Projetos como o Viajando na Leitura buscam revitalizar o hábito da leitura, formando professores mediadores e leitores nas escolas
Aline Testoni Cécel * Publicado em 05/12/2025, às 06h00

A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada pelo Instituto Pró-Livro, revelou uma queda no hábito de leitura nas escolas, passando de 23% para 19%, evidenciando uma crise na formação de leitores e a necessidade urgente de políticas eficazes para estimular a leitura.
Dados do Censo Escolar de 2023 indicam que mais da metade das escolas públicas não possui bibliotecas, refletindo uma mudança na relação com a leitura, que se tornou utilitária e focada apenas em obrigações curriculares.
Iniciativas como o projeto Viajando na Leitura, da instituição Evoluir, buscam revitalizar o ambiente escolar com a distribuição de livros e a formação de professores leitores, promovendo práticas que incentivem a leitura prazerosa e o uso de recursos digitais como apoio à cultura literária.
É para se acompanhar com justificada atenção a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada a cada quatro anos pelo Instituto Pró-Livro (IPL). Em sua última edição (2024), o estudo revelou uma nova redução (de 23% para 19%) no ato de ler livros dentro do ambiente escolar em relação ao levantamento anterior, de 2020. O retrato, que espelha uma crise na formação de leitores no país, acende um alerta sobre a diminuição de políticas e estratégias eficazes para estimular o hábito da leitura nas escolas.
Nos tempos atuais, nunca tivemos tanto acesso à informação, mas tão pouca profundidade de leitura. Dados do Censo Escolar de 2023, (MEC/Inep) mostram que mais da metade das escolas públicas do país não contam com bibliotecas. Antes associada à descoberta e ao prazer, a leitura foi substituída por uma relação utilitária, voltada apenas à obrigação curricular e à decodificação de textos para provas.
Destaque-se ainda que, em meio à sobrecarga de tarefas e à escassez de tempo e recursos, muitos professores deixaram de ser leitores e, por conseguinte, ficam impossibilitados de desenvolver o entusiasmo necessário para fomentar a prática da leitura prazerosa entre os alunos.
Neste cenário, ganham relevância iniciativas que buscam recolocar no ambiente escolar o livro em seu lugar de encantamento, assim como apoiar a formação de professores leitores, capazes de promover a prática da leitura entre os alunos.
A Evoluir, instituição voltada para o desenvolvimento de projetos educativos, tem buscado reposicionar a escola como um espaço referência de leitura. Com a compreensão de que o acesso facilitado a livros — com temas diversificados que permitam às crianças escolhas que respondam aos seus interesses — é fundamental para criar leitores, distribuiu, desde 2017, 74 mil livros infantojuvenis às escolas da rede pública de dezenas de pequenas cidades do país.
Não se trata, contudo, de mera distribuição de acervo. Viabilizado pela Lei de Incentivo à Cultura e com o apoio de empresa privada, o projeto Viajando na Leitura, desenvolvido pela instituição, tem como foco a formação do professor leitor e mediador, como responsável por potencializar o acesso à obra literária, ampliar as possibilidades de interpretação e contextualizar a obra para os alunos. Parte fundamental é o fornecimento de ferramentas que permitam aos educadores expandirem seu repertório de trabalho e diversificar suas estratégias de mediação e incentivo à leitura. São promovidas experiências como a dramatização de obras literárias, rodas de conversa e, ainda, incentivadas formas criativas de compartilhamento de livros.
Finalmente, a leitura também é incentivada por meio da utilização de recursos digitais. Trailers de livros, podcasts literários, vídeos sobre autores e até mesmo adaptações cinematográficas de obras literárias são poderosos aliados ao serem trabalhados como portas de entrada para a cultura da leitura no espaço escolar.
Trata-se de uma iniciativa que permite vencer o desinteresse pela leitura com encantamento, com o professor sendo mediador de afetos e não apenas transmissor de regras. A leitura deleite é, assim, um caminho da educação integral. Recolocar o livro no centro da vida escolar é transformador. É investir no futuro dos alunos como cidadãos críticos, criativos e empáticos.
* Aline Testoni Cécel é coordenadora de projetos na Evoluir.
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