Entenda como crianças com irmãos atípicos podem ser impactados emocionalmente e socialmente
Larissa Fonseca* Publicado em 10/02/2025, às 06h00
A convivência com um irmão atípico, seja com autismo, síndrome de down, transtornos de aprendizagem ou outras condições, pode trazer para os irmãos desafios emocionais, sociais e familiares. No entanto, também oferece uma rica oportunidade de crescimento, desenvolvimento da empatia e fortalecimento de vínculos familiares. O papel dos irmãos de filhos atípicos é muitas vezes negligenciado nas discussões sobre deficiências e necessidades especiais, mas eles desempenham um papel fundamental no desenvolvimento da dinâmica familiar e têm suas próprias experiências, que merecem atenção e apoio.
Crescer ao lado de um irmão com uma condição atípica pode significar uma série de desafios para o irmão típico, que pode sentir-se excluído ou sobrecarregado. Os pais, frequentemente focados nas necessidades do filho com deficiência, podem acabar não dando a devida atenção às necessidades emocionais e psicológicas dos outros filhos. Isso pode gerar sentimentos de solidão, raiva ou frustração.
Além disso, os irmãos podem experimentar o estigma social associado às condições atípicas, como o bullying por parte de colegas ou a exclusão de atividades sociais e escolares. A necessidade de compreender e lidar com comportamentos incomuns ou com dificuldades de comunicação do irmão atípico também pode ser um desafio constante, gerando estresse e, em muitos casos, uma sensação de responsabilidade excessiva.
Embora os desafios sejam muitos, é importante destacar os benefícios e as aprendizagens que surgem dessa convivência. Os irmãos de filhos atípicos geralmente desenvolvem uma grande capacidade de empatia e compreensão, aprendendo desde cedo a lidar com as diferenças e a aceitar os outros como são. Este contato diário com as peculiaridades e limitações de um irmão atípico pode gerar, ao longo do tempo, uma maturidade emocional precoce e um senso de responsabilidade mais aguçado.
Além disso, os irmãos de crianças com deficiência muitas vezes tornam-se defensores de seus irmãos, ajudando a educar outras pessoas sobre as condições atípicas e promovendo uma cultura de aceitação e inclusão. Eles também desempenham um papel crucial no apoio social, seja ajudando os pais nas tarefas diárias ou sendo uma fonte de conforto e companhia para o irmão com deficiência.
Para que o impacto da convivência com um irmão atípico seja o mais positivo possível, é fundamental que os pais ofereçam apoio emocional a todos os filhos, promovendo a comunicação aberta sobre os desafios e sentimentos vividos por cada um. A psicoterapia familiar pode ser uma importante ferramenta para ajudar a lidar com as dificuldades emocionais e de relacionamento dentro da casa, garantindo que todos os membros da família se sintam ouvidos e apoiados.
As escolas também desempenham um papel importante ao incluir os irmãos de filhos atípicos em programas de sensibilização e educação sobre diversidade e inclusão. Dessa maneira, as crianças podem ser ensinadas a entender e respeitar as diferenças desde cedo, prevenindo atitudes preconceituosas e incentivando a construção de relações mais saudáveis entre colegas.
O efeito da convivência com um irmão atípico pode durar a vida inteira. Muitos adultos que cresceram com um irmão com deficiência relatam que essa experiência moldou sua personalidade, tornando-os mais compreensivos, resilientes e atentos às necessidades dos outros. Alguns, inclusive, optam por seguir carreiras voltadas para áreas de saúde, educação especial ou defesa dos direitos de pessoas com deficiência, como uma forma de retribuir o aprendizado que obtiveram ao longo dos anos.
No entanto, é importante reconhecer que nem todos os irmãos de filhos atípicos terão o mesmo tipo de experiência. O apoio contínuo, a escuta ativa e a validação dos sentimentos de todos os membros da família são essenciais para garantir que os irmãos de filhos atípicos possam crescer de maneira saudável e equilibrada.
Os irmãos de filhos atípicos enfrentam desafios únicos, mas também têm a oportunidade de crescer emocionalmente e aprender importantes lições sobre a diversidade, o respeito e a empatia. O apoio adequado da família, dos profissionais e das instituições pode fazer uma grande diferença na maneira como esses irmãos vivenciam sua jornada.
Reconhecer o papel fundamental que eles desempenham no desenvolvimento da dinâmica familiar e fornecer-lhes os recursos necessários para lidar com as dificuldades é uma maneira de garantir que todos, tanto os filhos típicos quanto os atípicos, tenham uma infância e adolescência equilibradas e enriquecedoras.
*Larissa Fonseca é Pedagoga e NeuroPedagoga graduada pela USP, Pós Graduada em Psicopedagogia, Psicomotricidade e Educação Infantil. Autora do livro Dúvidas de Mãe.
**edição: Marina Yazbek Dias Peres
