As escolas estão preparadas para receber alunos com autismo?
Lucelmo Lacerda* Publicado em 30/01/2024, às 06h00
O retorno à dinâmica escolar é um evento em si, alguns alunos estão morrendo de saudades, outros de preguiça e ainda há os ansiosos e os que estão com energia acumulada capaz de alimentar uma usina. No caso das crianças com o Transtorno do Espectro Autista – TEA não é diferente, mas há uma maior probabilidade de aparecimento de alguns desafios que não podem ser esquecidos. Destaco aqui 5 deles:
Rotina visual para previsibilidade: Muitos autistas têm uma grande necessidade de previsibilidade e é importante que a escola possua uma rotina visual que apresente os acontecimentos do dia no início do dia letivo, esse apoio visual será de grande ajuda para muitas crianças com TEA e, de quebra, favorecerá diversos outros alunos da sala com as mesmas necessidades.
Reconhecendo o estudante: nos primeiros dias é importante uma margem para que conheçamos melhor os estudantes e, tarefas desafiadoras não são as mais apropriadas, a ideia é começar oferecendo um leque de atividades, das mais simples às mais complexas, criando um ambiente em que o aluno se sinta seguro de escolher livremente o que achar mais confortável, processo no qual tanto avaliamos suas escolhas, quanto o ensinamos que a escola é um lugar agradável, de liberdade e produção.
Acomodações sensoriais: Ainda que tenhamos coletado informações com a família, sobre possíveis alterações sensoriais do aluno, é possível que aspectos relacionados a desconforto térmico ou acústico, por exemplo, possam aparecer uma primeira vez no contexto de aula, que é muito distinto de outros acompanhados pela família, daí que é preciso de professores sensíveis a essa possibilidade e o estudo de possibilidades de arranjos para reduzir essas barreiras.
Combate ao bullying: a literatura científica denomina os estudantes com autismo como “vítimas perfeitas” do bullying, por ser uma deficiência invisível e com forte impacto nas habilidades sociais. Nenhuma ação escolar que receba estudantes com TEA pode ficar alheia a este tipo de violência. Isso significa que é preciso criar uma política ativa contra o bullying, que preveja um canal para denúncias, agir imediata e energicamente nesses casos, além de construir uma cultura de relação com a diversidade na escola.
Elaboração do PEI: em conformidade com as orientações do Conselho Nacional de Educação (parecer 050/2024), os estudantes autistas têm direito a uma avaliação individualizada, de que é parte a equipe de Educação Especial e a Professora da sala os primeiros dias são essenciais construir seu Plano Educacional Individualizado, em parceria com sua família.
Essas são apenas algumas singelas sugestões para o começo do ano e prenunciam o grande, mas valoroso desafio de criar um contexto de diversidade na escola que permita também às crianças e adolescentes autistas não somente o acesso, mas também a permanência, participação e aprendizado em sua experiência escolar!
*Lucelmo Lacerda, Professor, Doutor em Educação pela PUC-SP, com pós-doutoramento no Departamento de Psicologia da UFSCar. É pesquisador em Autismo e Educação Inclusiva, autor de diversos livros, entre eles “Transtorno do Espectro Autista: uma brevíssima introdução” e “Crítica à Pseudociência em Educação Especial: trilhas de uma educação inclusiva baseada em evidências”.