Os números mostram que negros ainda são maioria em situações de vulnerabilidade, como déficit habitacional e mortalidade materna elevada
Fabiana Trovó* Publicado em 20/11/2025, às 06h00

A abolição da escravidão no Brasil não resultou em igualdade real para a população negra, que continua a enfrentar desigualdades em áreas essenciais como educação, saúde e trabalho, perpetuando uma dívida histórica não reparada.
Dados da PNAD 2024 revelam que a taxa de analfabetismo entre pretos e pardos é de 6,9%, mais que o dobro da taxa entre brancos, e apenas metade dos adultos negros concluiu o ensino médio, refletindo a desigualdade no acesso a oportunidades.
A Consciência Negra deve ser vista como um chamado à ação para a implementação de políticas públicas focadas na igualdade racial, pois sem investimentos e continuidade, as disparidades sociais e econômicas continuarão a se repetir.
Desde a abolição, a população negra recebeu liberdade formal, mas não acesso real a serviços essenciais como moradia, educação, saúde e trabalho digno. Como lembra Emicida ao afirmar que “a escravidão deixou heranças que ainda não foram pagas”, essa dívida histórica segue moldando as desigualdades do presente, reproduzindo exclusões que nunca foram reparadas.
Diante das estatísticas vale citar uma frase dita por Muniz Sodré: “O racismo é parte estruturante da sociedade brasileira.”
Esses dados negativos que se repetem anualmente confirmam que o racismo é parte da engrenagem histórica e social que ainda define quem tem mais acesso a direitos, oportunidades e reconhecimento no Brasil.
Na educação, a PNAD 2024 aponta analfabetismo de 6,9% entre pretos e pardos — mais que o dobro da taxa entre brancos (3,1%) (PNAD Contínua Educação 2024/IBGE — Educação UOL). E só metade dos adultos negros concluiu o ensino médio, ante 63,4% dos brancos (IBGE — Educação UOL).
Essa desigualdade se reproduz no mercado de trabalho: menor escolarização significa menos qualificação, piores salários e maior informalidade. Na renda, negros seguem recebendo cerca da metade do rendimento de pessoas brancas (IBGE).
Na moradia, negros são maioria no déficit habitacional (Fundação João Pinheiro). Na saúde, mulheres e bebês negros enfrentam maior mortalidade materna e neonatal (Fiocruz e Ministério da Saúde). E na segurança pública, 76,5% das vítimas de homicídio no país são negras (Atlas da Violência 2024 — Ipea/FBSP; O Globo).
Os piores indicadores continuam recaindo sobre a mesma população. Não é acaso: é racismo estrutural.
A Consciência Negra não é apenas um feriado — é um alerta anual de que igualdade racial exige políticas públicas com recorte racial, investimento e continuidade. Sem isso, os números seguirão repetindo a mesma história.
*Fabiana Trovó é advogada
Quer incentivar este jornalismo sério e independente? Você pode patrocinar uma coluna ou o site como um todo. Entre em contato com o site clicando aqui.