De acordo com a OMS, cerca de 134 milhões de eventos adversos acontecem anualmente no mundo devido a cuidados de saúde inseguros. Saiba como é no SUS
Redação Publicado em 06/07/2025, às 06h00
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que aproximadamente 134 milhões de eventos adversos ocorrem globalmente a cada ano devido a cuidados inseguros em instituições de saúde, levando a cerca de 2,6 milhões de mortes anuais, especialmente em países de baixa e média renda. Entre esses eventos, destacam-se erros de medicação, procedimentos cirúrgicos inseguros, infecções relacionadas à assistência à saúde, erros de diagnóstico e identificação incorreta do paciente. O custo global apenas com erros de medicação — dos quais 50% são evitáveis — chega a US$ 42 bilhões por ano, enquanto o custo total de cuidados inseguros ultrapassa US$ 1,17 trilhão.
No Brasil, os dados mais recentes da ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária -, referentes a 2024, mostram que as instituições de saúde notificaram um total de 426.148 eventos adversos. Desses, 153.325 não causaram dano ao paciente, enquanto 216.530 tiveram impacto leve, 44.822 impactos moderados, 9.013 foram considerados graves e, infelizmente, ocorreram 2.458 óbitos. Esses números podem ser ainda maiores, pois muitas instituições não notificam os eventos de forma adequada ou simplesmente não realizam a notificação.
Entre as ocorrências mais graves estão a administração incorreta de medicamentos, seja por dosagem ou tipo errados, e a realização de cirurgias em locais equivocados no corpo dos pacientes. Além disso, destacam-se casos de lesão por pressão, divididos em três tipos: contusão (lesão dos tecidos moles causada por trauma), entorse (alongamento dos ligamentos) e luxação, considerada a mais grave, em que há deslocamento do osso da articulação. Esses dados refletem a seriedade das falhas no sistema de saúde brasileiro e o impacto que podem ter na segurança do paciente.
Um novo cenário de esperança para a segurança do paciente - O dia 28 de abril marcou um avanço importante: a sanção da Lei nº 15.126, que altera a Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8.80/1990) para incluir oficialmente a atenção humanizada como um dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). Desde 2003, o Ministério da Saúde já orientava a prática da humanização por meio da Política Nacional de Humanização (PNH), mas agora passa a fazer parte dos princípios legais do sistema de saúde brasileiro.
Atenção humanizada: Envolve ações como acolhimento com escuta qualificada, respeito à dignidade e cultura, valorização do vínculo entre profissional e usuário, comunicação transparente e um ambiente de cuidado mais sensível, ético e acolhedor. O objetivo é que esse cuidado mais humano contribua para aumentar a satisfação dos pacientes, melhorar a adesão aos tratamentos e, consequentemente, reduzir eventos adversos.
Segundo a coordenadora do Grupo Temático de Trabalhoda Experiência do Paciente da SOBRASP (Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente), Kelly Rodrigues, “a humanização no atendimento ao paciente envolve uma série de atos que visam tornar a experiência mais acolhedora, respeitosa e centrada em suas necessidades físicas e emocionais. Estar mais próximo do paciente, cuidando da pessoa e não somente da doença, traz como consequência um cuidado mais seguro”.
Investir na redução de danos ao paciente não só gera economia para o sistema de saúde, mas também resulta em melhores resultados clínicos. Estudos da OMS indicam que, com o engajamento do paciente no tratamento, é possível reduzir em até 15% os danos relacionados à assistência.