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Família e escola: parceria ou pressão?

Saiba como a interferência excessiva ou pressão dos pais nas decisões escolares pode impactar negativamente o desenvolvimento dos alunos

Larissa Fonseca* Publicado em 26/08/2025, às 10h00

A parceria família escola é fundamental - pexels
A parceria família escola é fundamental - pexels

Muito se fala sobre a importância da parceria entre família e escola, e com razão. Quando esses dois pilares caminham juntos, quem ganha é a criança e o adolescente. No entanto, é preciso cuidado para que essa parceria não se transforme em ingerência. Há uma linha tênue entre participar da vida escolar do filho e querer que a escola funcione de acordo com os desejos individuais de cada família.

É natural que os pais queiram o melhor para seus filhos. Mas, quando esse desejo se transforma em tentativas constantes de interferência nas decisões pedagógicas, organizacionais ou disciplinares da escola, o resultado pode ser exatamente o oposto do que se espera: prejuízo ao desenvolvimento dos estudantes.

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A escola é um espaço coletivo. Suas regras, valores e decisões são construídos pensando no bem comum, não apenas em um aluno ou em uma família. Quando a instituição cede a cada pedido individual, muitas vezes contraditórios entre si, ela se torna instável, incoerente e perde justamente aquilo que deveria oferecer aos alunos e às famílias: segurança, previsibilidade e consistência.

Um ambiente escolar que muda constantemente de direção, tentando agradar a todos, transmite à criança e ao adolescente a ideia de que as regras são sempre negociáveis, conforme a conveniência de quem se opõe com mais insistência. Isso enfraquece a noção de limites e compromete a autoridade pedagógica necessária para um ambiente saudável de aprendizagem.

Por outro lado, uma escola que se fecha completamente às famílias, que não ouve, não acolhe, não dialoga, também se afasta daquilo que é essencial: o vínculo.

O equilíbrio está no diálogo respeitoso, na escuta ativa e na confiança mútua

É importante que as famílias compreendam que a escola tem uma dinâmica diferente da de casa. Seus educadores atuam com um repertório profissional distinto do familiar, baseando-se em saberes pedagógicos e em experiências coletivas. Enquanto em casa as decisões são tomadas com foco em um único grupo familiar, na escola é preciso considerar a diversidade de alunos e famílias, as demandas do grupo e o bem-estar coletivo. Gerir um ambiente escolar é, portanto, um exercício diferente daquele que se vive no cuidado individual de cada lar. Assim, é essencial que cada parte cumpra sua função com responsabilidade e respeito, entendendo que só avançamos quando todos remam para o mesmo lado.

Por isso, é importante que as famílias conheçam e escolham escolas com as quais se identifiquem. E, uma vez firmado esse pacto, que apoiem a instituição, mesmo diante de pequenas discordâncias. Questionar com respeito é saudável. Impor decisões, desautorizar educadores ou exigir exceções constantes pode ser nocivo,principalmente para os filhos, que percebem tudo.

Parceria verdadeira se constrói com confiança, respeito e cooperação. Escola e família não ocupam o mesmo lugar, mas se completam na missão de educar, cada uma com sua responsabilidade. E é na convivência entre esses dois mundos que a criança e o adolescente aprendem a viver em sociedade,com regras, limites, escuta e afeto.

*Larissa Fonseca é Pedagoga e NeuroPedagoga graduada pela USP, Pós Graduada em Psicopedagogia, Psicomotricidade e Educação Infantil. Autora do livro Dúvidas de Mãe.