Reconhecer os sinais de engasgo e agir rapidamente é fundamental para evitar complicações graves em crianças e adultos
Redação Publicado em 12/09/2025, às 06h00
O engasgo é um acidente comum, mas que pode se tornar fatal em questão de segundos se não houver intervenção imediata. Ele acontece quando um objeto ou alimento bloqueia parcial ou totalmente as vias respiratórias, impedindo a passagem de ar para os pulmões. Saber identificar os sinais e aplicar as manobras corretas de desengasgo pode fazer a diferença entre a vida e a morte.
Segundo especialistas, o grupo mais vulnerável é o das crianças pequenas, especialmente entre seis meses e quatro anos, fase em que exploram o mundo levando objetos à boca. No entanto, os riscos não se limitam à infância. Adultos e idosos também podem se engasgar, seja durante uma refeição, seja em situações de saúde que comprometam a deglutição.
A médica pediatra Ana Carolina Viegas, especializada em saúde da família pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), pós-graduada em Emergências Pediátricas pelo Hospital Albert Einstein e com residência em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Instituto Fernandes Figueira, reforça a importância da informação e da agilidade nesses momentos. “O engasgo é uma situação que gera desespero, mas é preciso manter a calma e agir com rapidez. A cada minuto de falta de oxigênio, aumentam os riscos de sequelasneurológicas irreversíveis. Por isso, reconhecer os sinais e aplicar as manobras corretas é fundamental”, explica.
Os sinais de engasgo podem variar de acordo com a gravidade. Quando a obstrução é parcial, a pessoa ainda consegue tossir, falar ou respirar, mesmo com dificuldade. Já no caso de obstrução total, há incapacidade de emitir sons, respiração bloqueada, pele arroxeada e gestos desesperados de levar as mãos à garganta. Nesse caso, a intervenção deve ser imediata.
Para bebês menores de um ano, a orientação é posicionar a criança de bruços sobre o braço, com a cabeça ligeiramente mais baixa que o tronco, e aplicar cinco tapas firmes nas costas, entre as escápulas. Se o objeto não for expelido, devem ser realizadas cinco compressões no tórax, no centro do peito, alternando as duas manobras até que a via aérea seja liberada. “Muitos pais ficam inseguros de realizar os movimentos por medo de machucar o bebê, mas é importante entender que a demora pode ser muito mais perigosa do que a força aplicada corretamente”, esclarece Ana Carolina Viegas.
No caso de crianças maiores e adultos, a recomendação é a manobra de Heimlich, que consiste em abraçar a vítima por trás, posicionar uma das mãos fechada logo acima do umbigo e pressionar para dentro e para cima de forma rápida e vigorosa, repetindo o movimento até que o objeto seja expelido. Se a pessoa perder a consciência, deve-se iniciar imediatamente a reanimação cardiopulmonar (RCP) e acionar o serviço de emergência. “A manobra de Heimlich é simples e pode salvar vidas. O mais importante é que as pessoas saibam como fazer e não hesitem em aplicar diante de uma situação de risco”, orienta a especialista.
Além do aprendizado das manobras, a prevenção é uma das formas mais eficazes de reduzir os acidentes. Isso inclui evitar oferecer alimentos de risco para crianças pequenas, como uvas inteiras, pipoca, castanhas e pedaços grandes de carne, além de manter objetos pequenos fora do alcance. Para idosos, cuidados como a adaptação da consistência dos alimentos e o acompanhamento de distúrbios de deglutição também são recomendados.
A pediatra ressalta que a disseminação de conhecimento é essencial. Cursos básicos de primeiros socorros em escolas, empresas e comunidades podem preparar a população para agir em situações emergenciais. “Não é apenas responsabilidade dos profissionais de saúde. Qualquer pessoa pode ser um socorrista em potencial e evitar uma tragédia. Quanto mais pessoas souberem o que fazer, maiores são as chances de salvar vidas”, afirma Ana CarolinaViegas.
O engasgo pode acontecer em qualquer lugar e a qualquer momento, mas a informação e a prontidão podem mudar o desfecho da história. Entender que segundos fazem a diferença é o primeiro passo para agir com segurança e eficácia. Como conclui a médica, “o tempo é crucial. Saber o que fazer em situações de engasgo pode transformar uma emergência em um episódio superado, sem consequências graves para a vítima”.