Entenda como a menopausa aumenta o risco de infarto entre mulheres e a importância da prevenção e acompanhamento médico
Fernanda Torras* Publicado em 13/05/2025, às 06h00
As doenças cardiovasculares continuam sendo a principal causa de morte no mundo, e o que mais me preocupa é que cada vez mais mulheres são impactadas por esse cenário. Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, entre 1990 e 2019, o número de mortes por infarto entre mulheres aumentou 62%. E o dado mais alarmante: o crescimento mais expressivo ocorreu justamente na menopausa, com um aumento de 176% nos infartos entre mulheres de 50 a 69 anos.
Durante a fase reprodutiva, o estrogênio — hormônio feminino produzido pelos ovários — exerce uma importante ação protetora sobre o sistema cardiovascular. Ele ajuda a manter os vasos sanguíneos mais elásticos, contribui para o controle do colesterol, reduz processos inflamatórios e tem um papel relevante na saúde do coração. Por isso, antes da menopausa, as mulheres costumam ter um risco de infarto muito menor do que os homens.
Com a chegada da menopausa e a queda dos níveis de estrogênio, essa proteção hormonal é perdida. A partir dos 50 anos, a incidência de infarto entre mulheres e homens se iguala, sendo o infarto mais legal na população feminina.
Por isso, consideramos a menopausa um fator de risco cardiovascular, especialmente se associada a outros elementos que costumam aparecer ou se intensificar nessa fase da vida.
Entre os fatores de risco mais frequentes, estão: obesidade, sedentarismo, hipertensão arterial, colesterol alto, tabagismo, estresse crônico e diabetes.
Muitos desses problemas aparecem com mais força justamente durante o climatério, uma fase marcada por mudanças físicas, metabólicas, emocionais e sociais. A mulher, além de lidar com os sintomas da menopausa e as alterações hormonais, muitas vezes está no auge das responsabilidades familiares e profissionais, o que aumenta ainda mais a sobrecarga de estresse e a exposição ao risco.
O perfil de maior vulnerabilidade é o da mulher que já apresenta alguma dessas comorbidades — como histórico familiar de infarto precoce, pressão alta, resistência à insulina, hábitos sedentários, alimentação inflamatória e tabagismo. Quando somamos a perda da proteção hormonal a todos esses fatores, temos um cenário crítico para a saúde cardiovascular feminina.
A boa notícia é que existe prevenção. O primeiro passo é fazer um acompanhamento médico individualizado. A avaliação clínica deve incluir exame clínico e cardiológico, exames laboratoriais, análise do perfil metabólico, histórico familiar e investigação dos sintomas típicos da menopausa. Com base nesse quadro, conseguimos traçar um plano de cuidado eficaz.
Esse plano precisa envolver o controle da pressão arterial, colesterol e glicemia, incentivo a cessar o tabagismo, prática regular de atividade física, mudança nos hábitos alimentares, controle hormonal e metabólico, assim como acompanhamento psicológico . Quando indicada e bem monitorada, a terapia de reposição hormonal pode ser uma aliada importante. Iniciada precocemente, nos primeiros anos da menopausa, ela pode ajudar a reduzir o risco de eventos cardiovasculares e melhorar a qualidade de vida, por ser capaz de reduzir os fatores de risco que levam ao infarto.
Mas é preciso cuidado. Nem toda mulher é candidata à reposição hormonal. Em casos de histórico de infarto, trombose ou outras contraindicações clínicas, a reposição pode ser prejudicial. Por isso, a indicação deve ser feita com critério, sempre por um especialista.
É importante lembrar que o infarto feminino nem sempre se manifesta com os mesmos sinais clássicos dos homens. Em vez da dor no peito intensa, muitas mulheres sentem cansaço extremo, dor nas costas, náusea, palpitações ou falta de ar. Reconhecer esses sinais é essencial. E mais do que isso: precisamos quebrar o silêncio que ainda existe em torno da saúde cardiovascular da mulher. O coração feminino precisa de atenção, escuta e cuidado — principalmente após os 40 anos.
*Fernanda Torras é ginecologista