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As marcas do álcool na gestação

Conheça os impactos dos Transtornos do Espectro Alcoólico Fetal na adolescência e vida adulta quando existe consumo de álcool na gestação

Marcia de Freitas* Publicado em 03/11/2025, às 06h00

Entenda como os Transtornos do Espectro Alcóolico Fetal afetam a qualidade de vida
Entenda como os Transtornos do Espectro Alcóolico Fetal afetam a qualidade de vida

Os Transtornos do Espectro Alcoólico Fetal (TEAF) resultam da exposição ao álcool durante a gestação, causando consequências permanentes que afetam a vida dos indivíduos em diversas áreas, como saúde mental e social.

Adolescentes com TEAF enfrentam altos índices de instabilidade familiar e dificuldades escolares, além de estarem mais propensos a comportamentos impulsivos que os levam a conflitos com a lei e dependência de substâncias.

Não há tratamento específico para TEAF, e a maioria dos adultos afetados não consegue viver de forma independente, com uma expectativa de vida média alarmantemente baixa de apenas 34 anos, destacando a necessidade de prevenção por meio da abstinência de álcool na gravidez.

Resumo gerado por IA

Os Transtornos do Espectro Alcoólico Fetal (TEAF) representam uma condição ainda pouco discutida, mas cujas consequências são devastadoras e permanentes. Provocados pela exposição ao álcool durante a gestação, esses transtornos se manifestam de diferentes formas e acompanham os indivíduos ao longo de toda a vida.

De acordo com especialistas, os sinais do TEAF variam de leves a graves, envolvendo alterações físicas, mentais, comportamentais e cognitivas. E embora os efeitos possam surgir já na infância, é durante a adolescência e a vida adulta que as repercussões se tornam ainda mais evidentes – e preocupantes.

Adolescência marcada por abandono e dificuldades

Adolescentes com TEAF enfrentam um risco elevado de instabilidade familiar, sendo frequentemente acolhidos por instituições como abrigos e orfanatos. Essa realidade está diretamente ligada a contextos de violência doméstica, negligência, abuso de substâncias e ausência de suporte familiar adequado. Na escola, os desafios também são grandes. A evasão e o absenteísmo são frequentes, resultado das dificuldades de aprendizagem – especialmente em disciplinas como matemática – além de comportamentos como hiperatividade, impulsividade, agressividade e déficit de atenção, que comprometem o desempenho escolar e as relações sociais.

Relação com a justiça e uso de álcool e drogas

Comportamentos impulsivos e desregulados tornam os adolescentes e adultos jovens com TEAF mais vulneráveis a conflitos com a lei. Muitos acabam entrando em contato com o sistema de justiça, seja por atos infracionais ou pela necessidade de internação psiquiátrica. Em muitos casos, a dependência de álcool e outras drogas agrava ainda mais o quadro. Esses transtornos por uso de substâncias elevam o risco de problemas mentais como depressão, ansiedade e transtornos do humor, além de impactar negativamente a vida profissional – com altas taxas de desemprego – e colocar em risco a segurança pública, especialmente em casos de direção sob efeito de álcool ou drogas.

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Riscos à saúde e à sexualidade

Outro aspecto preocupante diz respeito ao comportamento sexual. Pessoas com TEAF podem se envolver em situações de risco, seja como vítimas ou como autores de comportamentos inadequados, como toques impróprios, linguagem ofensiva e prostituição. No campo da saúde física, os riscos também são elevados. Há maior probabilidade de doenças metabólicas como diabetes, obesidade (sobretudo entre mulheres), hipertensão, problemas cardíacos e baixa imunidade.

Expectativa de vida reduzida

Talvez a consequência mais alarmante dos TEAF seja a drástica redução na expectativa de vida. Estudos mostram que a média de vida dessas pessoas é de apenas 34 anos, em comparação com a população geral. As principais causas de morte são externas: suicídio (15%), acidentes (14%) e overdose por álcool ou drogas (7%).

Vida adulta

Dependência e limitações permanentes: a maioria dos adultos com TEAF não consegue alcançar uma vida independente. As limitações cognitivas, mentais e sociais dificultam a realização de tarefas básicas, o que exige, na maioria dos casos, um suporte externo contínuo. É importante destacar que o dano ao sistema nervoso central causado pela exposição ao álcool intrauterino é irreversível. Não existe tratamento específico para o TEAF. Assim, as consequências acompanham os indivíduos e suas famílias por toda a vida – uma realidade dura, que poderia ser 100% evitada com a simples não ingestão de álcool durante a gravidez.

*Marcia de Freitas é médica Pediatra e Neonatologista, Mestre e Doutora pela Faculdade de Saúde Pública da USP, Membro do Núcleo de Estudos dos Transtornos do Espectro Alcoólico Fetal pela Sociedade de Pediatria de São Paulo e Membro do Grupo de Trabalho dos Transtornos do Espectro Alcoólico Fetal pela Sociedade  Brasileira de Pediatria.    

*Com edição de Marina Yazbek Dias Peres