Pesquisas apontam que a sobrecarga de tarefas e a falta de reconhecimento são fatores determinantes para o esgotamento profissional feminino e burnout
Redação Publicado em 01/05/2025, às 06h00
Em 2024, as mulheres foram as mais afetadas pelos afastamentos por transtornos mentais no Brasil, representando 63,8% das mais de 472 mil licenças registradas, segundo dados do Ministério da Previdência Social. O burnout, estado de esgotamento físico e mental causado pelo estresse crônico no trabalho, tem se mostrado mais prevalente entre o público feminino, um fenômeno que, segundo especialistas, se intensificou após a pandemia.
Fernanda Paiva, especialista em comportamento humano e fundadora do Instituto Diálogos, explica que as mulheres estão mais vulneráveis ao burnout devido a fatores estruturais e culturais, como a sobrecarga de tarefas de cuidado não remunerado e a falta de reconhecimento no ambiente corporativo. “As mulheres acumulam responsabilidades em casa e no trabalho, o que gera uma pressão constante e um ciclo de esgotamento. Além disso, a cultura do excesso de trabalho nos ambientes corporativos, muitas vezes associada a bônus e promoções, acaba sendo um terreno fértil para a sobrecarga feminina, pois as recompensas são frequentemente menores para elas”, afirma Paiva.
A especialista também destaca os vieses de gênero como parte do problema. Embora as mulheres que trabalham às mesmas horas que os homens recebam avaliações de desempenho semelhantes, elas são sistematicamente subvalorizadas em relação às recompensas por seu esforço adicional. Um estudo recente publicado na Social Psychology Quarterly evidenciou que, enquanto homens que trabalham longas horas são frequentemente recompensados com oportunidades de promoção e bônus, as mulheres que fazem o mesmo esforço, não recebem os mesmos benefícios, mesmo apresentando o mesmo nível de competência.
Uma pesquisa de 2024 realizada pela consultoria global Deloitte revelou que quase 25% das mulheres entrevistadas relataram sentir esgotamento profissional, um número alarmante que confirma a magnitude da prevalência do burnout no público feminino. Esse cenário reflete o acúmulo de funções e as dificuldades de reconhecimento enfrentados pelas mulheres no mercado de trabalho. Essa realidade pode ser ainda mais desafiadora para mulheres negras, periféricas ou mães solo, que acumulam mais camadas de invisibilidade e sobrecarga.
"O problema é estrutural e cultural. Precisamos repensar as organizações e garantir que as mulheres não sejam sobrecarregadas com expectativas irreais, nem privadas de oportunidades de crescimento profissional por serem mulheres. Só assim conseguiremos construir ambientes de trabalho mais saudáveis e inclusivos. Empresas que negligenciam essa relação podem ter dificuldades para reter uma parcela essencial de seus talentos", conclui Fernanda Paiva.
O burnout já é tratado como um fenômeno ocupacional na nova Classificação Internacional de Doenças (CID) pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 2022 e, a partir de 2025, o código entrou em vigor para pacientes brasileiros que enfrentam o quadro caracterizado por esgotamento físico e mental, alterações de humor, insônia, sentimentos de fracasso, dores musculares e de cabeça, alterações nos batimentos cardíacos e outros sintomas relacionados com o trabalho.