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O perigo da ignorância histórica e o pedido da volta da ditadura militar no Brasil

Análise das manifestações por intervenção militar e a falta de conhecimento histórico no Brasil atual sobre a ditadura

Patrícia Alves* Publicado em 28/03/2025, às 10h00

A jornalista Patricia Alves - Foto: Priscila Prade
A jornalista Patricia Alves - Foto: Priscila Prade

Assisto estarrecida, todos os dias, a manifestações pedindo intervenção militar, volta do AI-5 e todo o tipo de retrocesso que nunca pensei assistir em 2025. Em meio a tempos tão sombrios e prestes a presenciar mais uma eleição no país, me assusto com a falta de conhecimento histórico que ronda a maior parte da população brasileira.

Recebi das mãos da colega Sheila Santos uma obra fruto de anos de estudo e imersão no tempo mais tenebroso que este país já viveu.
Durante a execução de seu primoroso trabalho, a jornalista, professora e pesquisadora, presenciou estarrecida jovens se retirarem de suas aulas dizendo que a ditadura militar nunca existiu ou que "não foi bem assim''.

A luta em tempos de democracia: Lamarca, Marighella e os crimes sem perdão da ditadura militar é lançada no momento em que mais precisamos revisitar o hábito da leitura, completamente esquecida quando um governo propõe sobretaxar livros e liberar armas.

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O país que cortou todas as verbas dos pesquisadores precisa entender, definitivamente, que a história foi muito pior do que nós - que não vivemos- poderemos um dia imaginar.

Artistas torturados, jornalistas mortos brutalmente, professores que escondiam livros em suas casas por conta de conteúdos considerados "subversivos." Mulheres estupradas e todo tipo de tortura física, psíquica e moral.

Famílias inteiras devastadas para que, em pleno 2021, um jovem ostente a camiseta de um torturador?


Onde nos perdemos?

Não me venham com discursos de ódio ou alusões a partidos de esquerda ou gritos infantis de "petralha".

Vamos dialogar, respeitar as diferenças e, mais do que isso: jamais colocar em risco a democracia ou a liberdade de imprensa, conquistada através de tanta luta e sangue derramado.

Para os que acham que na época da ditadura tivemos um crescimento econômico, lhes faltam informações importantes. A abertura de universidades e o desenvolvimento teve um alto custo e enorme endividamento. Pouca gente sabe, mas foram emitidos 17 atos institucionais, que legitimavam o poder da ditadura.

Eles criaram uma visão e a garantia de que o que acontecia era normal, ampliando os poderes do Executivo, que fazia o que bem entendia. Em 1968, veio o AI-5 e uma grande piora. Para os que pedem a volta do regime militar, eles não sabem com o que estão mexendo. Ingenuamente ou não, associam uma moralização a uma militarização.

Sou contra militares no governo, porque podemos precisar deles para dissolver algo do próprio Estado. Eles precisam garantir a Constituição. É absurdo ter mais militares no poder hoje do que na época da ditadura. Não se nega a importância das Forças Armadas. Elas devem proteger as divisas e fazer missões humanitárias. Mas o fato de estar no seio do governo compromete, por ser parte interessada.

Já que estamos em plena pandemia voltemos para a gripe espanhola. O Brasil também estava polarizado naquela época. Não é diferente agora. Ficou pior depois que a pandemia explodiu, mas já tivemos H1N1, dengue... hoje é muito parecido com o começo do século 20.

Não sabemos lidar, as informações chegam comprometidas, envoltas em fake news, ou através de influenciadores sem nenhum conteúdo. A grande maioria da população não sabe em quem acreditar.

Muita gente dizia que era impossível repetir uma pandemia como a da gripe espanhola, assim como acham que é impossível a volta da ditadura. Mas devemos ficar atentos, resistentes e fortes! Ela pode voltar, sim. Muita gente falava que tínhamos superado a era das pandemias. Isso serve para as ditaduras também.

*Patricia Alves é jornalista e repórter de TV

Nota

O site marianakotscho indica a leitura do livro Do Golpe ao Planalto, de Ricardo Kotscho