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Psicologia Perinatal e a saúde mental materna

A Psicologia Perinatal é uma necessidade urgente para a saúde mental materna

Rafaela Schiavo* Publicado em 16/06/2024, às 11h56

A maternidade é complexa e desafiadora, exigindo mais apoio psicológico especializado para garantir o bem-estar de mães e bebês
A maternidade é complexa e desafiadora, exigindo mais apoio psicológico especializado para garantir o bem-estar de mães e bebês

Quando falamos sobre maternidade, muitas vezes focamos na alegria do nascimento e na criação dos filhos. No entanto, a jornada da maternidade é complexa e cheia de desafios emocionais. A sociedade tende a romantizar a maternidade, acreditando que toda mulher grávida ou mãe está plena e feliz. Essa visão idealizada pode ser prejudicial, pois muitas mulheres não se veem nesse papel romântico e acabam se sentindo isoladas em seus sentimentos negativos. A saúde mental materna precisa de atenção urgente.

A Lei 14.721, que garante assistência psicológica pelo Sistema Único de Saúde (SUS), trouxe um avanço significativo. Porém, ainda há um grande desafio: a falta de profissionais especializados em psicologia perinatal para atender à crescente demanda. Como psicóloga perinatal, vejo de perto as dificuldades que gestantes e puérperas enfrentam diariamente. Minha trajetória nessa área começou na graduação e, desde então, minha paixão pela saúde mental materna tem guiado minha carreira.

A psicologia perinatal é essencial para a saúde mental das gestantes e puérperas, abordando problemas como ansiedade, depressão e estresse. Cuidar da saúde mental das grávidas também significa cuidar da saúde mental do bebê. Mais de 30% dos bebês brasileiros apresentam atrasos no desenvolvimento antes de completar um ano, muitas vezes associados à saúde das mães. A ansiedade gestacional, por exemplo, está associada a riscos como parto prematuro e baixo peso ao nascer. Sem psicólogos perinatais suficientes, muitas mulheres não recebem o suporte necessário.

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Estudos indicam que cerca de 25% das gestantes são diagnosticadas com sintomas de depressão durante a gravidez, e aproximadamente 35% sofrem de ansiedade significativa. Esses números destacam a necessidade de intervenções eficazes para reduzir os efeitos negativos na saúde da mãe e no desenvolvimento do feto. Embora o Brasil conte com mais de 519 mil psicólogos, apenas uma pequena fração possui especialização em psicologia perinatal.

A psicologia perinatal envolve o estudo dos fenômenos psicológicos relacionados ao nascimento, incluindo gestação, parto e pós-parto. Também abrange a transição para a parentalidade, práticas educativas, adoção e teoria do apego. Menos de 0,5% dos psicólogos no país estão diretamente envolvidos com essa demanda, um número extremamente baixo considerando a importância da área para prevenir problemas de saúde mental e transformar a realidade dessas famílias.

Entre os principais desafios enfrentados pelas mulheres estão gestações não planejadas, luto perinatal, ansiedade, depressão e dificuldade de criar vínculo com o bebê. A violência psicológica também é uma forma séria de agressão. Manipulação psicológica, controle excessivo e palavras cruéis podem ser devastadores, especialmente durante a gravidez e o puerpério. Mulheres enfrentam cicatrizes emocionais que podem durar a vida inteira.

É fundamental que compreendamos a importância da saúde mental materna e desconstruamos a romantização da maternidade. O apoio social é fundamental, e a criação de uma rede de suporte para as mães é indispensável para enfrentar os desafios da maternidade.

Para garantir o acesso ao atendimento psicológico especializado, é preciso que as gestantes estejam bem informadas sobre seus direitos. Buscar orientação com os obstetras para obter indicações de psicólogos perinatais e locais de atendimento é fundamental. Participar de grupos de apoio pode proporcionar um espaço valioso para compartilhar experiências e obter suporte emocional. Priorizar o autocuidado e manter-se informada sobre os sinais de depressão e ansiedade são passos essenciais.

A urgência de aumentar o número de psicólogos perinatais é evidente. Sem eles, muitas mulheres continuarão desamparadas em um momento tão delicado. Investir na formação desses profissionais é investir no bem-estar de mães e bebês, prevenindo problemas de saúde mental e promovendo uma maternidade mais saudável e feliz.

*Rafaela Schiavo é psicóloga perinatal e fundadora do Instituto MaterOnline. Desde sua formação inicial, dedica-se à saúde mental materna, sendo autora de centenas de trabalhos científicos com o objetivo de reduzir as elevadas taxas de alterações emocionais maternas no Brasil.