicado em 24/09/2025, às 06h00
O Setembro Amarelo nos lembra da urgência de falar sobre saúde mental e prevenção do suicídio. Nesse contexto, há uma realidade pouco discutida: a das mães que sofrem em silêncio. Muitas mulheres escondem sinais de adoecimento emocional por medo de julgamento, sustentadas pela crença de que ser mãe deve ser apenas sinônimo de felicidade. Esse silêncio, no entanto, pode custar caro.
A maternidade ainda é cercada de idealizações. Espera-se que a mulher seja paciente, realizada, disponível e sempre amorosa. Quando surgem tristeza, cansaço extremo, irritabilidade ou sensação de incapacidade, muitas mães acreditam estar falhando. Para evitar críticas, escondem o que sentem — mesmo de familiares próximos.
“O sofrimento materno não é sinal de fraqueza, mas de sobrecarga e, muitas vezes, de um adoecimento que precisa ser acolhido e tratado como qualquer outra condição de saúde.”, explica a Dra. Luana Carvalho, médica com foco em saúde mental materna.
É importante diferenciar o baby blues, que atinge até 80% das mães nos primeiros dias após o parto, da depressão pós-parto. O baby blues é passageiro, marcado por sensibilidade emocional e choro fácil, desaparecendo em até duas semanas.
Já a depressão perinatal — que pode começar na gestação ou após o parto — é persistente e debilitante. Envolve tristeza profunda, perda de interesse, dificuldade de vínculo com o bebê e, em alguns casos, pensamentos de morte. Estudos indicam que entre 10% e 20% das mulheres podem desenvolver esse quadro, tornando-o uma das complicações mais comuns do período.
O medo do julgamento faz com que muitas mulheres não procurem ajuda. Essa demora no diagnóstico e tratamento agrava o quadro e pode colocar a vida em risco. Em países de alta renda, por exemplo, o suicídio materno já aparece entre as principais causas de morte no primeiro ano após o nascimento do bebê.
Além disso, o impacto é intergeracional: filhos de mães que não recebem tratamento adequado têm maior risco de atrasos no desenvolvimento emocional e cognitivo.
O primeiro passo é romper o silêncio. Buscar atendimento médico e psicoterapia não diminui a mãe, pelo contrário: fortalece sua capacidade de cuidar de si e de seu bebê. O apoio familiar e comunitário também é decisivo, reduzindo a sensação de isolamento.
Políticas públicas que garantam acesso a serviços de saúde mental desde o pré-natal e redes de apoio mais estruturadas podem salvar vidas.
O Setembro Amarelo nos convida a olhar para além dos números e enxergar histórias reais. Cuidar da saúde mental materna é cuidar do futuro das famílias e da sociedade.
“Não é fraqueza, é saúde. Quando uma mãe recebe acolhimento, ela encontra forças para viver e ensinar seus filhos que pedir ajuda é um ato de coragem, nunca de vergonha.”
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