Especialista em diversidade e inclusão comenta sobre a desigualdade de direitos e oportunidades entre as mulheres
Jenifer Zveiter* Publicado em 31/03/2023, às 14h00
O Dia das Mulheres sempre levanta uma série de pautas sobre desigualdade de gênero. Mas precisamos, o quanto antes, interseccionalizar este debate. Afinal, dentro do universo de mulheridades, existe uma série de questões que criam um abismo entre nossas vivências.
Mulheres negras, por exemplo, recebem em média R$ 1.471 por mês. O valor é 57% menor do que homens brancos recebem, 42% menor do que mulheres brancas ganham e 14% a menos do que homens negros recebem. Os dados são de um levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e levam em conta os rendimentos de 2019. Mesmo dentro de uma perspectiva de gênero, o fator racial atravessa a realidade vivida por essas mulheres e cria uma disparidade na relação salarial.
Quando pensamos em violência de gênero, a intersecção racial também é evidente. Segundo informações da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU), enquanto o feminicídio está crescendo entre mulheres negras e indígenas, o número diminui entre as mulheres brancas. Entre os dois primeiros grupos, o índice do crime chega a ser o dobro do que entre as mulheres brancas.
Ao analisar a realidade vivida por mulheres trans e travestis, dados da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), mostram que vivem em sua maioria em quadro de extrema vulnerabilidade social no Brasil. Pessoas trans são expulsas de casa, em média, aos 13 anos de idade, e cerca de 72% não concluem o ensino médio. A falta de oportunidades leva à prostituição, que tem se tornado a fonte primária de renda para 90% das travestis e mulheres trans.
Outra intersecção importante a ser mencionada nesta reflexão é com relação às mulheres com deficiência. Mesmo com uma lei de cotas rígida para inclusão de pessoas com deficiência (PCD) no mercado de trabalho, ainda assim as empresas não a cumprem. Apenas 0,7% dos profissionais empregados são PCD.
A criação de uma unidade e homogeneidade à respeito do universo de mulheridades não beneficia nenhuma de nós; muito pelo contrário, fortalece uma estrutura desigual que é pautada no racismo, na lgtqiap+fobia, no capacitismo e na gordofobia.
A pauta de gênero é ampla e precisa ser tratada com cuidado, abarcando as complexidades e intersecções nas vivências de cada uma de nós, que se atravessam a depender de quais grupos ocupam. Por isso, desde o primeiro momento levanto a reflexão: quando você pensa em mulheres, quais imagens vêm à sua mente?
*Jenifer Zveiter é especialista em diversidade e inclusão na Condurú Consultoria, psicóloga clínica, educadora e orientadora profissional.