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Efeito Dezembro: por que não é a ceia que faz a gente engordar

Saiba como pequenas mudanças na rotina podem fazer a diferença na sua saúde neste período festivo de dezembro

Jacqueline Thedim* Publicado em 11/12/2025, às 06h00

Mesa com comidas de ceia de Natal
"Ninguém engorda por causa de uma ceia. As pessoas chegam à ceia já desorganizadas" - Jacqueline Thedim, nutricionista - Foto: Canva Pro

Durante o fim de ano, muitas mulheres enfrentam estresse emocional que afeta sua saúde física, levando a preocupações com a alimentação nas festas. O acúmulo de responsabilidades e expectativas em dezembro resulta em hábitos alimentares desregulados e aumento do cortisol, que estimula o apetite por alimentos calóricos.

O estresse prolongado e a falta de sono desregulam hormônios da saciedade, fazendo com que as pessoas sintam mais fome. A abordagem sugerida é observar padrões de comportamento e fazer pequenos ajustes na rotina alimentar, como aumentar a ingestão de água e respeitar horários de refeições.

A orientação é que o foco não deve ser a proibição de alimentos nas festas, mas sim a consciência ao comer. Para mulheres com doenças autoimunes, é crucial fazer escolhas alimentares conscientes para evitar a exacerbação dos sintomas, sem se excluir das celebrações.

Resumo gerado por IA

Todo fim de ano parece seguir o mesmo roteiro. Antes mesmo de chegar o Natal, muitas mulheres já estão preocupadas com a balança em janeiro. A ceia vira uma ameaça, as confraternizações causam ansiedade e o discurso começa sempre igual: “vou enfiar o pé na jaca e depois eu resolvo”.

Mas, ao longo dos meus atendimentos, percebo que o problema raramente é a ceia em si. O que realmente desorganiza o corpo é o esgotamento emocional acumulado em dezembro.

Essa é uma época em que as mulheres costumam estar sobrecarregadas: encerrando ciclos, lidando com prêmios, frustrações, comparações, compras, filhos em férias, viagens, finanças, expectativa de um ano melhor. E tudo isso impacta diretamente o corpo. Dormimos menos, bebemos menos água, nos movimentamos menos e comemos em horários completamente irregulares.

O organismo sente. E responde.

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Quando o estresse se prolonga, aumenta a liberação de cortisol, um hormônio que estimula o apetite, principalmente por alimentos mais calóricos e ricos em açúcar. Ao mesmo tempo, noites mal dormidas desregulam os hormônios da saciedade, fazendo com que a gente sinta mais fome, mesmo sem precisar de tanta energia. Não é falta de força de vontade — é fisiologia.

Por isso eu gosto de dizer: ninguém engorda por causa de uma ceia. As pessoas chegam à ceia já desorganizadas.

E é justamente por isso que dezembro não deveria ser visto como um mês perdido. Pelo contrário. Ele é um laboratório. Um período em que podemos observar nossos padrões, perceber onde estamos exagerando, onde estamos nos negligenciando e o que pode ser ajustado de forma mais consciente.

Antes de pensar em dieta para janeiro, eu sempre oriento minhas pacientes a olhar para o básico agora: beber mais água, incluir uma boa fonte de proteína em pelo menos duas refeições do dia, tentar respeitar horários para comer e evitar jejuns prolongados que, na prática, só levam a exageros à noite. Pequenos ajustes, mas com impacto real.

Também costumo reforçar algo importante: uma noite não define o corpo de ninguém. O que impacta o peso e a inflamação são semanas e meses de desorganização. Por isso, nas festas, o foco não é proibir, e sim comer com presença. Escolher o que faz sentido, saborear, não comer no automático, não transformar a comida em culpa.

A Ana, de 39 anos, chegou dizendo que sempre “perdia o controle” em dezembro. Quando começamos a ajustar sua rotina antes das festas, tudo mudou. “Foi o primeiro fim de ano em que consegui aproveitar sem exagerar e sem me culpar”, ela me contou.

O cuidado com o corpo não combina com punição.

E o final do ano não precisa ser uma guerra contra a comida — pode ser um convite à consciência.

Para mulheres com doenças autoimunes, como tireoidite de Hashimoto, psoríase, artrite ou lipedema, esse cuidado é ainda mais importante. O excesso de estresse, álcool, açúcar e sono ruim tende a aumentar processos inflamatórios e piorar sintomas. Mas isso não significa se excluir das celebrações — significa fazer escolhas mais conscientes e respeitar os próprios limites.

* Jacqueline Thedim é nutricionista especialista em Desinflamação e Emagrecimento

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