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Projeto ‘Leia para um animal’ mobiliza escola gaúcha e é premiado em concurso nacional

Fernando Schiavo, educador por trás do ‘Leia para um animal’, compartilha os impactos positivos na comunidade

Redação Publicado em 30/05/2025, às 12h00

Projeto “Leia para um animal” recebeu o 3º lugar no Prêmio Educação para Gentileza e Generosidade - Divulgação
Projeto “Leia para um animal” recebeu o 3º lugar no Prêmio Educação para Gentileza e Generosidade - Divulgação

Em meio aos desafios da educação pública e da busca constante por novas formas de engajar os estudantes, uma iniciativa simples, afetuosa e transformadora conquistou reconhecimento nacional: oprojeto “Leia para um animal”, desenvolvido na Escola Municipal Padre João Schiavo, no distrito de Fazenda Souza, em Caxias do Sul (RS). A ideia nasceu de uma conversa espontânea em sala de aula e rapidamente se tornou um movimento que uniu leitura, carinho e criatividade — e que agora recebeu o 3º lugar no Prêmio Educação para Gentileza e Generosidade. Nesta entrevista, o educador Fernando Schiavo conta os bastidores do projeto, seus impactos na comunidade e a inspiração que ele oferece para educadores de todo o país.

Crianças lendo para animais
Projeto "Leia para um animal" - Divulgação

1) Qual foi a iniciativa premiada?

Fernando Schiavo: Projeto “Leia para um animal”.

2) Por que fizeram este projeto?

Fernando Schiavo: Tudo começou em uma aula de leitura na turma 4.1 da Escola Municipal de Ensino Fundamental Padre João Schiavo, localizada no Distrito de Fazenda Souza, na cidade de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, quando uma estudante falou que lia para seu animal. Neste momento, outras crianças comentaram que liam para seus animais. Foi nesse momento que surgiu o projeto sobre a importância e possibilidade de que cada estudante pudesse ler para seu animal de estimação para incentivar o hábito da leitura. Visando aumentar o interesse dos estudantes pela leitura de forma lúdica e ser responsável e gentil com os animais, foi realizado o presente projeto intitulado “Leia para um animal”.

3) Como este projeto interfere na comunidade ao redor da escola?

Fernando Schiavo: Como fala Rubem Alves: “Um livro é um brinquedo feito com letras. Ler é brincar”. A comunidade ao redor da escola visualizou como a leitura pode ser criativa, como ela pode carregar valores, como ela pode transformar a vida dos estudantes através da ludicidade da leitura, provando que ler pode e deve ser muito divertido. Além disso, os relatos recebidos apontam que as pessoas acharam o projeto interessante, diferente e que a leitura é uma excelente ferramenta para melhorar a aprendizagem. Abaixo, deixo alguns relatos dos pais e mães da comunidade escolar:

• “O projeto ‘Leia para um animal’ sai do tradicional, o que se torna uma proposta interessante de estímulo à leitura, além de envolver os pets, os quais são ótimos aliados para a saúde mental das crianças.”

• “Faz bem e é um projeto diferente. É muito legal ver o carinho que eles demonstram ao animalzinho. Assim ele acaba ouvindo a própria voz.”

4) Como pode ser exemplo para toda a sociedade?

Fernando Schiavo: Um dos grandes diferenciais do projeto é o seu poder de replicabilidade em qualquer lugar do mundo. Ao ler para um animal, as crianças ficam mais à vontade, ficam sem medo de serem julgadas e mesmo corrigidas. Após esse primeiro passo, é hora de reunir a família toda para um momento de leitura — momento este preferencialmente longe do celular e de qualquer barulho, um momento realmente familiar. É usar o “ler para um animal” para reunir a família, cuidar dos animais, ficar afastado das tecnologias diversas e estimular o hábito da leitura.

O projeto “Leia para um animal” se tornou atrativo por abordar os mais variados aspectos, entre eles: incentivar a ludicidade como ferramenta de incentivo à leitura; promover questões socioemocionais ao estimular a relação entre os estudantes e seus animais (ou seus bichos de pelúcia, no caso da criança não ter um animal); promover momentos de leitura entre as famílias; desenvolver atividades pedagógicas em sala de aula e fora dela com uma temática de interesse dos estudantes. Todos sabem — ou deveriam saber — que, quando um assunto está relacionado à vida real da criança, o aprendizado acontece de forma mais completa.

5) O que acharam dos resultados?

Fernando Schiavo: Ficamos encantados com os resultados. O brilho no olhar dos estudantes falando sobre a experiência faz qualquer pessoa acreditar que um mundo melhor é possível. Podemos visualizar famílias que nunca liam juntas e que, a partir do projeto, começaram a ler. Estudantes que tinham vergonha ou medo de ler passaram a ter mais confiança em si mesmos. Estudantes que evoluíram incrivelmente na dicção, desinibição e na oratória ao contar a experiência e as vivências oportunizadas pelo projeto. Provou-se que, quando os assuntos abordados no ambiente escolar surgem do interesse das crianças, eles facilitam o aprendizado e o tornam muito mais atrativos — é só saber ouvi-las e usar a criatividade.

