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Saúde da mulher como investimento social

Aplicar em saúde da mulher é investimento social, pois reverte em benefícios econômicos à sociedade

Adriana Mallet* Publicado em 31/10/2025, às 06h00

Ambiente onde mulher faz exame de mamografia
Apenas 38% dos estudos em saúde incluem mulheres como participantes - Foto: Canva Pro

No Brasil, mais de 61 milhões de pessoas enfrentam dificuldades de acesso à saúde especializada, com as mulheres sendo as mais afetadas, o que representa um obstáculo ético e econômico ao desenvolvimento do país.

A Organização Mundial da Saúde estima que cada dólar investido na saúde feminina pode gerar até US$4 em benefícios, e a inclusão das mulheres no mercado de trabalho poderia adicionar US$12 trilhões ao PIB global até 2025.

Iniciativas como o programa Anariá, que utiliza tecnologia e inovação para rastreamento de câncer, e a decisão do Ministério da Saúde de antecipar o rastreamento do câncer de mama, demonstram como o investimento em saúde feminina pode salvar vidas e reduzir custos futuros.

Resumo gerado por IA

No Brasil, segundo o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), mais de 61 milhões de pessoas enfrentam dificuldades de acesso à saúde especializada. Entre elas, as mulheres são as mais afetadas, seja pela sobrecarga de cuidados, pelas barreiras de capilaridade no sistema de saúde ou pela invisibilidade de suas condições nas pesquisas médicas. A lacuna no cuidado com a saúde feminina não é apenas um problema ético ou social, sendo também um gargalo econômico que limita o desenvolvimento do país.

O investimento social tem se mostrado uma das ferramentas mais eficazes para reverter esse cenário. Ao direcionar recursos para esta área, não apenas garantimos melhorias na qualidade de vida, mas também geramos um retorno significativo sobre o investimento (ROI). A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cada dólar investido na saúde feminina pode gerar até US$4 em benefícios sociais e econômicos. Já um estudo da McKinsey & Company aponta que a inclusão plena das mulheres no mercado de trabalho e o cuidado integral à sua saúde poderiam adicionar US$12 trilhões ao PIB global até 2025.

Mas para alcançar esse impacto, é preciso enfrentar uma desigualdade estrutural ainda pouco discutida: a falta de representatividade feminina na ciência e na pesquisa médica. Segundo o National Institutes of Health (NIH), apenas 38% dos estudos em saúde incluem mulheres como participantes. Tal desproporção não apenas perpetua a falta de compreensão sobre as doenças que afetam as mulheres, mas também afeta diretamente a adequação dos tratamentos e recomendações. O resultado é um sistema que não compreende, diagnostica ou trata as mulheres de forma adequada.

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Frente a esse desafio, surgem iniciativas que buscam equilibrar essa equação, tanto na produção de conhecimento quanto na oferta de cuidado. No Brasil, programas como o Anariá, da SAS Brasil, têm se destacado por unir tecnologia, inovação e acolhimento. O Anariá promove o rastreio organizado de câncer de mama e de colo do útero, utiliza soluções inovadoras como a telecolposcopia e oferece tratamentos de incontinência urinária com laserterapia. A combinação de telessaúde, inteligência artificial e atendimentos presenciais tem permitido cuidar de mulheres que aguardavam há meses - ou anos - por uma consulta.

Em um país onde o Outubro Rosa ainda é símbolo de conscientização e mobilização, o Anariá representa o próximo passo: transformar a prevenção em política estruturada e acessível. Em paralelo, a recente decisão do Ministério da Saúde de antecipar o rastreamento do câncer de mama para mulheres a partir dos 40 anos no SUS, somada à implementação do teste molecular de HPV para rastrear o câncer de colo do útero, mostra como o investimento contínuo em saúde feminina gera impacto tangível, salvando vidas e reduzindo custos futuros com tratamentos avançados.

A conexão entre investir na saúde das mulheres e a rentabilidade econômica é clara. Através da promoção de pesquisas inclusivas e da implementação de iniciativas como Outubro Rosa e da inclusão de novas tecnologias no cuidado das mulheres, podemos garantir que as necessidades de saúde feminina sejam atendidas de maneira eficaz e equitativa.

Este é um chamado à ação para governos, organizações e sociedade: investir na saúde das mulheres é um passo essencial não apenas para alcançar a igualdade de gênero, mas também para impulsionar o desenvolvimento econômico e social. Com a conscientização e o investimento contínuo, podemos construir um futuro mais saudável e igualitário, onde todas as mulheres tenham acesso aos cuidados e serviços de saúde que merecem.

*Adriana Mallet é Co-fundadora e Chief Medical Officer da SAS Brasil

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