A figura do pai na vida dos filhos desempenha um papel único, insubstituível e fundamental no desenvolvimento psíquico, emocional, psicológico e social
Larissa Fonseca* Publicado em 30/04/2024, às 06h00
O vínculo entre pai e filhos se dá de modo um pouco diferente pois ele é construído a partir de uma “relação externa” com uma ideia (mais do que um bebê palpável após seu nascimento). O pai pode se aproximar e reforçar esse vínculo, sendo participativo desde o pré-natal, na busca por informações, acompanhamento às consultas, organização dos espaços, escolhas em geral de temas diversos relacionados ao filho, contato com a barriga da mãe, conversas, ou seja, vivenciando mesmo a paternidade desde sempre!
Hoje em dia não se pode mais falar em um único modelo de pai dada a variedade de estruturas familiares presentes na sociedade. Até pouco tempo, a chamada “família patriarcal” era soberana. Pai era sinônimo de provedor e autoridade e promovia a “segurança física e financeira”. Atualmente os pais têm buscado estreitar mais os vínculos afetivos, vivenciarem prazeres e cuidados em geral com os filhos. Os pais são tão capazes para lidar com a rotina do filho quanto as mães.
Essa quebra de paradigmas, tanto em relação a demonstrações de afeto, cuidados, educação, brincadeiras, e os próprios conflitos internos dos pais que carregam uma herança social de seu “papel” no contexto familiar, compõem um grande desafio e conflitos comuns nas relações entre pais e filhos.
O mais importante é ser um pai consciente de suas possibilidades, de suas limitações, mas que não se esquiva de sua responsabilidade.
A ausência dos pais pode comprometer a saúde emocional dos filhos. O amadurecimento do indivíduo passa, necessariamente, por uma fase de dependência familiar, onde ele ainda não possui maturidade suficiente para fazer escolhas por conta própria. Neste período, são os pais quem tomam as decisões e “cuidam” dos filhos. Quanto menor a criança, maior é a necessidade de referência e valores. Quando este processo é interrompido ou sequer tem início (com a ausência de um pai, por exemplo), há grande chance de este indivíduo procurar esta referência paternal em alguma outra figura abstrata ou concreta. No caso do homem ter tido um pai ausente, é comum que ele tente suprir algumas faltas que ele mesmo sentiu, reproduzindo em seu filho as suas necessidades e demandas. Mas é importantíssimo que o pai consiga separar as suas necessidades e faltas com as atuais necessidades de seu filho, sem reproduzir nele as carências, e procurando sempre perceber seu filho como ser independente de sí, com novas demandas, experiências, vontades e necessidades.
Entre os 5 e 6 meses, a criança passa pela fase de formação do triângulo familiar. Essa fase em que o bebê passa a perceber mais a presença de uma terceira pessoa (no caso, o pai) na relação que, até então era dele com a mãe (amamentação e cuidados em geral). No entanto, com a atuação mais participativa dos pais desde os primeiros dias do bebê, essa formação do triângulo já começa a ser percebida em outros contextos. No caso de uma estrutura familiar sem a presença paterna convencional, normalmente a formação do triângulo familiar acontece com a figura masculina de referência, seja tio, avô ou alguém próximo. Nos casos em que a presença da mãe é exclusiva no contexto familiar, a resolução desse processo será resultado da reação da mãe e das possibilidades e oportunidades que ela dará para a criança identificar novas relações com terceiros e outras pessoas, além das dela com o bebê.
É importante que a mãe dê espaço e não interfira nessa relação, mesmo que ela ache que “faria melhor do que ele”. O posto de um pai na vida de um filho ou filha é insubstituível!
Sim, as mulheres podem “dar um jeito” para tudo, mas cada relação é de fundamental importância e traz contribuições singulares para a formação dos filhos.
Os pais devem se apropriar desse espaço, tornando-se conscientes de suas possibilidades, de suas limitações e não se esquivando de suas responsabilidades.
Os pais devem assumir papeis, evitarem se comparar com as mães, entender e desenvolver seus meios para atender as demandas e necessidades das crianças. E quando falo em necessidades, elas vão além dos cuidados fisiológicos. As necessidades dos filhos a serem atendidas pelos pais são também as emocionais, físicas, sociais, motoras, cognitivas, afetivas...
O pai participativo é importante durante o pré-natal e o pré-natal é uma fase muito importante para o pai ativo! É durante o pré-natal que o pai começa a conhecer e estreitar vínculos com o bebê. Além de dar suporte para a mãe e auxiliar em sua gravidez tranquila (o que certamente traz benefícios ao bebê), o pai vai acompanhando o crescimento e desenvolvimento do bebê, vai aprendendo, tirando dúvidas, ouvindo informações dos profissionais, já estabelecendo lugares em sua rotina para esse novo bebê que vai nascer.
Acompanhar o pré-natal proporciona ao pai a oportunidade de vivenciar a paternidade desde a gestação da criança, dando tempos para entender, aprender, construir e tornar mais “palpável e concreta” a paternidade, antes mesmo do nascimento do filho.
Pai não ajuda, ele exerce a paternidade e assume as responsabilidades de pai. Assim como de parceiro da mãe em prol da criação saudável dos filhos. Assim, mais do que ser um pai presente, é imperativo ao pai gerar vínculos afetivos sólidos com os filhos. Ou seja, no pós-parto (e sempre) o pai deve estar disponível a atender as demandas e necessidades físicas, emocionais, fisiológicas e gerais dos filhos.
Independentemente de o casal estar junto ou separado, a relação do pai com o filho é dissociada da relação do pai com a mãe da criança. Por isso, é imprescindível que o pai acompanhe e participe ativamente da rotina e desenvolvimento diário da criança. Isso pode acontecer a partir de informações, visitas, telefonemas, conversas, acompanhamento em atividades diárias (como levar ou buscar na Escola por exemplo), participar ativamente da vida escolar, de atividades da rotina (como dar banho, jantar, almoço, etc), estabelecer propostas para fazerem juntos (ensinar a andar de bicicleta, fazer natação, etc).
Além disso, o pai deve sempre atender aos combinados com o filho. É primordial que o filho perceba que o que se diz coincide com o que se faz. Com a incongruência, perde-se a autoridade, e sem autoridade dificilmente haverá admiração e respeito.
A presença ativa do pai desde os primeiros meses (mesmo que nesse tempo seja a mãe que ocupe a figura protagonista do ponto de vista do bebê), promove inúmeros benefícios para o desenvolvimento global dos filhos. Segundo estudos, ele representa a responsabilidade e o contato com a realidade. Além disso, o pai participativo torna-se aquele por quem a criança sente orgulho e em quem ela se espelha e essa admiração é o elemento de masculinidade que o pai transmite. Encontrar-se com o pai significará também encontrar uma fonte de identificação masculina, imprescindível tanto para a filha como para o filho.
*Larissa Fonseca é Pedagoga e NeuroPedagoga graduada pela USP, Pós Graduada em Psicopedagogia, Psicomotricidade e Educação Infantil. Autora do livro Dúvidas de Mãe.