Com promessas de adiar o fim da fertilidade, a injeção anti-menopausa ainda divide cientistas entre sonho e realidade
Vanessa Kopersz* Publicado em 16/10/2025, às 06h00
Cientistas da Health Tech Oviva estão desenvolvendo uma injeção que pode atrasar ou impedir os sintomas da menopausa, utilizando o hormônio Anti-Mülleriano (HAM), que normalmente diminui nas mulheres a partir dos 45 anos.
O HAM é crucial para a reserva ovariana e a produção de estrogênio, mas especialistas alertam que a eficácia da injeção em mulheres ainda é incerta e requer mais estudos sobre segurança e efeitos colaterais.
Além da injeção de HAM, pesquisadores da Universidade Columbia estão testando a rapamicina, que mostrou potencial em aumentar a expectativa de vida e a função ovariana em estudos com animais, indicando um crescente interesse científico na menopausa.
Imaginem o fim de uma série de sintomas horríveis como fogachos, insônia, depressão, ansiedade, palpitações, incontinência urinária, dores articulares, queda de libido e dezenas de outros? Uma injeção anti-menopausa pode impedir que esse tsunami de desgraças aconteça, apostam cientistas.
A injeção, atualmente em estudo com ratazanas por pesquisadores norte-americanos da Health Tech Oviva, promete imitar um hormônio que geralmente cai nas mulheres depois de elas completarem 25 anos. Isso significa que, quando os níveis deste hormônio despencam por volta dos 45 anos, durante o climatério e a menopausa, o medicamento poderia atrasar essa mudança ou mesmo impedir que ela aconteça completamente.
A injeção que ‘’cancela’’ a Menopausa funciona utilizando o hormônio Anti-Mülleriano (HAM) como base. Quem fez tratamento de fertilização in vitro sabe: essa glicoproteína é um dos marcadores mais importantes da reserva ovariana, ou seja, dos óvulos disponíveis para gerar um bebê.
O hormônio HAM é produzido por um componente próprio do folículo – estruturas nos ovários que abrigam os óvulos- que são as células da granulosa. Vale dizer que a mulher nasce com o número determinado de folículos e vai os consumindo mês a mês em cada novo ciclo menstrual. ‘’Para quem tem a idade da menopausa no seu tempo normal, ou seja por volta de 50 anos, esses folículos estão plenamente exauridos’’, explica o Dr. César Eduardo Fernandes, Professor Titular de Ginecologia da Faculdade de Medicina do Centro Universitário do ABC e Presidente da Associação Médica Brasileira.
O HAM vem da mesma célula granulosa que produz os hormônios estrogênicos, ‘’portanto à medida em que os folículos diminuem, as células perdem a capacidade de produzir estrogênio também. E assim a mulher na pós-menopausa tem níveis praticamente zerados deste hormônio essencial para o bom funcionamento do corpo e da mente’’, completa o Dr. César.
Infelizmente, para o médico, o experimento da Health Tech Oviva não parece muito promissor. ‘’Eu não tenho a esperança de que o HAM injetado como tem sido feito em experiências em animais, possa resultar em eficácia em mulheres. É importante lembrar que o HAM é consequência da capacidade de produção da célula da granulosa e não há como ele, por si só, em princípio, aumentar a longevidade dessa célula e muito menos ter um efeito conservador sobre ela. Não creio que essa injeção possa ser eficaz em beneficiar as mulheres quer seja em relação a retardar a idade da menopausa, quer seja em relação a eventuais benefícios que ele possa ter em consequências da deficiência hormonal que caracteriza o momento da pós-menopausa’’.
O Dr. César ainda frisa que ‘’hoje, se nós fossemos manter a mulher com números hormonais exatamente iguais aos que ela tem no seu período reprodutivo quando os ovários estão a todo vapor, certamente elas poderiam ter consequências de níveis elevados de estrogênio que são apenas compatíveis para aquelas mulheres que ainda têm ovulações, mas não se fazem necessários para as mulheres que estão no período da pós-menopausa’’.
Ainda de acordo com o Dr. José Bento, ginecologista, ‘’para que o HAM seja usado como terapia para adiar a menopausa é necessário testar principalmente sua segurança na interferência da ovulação, na produção de estrogênio, em efeitos metabólicos, nos riscos de câncer de ovários, entre outros’’.
Paralelamente à injeção de HAM, cientistas da Universidade Columbia, em Nova York, estão realizando ensaios clínicos com a rapamicina, uma droga imunossupressora utilizada para prevenir rejeição em transplantes de órgãos.Estudos em animais mostraram que o medicamento aumentou a expectativa de vida em mais de 90% e que também prolongou a função ovariana e a longevidade reprodutiva.
Por mais que os estudos ainda sejam incompletos ou não lá muito promissores, a esperança é que a comunidade científica tenha voltado suas atenções para o tema menopausa, finalmente.
*Vanessa Kopersz é jornalista na luta por um climatério melhor - Menocausa
Quer incentivar este jornalismo sério e independente? Você pode patrocinar uma coluna ou o site como um todo. Entre em contato com o site clicando aqui.