6) Como souberam do Prêmio EGG?

Fernando Schiavo: Há muitos anos acompanho o prêmio pela internet e pela excelente plataforma de educação para gentileza e generosidade disponível. Sempre fiquei encantado com os projetos desenvolvidos nas quatro edições anteriores e com a metodologia da plataforma.

No ano de 2024 foi nossa hora de parar, escrever, participar e, enfim, ser escolhido por um grupo de jurados com a mais alta qualificação. Alcançamos o 3º lugar entre todos os projetos do Brasil.

7) Qual a importância de um prêmio como este?

Fernando Schiavo: Imensurável seria o resumo em uma palavra. Ser agraciado com esta premiação valida todo o trabalho realizado, principalmente pela seriedade e credibilidade visualizadas em todo o processo de seleção. Aumenta a responsabilidade, pois sabemos a grande quantidade de excelentes trabalhos realizados nas escolas de todo o Brasil e que, pouca ou nenhuma vez, são valorizados pela sociedade — essa mesma sociedade que infelizmente não dá visibilidade a tantas boas ações existentes. Para um estudante da zona rural, do interior do interior do Rio Grande do Sul, ser agraciado com o respectivo prêmio de caráter nacional faz com que ele acredite mais em si mesmo, tenha a autoestima elevada e compreenda que ser gentil e bondoso ainda vale a pena.

Além disso, para o profissional agraciado com o prêmio — que é o meu caso — referenda o árduo trabalho realizado no “chão da sala de aula” e nos oportuniza ser grato por poder vivenciar todo esse caminho junto aos nossos estudantes e seus respectivos familiares.

8) Vão continuar com projetos assim? Quais os desafios? E os aprendizados?

Fernando Schiavo: A semente está plantada. O hábito de ler para um animal estará sempre na memória dos estudantes e seus familiares. A ideia é que esse hábito se mantenha e seja ainda mais difundido. Espera-se que mais e mais crianças possam se inspirar e, ao ler esta entrevista, troquem o uso do celular por uma leitura com seus animais e com suas famílias.

Os aprendizados serão eternos: os problemas matemáticos construídos pelos estudantes com a temática animal, as poesias confeccionadas sobre o projeto “Leia para um animal”, a produção de pequenos livros e de marca-páginas sobre o respectivo projeto. Provavelmente, o grande desafio seja manter essa ludicidade, para que as crianças e suas famílias continuem com esse hábito mesmo após se tornarem adolescentes e adultos.

9) Qual sua mensagem para as escolas que ainda não se inscreveram no prêmio?

Fernando Schiavo: Não deixem de se inscrever na edição 2025 do Prêmio Educação para Gentileza e Generosidade. Sei que a vida de professor é extremamente corrida e desgastante, mas é necessário parar por um momento e registrar nossa prática pedagógica. É necessário fazermos uma corrente de boas notícias do que a educação brasileira produz. Mais importante que a chegada é o caminho que vocês irão percorrer junto aos seus estudantes — e desejo que seja um caminho lúdico, criativo, gentil e generoso.

10) E qual seu recado para os professores que já colocam isso tudo em prática mas não tinham valorização?

Fernando Schiavo: Valorize-se primeiro, pois tenha certeza de que você é peça fundamental para um Brasil melhor. Valorize a sua prática pedagógica junto aos seus estudantes e familiares, pois essa caminhada já é uma vitória da educação. Ser reconhecido e agraciado com a premiação será apenas consequência de tudo que você já faz, mas que muitas vezes não mostra.

Minibiografia

Meu nome é Fernando Menegat e tenho 43 anos. Sou professor concursado da rede municipal de Caxias do Sul e trabalho 20 horas na respectiva rede. Também sou professor concursado da rede estadual de educação Do Rio Grande do Sul e trabalho 20 horas na respectiva rede.

Sobre minha formação, sou graduado em Licenciatura Plena em História pela Universidade de Caxias do Sul e cursei 9 pós-graduações, entre elas: Educação no Campo (Imes, 2023), Gestão Escolar (UERGS, 2024) e Informática Instrumental para Professores da Educação Básica (UFRGS, 2016).

Sobre minha brevíssima biografia destaco: atualmente trabalho como professor no ensino fundamental na rede municipal de Caxias do Sul e com ensino médio na rede estadual, onde tenho contato com todos níveis de estudantes, desde a educação infantil até o último ano do ensino médio; já exerci praticamente todas as funções existentes no ambiente escolar, dentre elas, vice-diretor (cargo exercido atualmente na rede estadual), coordenador pedagógico, orientador educacional, professor bibliotecário, professor de Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (cargo exercido atualmente na rede municipal). Além disso, minha grande paixão na educação é ser orientador de projetos de iniciação científica na educação básica, função que exerço ininterruptamente há 12 anos.

Único gaúcho e finalista do Prêmio Professor destaque da Febrace 2024 (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia da USP) e professor Inspirador Educação para gentileza e generosidade com o Projeto Leia para um animal, entre outras conquistas educacionais.

Fernando Schiavo
Fernando Schiavo - Divulgação