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Semana Nacional do TDAH 2025: políticas públicas para uma vida mais digna e organizada

Psicóloga com TDAH compartilha experiências pessoais e profissionais. A semana Nacional do TDAH começa em 1o de agosto

Redação Publicado em 31/07/2025, às 06h00

Entenda o TDAH - pexels
Entenda o TDAH - pexels

Iniciando efetivamente em 01 de agosto de 2025, o Brasil promove a Semana Nacional de Conscientização sobre o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), conforme instituído pela Lei 14.254/2021. O objetivo é claro: informar, acolher e transformar a forma como a sociedade enxerga o transtorno, que atinge crianças, adolescentes e adultos de maneira profunda — mas muitas vezes invisível.

Para a psicóloga cognitivo-comportamental Karine Brock, que também convive pessoalmente com o TDAH, campanhas como essa são essenciais. Segundo ela, o TDAH existe e deve ser abordado nas políticas públicas. Crianças, adolescentes e adultos desorganizados e desatentos muitas vezes não agem assim porque querem. É o cérebro funcionando de maneira diferente. E sem informação, essas pessoas continuam sendo julgadas como preguiçosas, burras, irresponsáveis. A conscientização salva vidas — e principalmente infâncias, destaca.

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Karine explica que o transtorno é neurobiológico e crônico, ou seja, acompanha o indivíduo em todas as fases da vida. Na infância, os sinais mais comuns são a agitação motora, a dificuldade de manter o foco e o baixo rendimento escolar. Na adolescência, há maior dificuldade em seguir rotinas, com desorganização evidente. Na fase adulta, os sintomas mudam de forma, mas não desaparecem:“A gente esquece de pagar conta, de responder mensagem, perde objetos, começa uma coisa e não termina. Muitas vezes é funcional no trabalho e um caos em casa. A autoestima vai para o chão, a frustração é constante. Não é falta de caráter, é uma forma diferente de funcionamento neurológico, explica a especialista.

Com o avanço das redes sociais e o consumo excessivo de telas, muitas pessoas relatam sintomas parecidos com o TDAH. Mas Karine esclarece que vídeos curtos e excesso de estímulo visual e sonoro podem sim atrapalhar o foco e gerar sintomas parecidos, mas o TDAH verdadeiro é persistente, crônico e causa prejuízos reais e contínuos em várias áreas da vida: escola, trabalho, relacionamentos, rotina. Já a desatenção pontual, costuma estar ligada ao cansaço, estresse ou uso excessivo de telas e não se apresenta de forma generalizada.

Karine defende que escolas e famílias devem ser aliadas, não cobradoras:“A escola precisa parar de taxar a criança como preguiçosa e entender que ela tem um funcionamento diferente. Rotinas estruturadas, reforços positivos e comunicação entre família, escola e profissionais de saúde são fundamentais. A criança precisa de suporte, não de castigo ou julgamento, aconselha.

No consultório, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) tem sido grande aliada no tratamento do TDAH. Karine lista ferramentas simples, mas poderosas como checklists visuais, alarmes e uso de agenda, técnicas de respiração e pausa, reestruturação cognitiva para mudar pensamentos automáticos disfuncionais e lembretes diários de metas e objetivos. “A TCC ajuda a pessoa a se reorganizar, a pensar antes de agir, a não se perder no meio do caminho. E principalmente: a melhorar a autoestima, a autoconfiança e a não se enxergar mais como um problema, explica a psicóloga.

Para quem suspeita que possa ter TDAH, Karine é enfática:Procure ajuda o quanto antes. Muitas pessoas estão desorganizadas emocionalmente, financeiramente, nos relacionamentos, na rotina, e não sabem que existe um nome para isso. O diagnóstico não é para rotular ninguém, mas para dar direção, cuidado, qualidade de vida. Existe tratamento. E ele pode mudar tudo”.

Além da informação, Karine defende políticas públicas mais acessíveis para avaliação e tratamento de crianças e adultos com TDAH. Para ela, é necessário capacitar professores, garantir avaliação multidisciplinar e ampliar o acesso gratuito à psicoterapia e à medicação. Muita gente precisa, mas não tem condições de pagar. Ela enfatiza ainda que a escola pública precisa estar preparada para acolher essas crianças sem estigmatizá-las.

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é uma condição neurobiológica, geralmente hereditária, caracterizada por sintomas persistentes de desatenção, impulsividade e hiperatividade (ou apenas alguns deles). O transtorno pode causar impacto significativo na vida escolar, social, profissional e emocional, mas com tratamento adequado — incluindo psicoterapia, psicoeducação e, em alguns casos, medicação — é possível alcançar uma vida funcional e equilibrada.