A colunista Thaissa Alvarega fala sobre a importância e a urgência da inclusão das pessoas com deficiência dos censos da União
Thaissa Alvarenga* Publicado em 23/08/2022, às 07h36
Estamos na época do Censo.
Na verdade, estamos atrasados com a auditoria dos números brasileiros que deveria ter sido realizado ao longo da pandemia, e por motivos óbvios as atividades não foram nem iniciadas. A fotografia da nossa população está turva, já que os últimos dados censitários que temos são de 2010.
Na última década nossa cultura mudou. Passamos a acolher a diversidade com mais atenção, respeito e empatia. Incluímos a diversidade no discurso e no dia a dia. Quando falamos de diversidade sugerimos uma visão ampla do assunto que inclui etnia, gênero, idade, raça e o universo de pessoas com deficiência.
Olhando com lupa os números do censo, ainda não temos uma visão real dos nichos, especialmente o que inclui questões neurodiversas, e esperávamos poder auditar agora, com o assunto tão em evidência. Mas qual a nossa surpresa, que novamente não os teremos. E o motivo é basicamente o questionário, que não traz perguntas que se aprofundam em dados sobre a diversidade intelectual.
Precisamos falar sobre isso. Urgente.
O censo é nossa câmera fotográfica, nossa ferramenta de pesquisa mais importante. É com ele que temos acesso a dados de toda a população para entendermos necessidades, regionalizações e para termos insumos para criação de políticas públicas.
Os dados públicos são fundamentais também para o setor privado, criação de produtos, serviços. Importante à educação para o entendimento das necessidades de cada geração e cada grupo de indivíduos. Tendências, futuro, empregabilidade, expectativas de vida, autonomia, apoio, moradia independente e o entendimento das diferenças que todos possuem.
Acredito fortemente que o Censo e as informações sobre nossa população são uma espécie de cola que une iniciativas do primeiro, segundo e terceiro setor. Juntas, as três frentes de atuação poderão cocriar iniciativas que realmente mudem nossa realidade.
Mas precisamos sair do deserto de dados para que isso aconteça.
Há dois anos falo e me preocupo muito com essa questão. Trabalho na construção de um ecossistema de informações sobre a inclusão da pessoa com deficiência intelectual e só poderemos avançar quando pudemos mergulhar em dados verdadeiros. Nenhuma empresa ou instituto de pesquisa teria fôlego para criar um censo particular. Só a União poderá fazer isso. E é o olhar consciente e atento do governo que precisa determinar que o Censo investigue quem é a nossa população e todas as suas nuances e nichos diferenciados.
Vamos juntos levar essa discussão para a imprensa, pois a informação sobre pessoas com deficiências anda em todas as faixas de diversidade e inclusão. Queremos que questões sobre envelhecimento, moradia, saúde e educação saiam do raso. Devemos ter capacitação especial para todas as pessoas, fazer um acompanhamento dessas famílias, discutir sobre políticas públicas, criar um material de apoio para essa criança neurodivergente. Precisamos de dados para colocar tudo isso em prática.
Você que acredita nessa questão, os ajude a levantar a bandeira. Questione publicamente onde estão os dados sobre nossas crianças e pessoas com deficiência. Vamos fazer da inclusão uma bandeira forte e amplificada.
Será que os questionários aplicados pelos recenseadores estão com foco nessa temática?
Será que todos querem entender esses dados nessa temática?
Convido a todos para essa reflexão e um caimento geral para que não tenhamos dados rasos e que consigamos avançar na real inclusão e de que todos são únicos e diferentes, mas têm direitos e são seres humanos.
*Thaissa Alvarenga é fundadora da ONG Nosso Olhar, do portal de conteúdo Chico e suas Marias e do canal do youtube Inclua Mundo.