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Não somos TDAH: o diagnóstico não nos define

Robson Profeta, diagnosticado com TDAH: "Embora a descoberta tardia tenha comprometido a minha infância, isso não impediu a minha trajetória"

Robson Profeta* Publicado em 27/05/2024, às 10h00

O executivo Robson Profeta - Foto: arquivo pessoal
O executivo Robson Profeta - Foto: arquivo pessoal

Quando olho para trás, vejo um caminho repleto de desafios não reconhecidos e batalhas silenciosas. Sou executivo, e por muitos anos naveguei pelas águas turbulentas do mundo dos negócios com um fardo invisível. Foi só na idade adulta que recebi um diagnóstico que mudou minha vida: Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

A ausência do diagnóstico na infância, me levou a fazer vários questionamentos sobre mim e sobre os motivos que me faziam tão diferente. Além da falta de atenção e da hiperatividade, o TDAH também está relacionado a uma série de outras questões. Dentre elas estão:

  • Impulsividade;
  • Dificuldades com organização;
  • Gestão de tempo inadequada;
  • Problemas com a regulação emocional;
  • Sensibilidade à rejeição;
  • Problemas com sono e alimentação;
  • Baixa autoestima;
  • Comorbidades como depressão e ansiedade.

A jornada sem diagnóstico

A minha infância e adolescência foi muito difícil, passei por dificuldades acadêmicas e sociais ao longo da vida, pois me achava muito diferente das demais pessoas que me cercavam e não conseguia entender quais as razões disso. Com o tempo percebi que para poder sobreviver, precisaria utilizar métodos específicos para ter menos prejuízos. Por exemplo, eu sempre precisei anotar tudo que era importante, e aprender a anotar sempre nos mesmos lugares. Precisei aprender que meus pertences sempre precisavam ser guardados exatamente nos mesmos lugares, para assim, conseguir ter mais foco e objetividade.

Um dos maiores desafios em minha vida sempre foi gerenciar uma mente inquieta, pensamentos e ideias que iam e vinham, sem qualquer filtro. Este volume infinito de dados dificultava meu foco em iniciar, manter e concluir uma tarefa, afinal sempre aparecia algo mais interessante no meio do caminho que me distraía. Entretanto, às vezes aparecia alguma atividade que me interessava tanto que conseguia trabalhar 24 horas sem cessar, me esquecendo de comer ou mesmo de dormir: hiperfoco.

No mundo dos negócios, não foi diferente, a minha falta de diagnóstico se tornou um obstáculo constante. Procrastinação, dificuldade em manter o foco em tarefas longas e um sentimento constante de estar sobrecarregado me perseguiam. Cada projeto era uma montanha-russa de motivação e estagnação, e eu muitas vezes me sentia como um impostor no meu próprio campo.

Descoberta transformadora

Foi apenas na fase adulta, que recebi o diagnóstico de TDAH. Lembro-me do misto de alívio e tristeza que senti. Alívio por finalmente entender a raiz de tantos anos de luta me sentindo fora da caixa, e tristeza por não descobrir isso antes. Mas, mais do que qualquer outra coisa, senti esperança.

Adaptação e estratégias

Com o diagnóstico em mãos, comecei a entender melhor o TDAH e a buscar maneiras de gerenciá-lo. A partir do momento que descobrimos o que de fato acontece, entendemos que não nos resumimos a adjetivos que os outros nos impõem e sim, que temos apenas algumas limitações relacionadas ao nosso neurodesenvolvimento e que precisamos olhar para isto com a atenção merecida. 

Então, passei a utilizar ferramentas de gestão de tempo, como listas de tarefas e aplicativos de organização, além de estabelecer uma rotina mais estruturada que me permitisse manter o foco e não procrastinar. 

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Uma solução, não uma sentença

Entender o meu TDAH foi como encontrar a chave para uma nova forma de viver e trabalhar. Com o diagnóstico, veio a oportunidade de aprender sobre mim mesmo e adaptar minha vida de acordo com minhas necessidades. Em vez de ver isso como uma limitação, decidi encará-lo como uma chance de crescimento e autodescoberta.

Além disso, busquei ajuda profissional, para auxiliar e fornecer uma base sólida para enfrentar meus desafios. Desde então, descobri que o TDAH não era um inimigo, mas uma parte de mim que precisava de cuidados específicos.

O impacto no mundo corporativo 

A transformação pessoal refletiu-se diretamente no meu negócio. Com uma nova compreensão de minhas limitações e habilidades, trilhei caminhos que me trouxeram até onde estou hoje, e pude alcançar o cargo de C-Level, mesmo tendo um transtorno que tornou o processo mais difícil.

Mas, para mim, o verdadeiro segredo do meu sucesso foi aprender a abraçar minha singularidade. Em vez de tentar me encaixar em moldes convencionais, abracei minha criatividade, minha energia e minha capacidade de pensar fora da caixa. Descobri que, embora o TDAH possa trazer desafios únicos, também traz consigo uma série de talentos e habilidades valiosas, o transtorno faz parte de mim, mas não me define e entender isso, é libertador. 

Um conselho

Para todos que enfrentam dificuldades similares, minha mensagem é clara: busquem respostas, entendam-se e lembrem-se de que cada desafio traz consigo a oportunidade de evolução e transformação. Meu TDAH me ensinou isso, e acredito que pode ensinar a muitos outros também.

Conclusão

Minha história é um exemplo de como o diagnóstico e o tratamento adequado do TDAH podem transformar a vida de uma pessoa. Embora a ausência desse diagnóstico na infância tenha comprometido parte da minha trajetória, tornando o caminho mais árduo, não foi um empecilho para que eu pudesse conquistar meus objetivos. Destaco também, a importância da conscientização sobre o transtorno, especialmente em adultos que podem ter convivido com os sintomas por anos sem um diagnóstico. Com a abordagem certa, é possível transformar adversidades em oportunidades de crescimento e sucesso. O TDAH pode ter sido uma curva inesperada no caminho, mas também foi uma fonte de força e resiliência pessoal. Aprendi que o sucesso não é medido pela ausência de desafios, mas sim pela maneira como os enfrentamos e os superamos. Não somos TDAH: reforço sempre isso, sem negação, mas sem limitações.

Robson Profeta

Executivo com mais de 30 anos de experiência, graduado, pós-graduado, com MBA pela FGV e extensão pela Universidade de Chicago. Especializado em Branding, Estatística e Inteligência Emocional pela FGV e Insper, membro da Associação Mensa Brasil e autor da obra ‘Teoria da Riqueza’ um dos cases de sucesso que traz uma linguagem acessível para todas as idades, propondo uma nova forma de pensar no âmbito financeiro e no autoconhecimento.