Como tirar crianças e adolescentes das telas sem guerra em casa. É preciso desconectar
Larissa Fonseca* Publicado em 21/05/2025, às 09h00
Se você é pai ou mãe, sabe: tirar o celular da mão de uma criança ou adolescente hoje em dia pode parecer missão impossível. Vivemos em um mundo em que as telas estão por todos os lados, seja na sala, no bolso, no carro, no pulso e, para eles, é quase uma extensão do corpo. Para as crianças e adolescentes, que já nascem imersos nesse universo digital, é natural que o celular, o tablet ou o computador acabem se tornando a principal fonte de entretenimento, comunicação e até aprendizado. É onde se divertem, se informam, conversam, jogam, assistem, vivem.
Mas quando o tempo de tela começa a ocupar quase todas as horas livres, a gente percebe: algo precisa mudar. Não é só uma questão de controle, é uma questão de saúde física, emocional e até relacional.
Aqui vão algumas estratégias práticas e possíveis para ajudar a diminuir o tempo de tela sem transformar a casa em campo de batalha:
Difícil convencer seu filho a sair do celular se ele vê você o tempo todo no seu. Vale observar como estão os hábitos da casa toda. Que tal combinar momentos off-line em família, como refeições, passeios ou fins de semana mais “desplugados”?
Tirar a tela sem oferecer nada em troca é pedir para ouvir: “Mas eu não tenho nada pra fazer!” Estimule atividades que façam sentido para a idade e os interesses da criança: esportes, artes, leitura, jogos de tabuleiro, culinária, jardinagem, música... Quanto mais variado, melhor. Ajude seu filho a redescobrir prazeres fora do digital. Às vezes, falta só um empurrão e uma boa companhia que pode ser a sua ou até mesmo de amigos, vizinhos, familiares.
Também vale buscar atividades organizadas fora da escola, como esportes coletivos, oficinas criativas e programas como o escotismo, que combina aventura, cooperação e contato com a natureza. O escotismo oferece uma oportunidade incrível de desenvolver habilidades práticas e emocionais, tudo longe das telas e em grupo, exatamente o que muitos jovens estão precisando hoje.
É importante ter regras, sim, mas elas precisam ser coerentes com a rotina da família. Pode ser uma hora por dia, ou só depois das tarefas, ou tela livre apenas aos fins de semana. O mais importante é que seja combinado, não imposto de surpresa.
Não precisa cortar tudo de uma vez. Comece diminuindo o tempo de tela aos poucos e criando novas rotinas. Mantenha a escuta ativa. Muitas vezes, a tela é uma válvula de escape para solidão, estresse ou tédio. Escute o que está por trás do apego.
Muitas vezes, o excesso de tela vem da falta de vínculos fortes no mundo real. Crianças e adolescentes usam os dispositivos para se sentirem menos sozinhos. Passar tempo de qualidade juntos, mesmo que seja jogando conversa fora, pode ajudar a diminuir essa dependência. Promova mais encontros presenciais com colegas, familiares e até vizinhos. Crianças e adolescentes se desconectam com muito mais facilidade quando estão com os pares. Incentive encontros presenciais, convide primos, vizinhos, colegas da escola. Pode ser uma tarde com bolo e jogos, uma noite do pijama ou só um fim de tarde no quintal. Quanto mais experiências reais eles tiverem, menos atraente será o mundo das telas. Crie uma rede de apoio off-line, com amigos, vizinhos e grupos.
Não adianta só proibir. É preciso ensinar. Fale sobre como as telas afetam o sono, o humor, a concentração. Ensine a pensar criticamente sobre o tempo online, as redes sociais e os jogos. Ajude seu filho a entender o porquê da mudança.
Nem todo tempo de tela é perda de tempo. Existem conteúdos incríveis, educativos e criativos disponíveis. A ideia não é eliminar totalmente, mas usar com intenção. Que tal assistir a um documentário juntos? Ou usar um app de meditação, ou de música?
Tenha paciência. Mudança é processo! É normal que, no início, haja resistência e talvez até birra ou mau humor. Mas, aos poucos, com consistência e afeto, novas formas de viver, “se conectar” e se divertir vão surgindo. Lembre-se: o objetivo não é controlar, é ensinar a usar com equilíbrio.
No fundo, a saída das telas é uma entrada em algo maior: a vida real.
Tirar as crianças e adolescentes das telas é, na verdade, reconectá-los com a vida, com o corpo, com a natureza, com os outros e com eles mesmos. E, para isso, a gente também precisa se reconectar.
*Larissa Fonseca é Pedagoga e NeuroPedagoga graduada pela USP, Pós Graduada em Psicopedagogia, Psicomotricidade e Educação Infantil. Autora do livro Dúvidas de Mãe.
*Com edição de Marina Yazbek Dias Peres