Psicólogos alertam sobre o crescimento da ecoansiedade e suas consequências para a decisão de ter filhos
Redação Publicado em 22/01/2025, às 06h00
O poeta e ativista ambiental americano Wendell Berry disse em uma de suas icônicas frases: “Nós não herdamos o mundo de nossos antepassados, nós o pegamos emprestado dos nossos filhos.” A frase, que à primeira vista parece óbvia, traz dentro de si um conceito que, em pleno século 21, ainda não foi compreendida por muitos.
Não à toa, o fenômeno da ECOANSIEDADE vem crescendo no mundo todo e, especialmente nesses últimos tempos, vem dominando as conversas tanto no Brasil das queimadas, quanto nos EUA dos tornados ou nos pólosdescongelantes. Não importa onde, o assunto está abalando nossa saúde mental seriamente.
O termo ECOANSIEDADE, também chamado de “ansiedade climática“, já foi incorporado pelo dicionário de Oxford e é definido pela Associação Americana de Psicologia como medo crônico da catástrofe ambiental.
O psicólogo e psicanalista Francisco Nogueira afirma que “nos consultórios esses temas aparecem carregados de muitos conflitos e recusa, assim como fatalismo, melancolia e sentimentos de medo, ansiedade edesamparo”. E alerta para o crescimento do número de jovens e adultos que afirmam que uma das principais razões para não quererem ter filhos está relacionada ao agravamento da precarização das condições de vida que a degradação ambiental acarreta.
Para o especialista, em alguns casos, o envolvimento com atividades sociais relacionadas ao cuidado do meio ambiente ajuda a reduzir significativamente o sofrimento e a ansiedade associados. Em outros casos eventuais, o tratamento acessório medicamentoso, acompanhado com um psiquiatra, pode ser importante. “Há uma sensação de que os sonhos estão interditados e de que o futuro é uma ameaça. Por isso, o tratamento psicológico precisa ajudar o indivíduo a se reconectar, e a se manter conectado, com a vida e a com motivação para seguir lutando por ela em todas as suas formas”.
De acordo com pesquisa publicada na The Lancet Planet Health, 59% das pessoas entrevistadas se disseram muito ou extremamente preocupadas com as mudanças climáticas; 89% estavam, pelo menos, moderadamente preocupados. Mais de 45% disseram que os seus sentimentos sobre as alterações climáticas afetaram negativamente a sua vida diária. Além disso, 83% afirmaram que acham que as pessoas falharam em cuidar do planeta.
“Neste sentido, nós brasileiros ocupamos um lugar muito importante para a preservação da vida no mundo. Preservar a vida física assegurará não apenas a nossa sobrevivência, mas também será um princípio garantidor da nossa vida psíquica.”, analisa Francisco Nogueira.
Francisco Nogueira é psicólogo, psicanalista, membro do Departamento Formação em Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae e sócio da consultoria Relações Simplificadas.