A importância de uma educação inclusiva, diversa e anticapacitista
Letícia Lyle* Publicado em 22/11/2023, às 06h00
A conversa sobre diversidade e inclusão tem se intensificado em diversos setores da sociedade, especialmente quando se trata de ambientes corporativos, que precisam mostrar investimentos em sustentabilidade e práticas inovadoras.
No entanto, dois lugares onde essas discussões podem e devem prosperar e ganhar vida são a escola e a nossa casa. Por quê? Porque a educação desempenha um papel crucial em inserir e apresentar o mundo para as mentes mais jovens e em desenvolvimento, e o mundo que temos para apresentar é, justamente, complexo, diverso e em constante mudança.
Costumo dizer que a diversidade é uma potência transformadora. Em um mundo complexo como o nosso, a presença de diferentes perspectivas enriquece nossa existência. A diversidade nos ensina empatia, nos desafia a ver o mundo com curiosidade e nos prepara para as exigências do século XXI, onde habilidades como pensamento crítico, comunicação e colaboração são essenciais.
Refletir a diversidade do mundo nas escolas não é tarefa fácil. É por isso que muitos ambientes educacionais não conseguem fazer isso. Valorizar e integrar intencionalmente essa diversidade, seja ela racial, cultural ou de desenvolvimento, enriquece o tecido escolar e as nossas conexões neurais, permitindo que todos se beneficiem ao conviver e aprender uns com os outros.
É através desse convívio que as crianças, adolescentes e adultos podem compartilhar diferentes perspectivas, compreender questões sociais e se posicionarem diante delas. Com isso, aprendemos a incluir argumentos e criamos novas construções mentais mais complexas e enriquecidas.
No entanto, a inclusão vai além da presença física da diversidade; envolve também metodologias de aprendizagem que valorizem e representem as diferentes formas de pensar e criar. Escolas verdadeiramente inclusivas criam espaços onde mentes criativas e diversas são vistas, ouvidas e valorizadas.
Como diretora de uma escola em São Paulo reconhecida por seu compromisso com a diversidade e inclusão, entendo que o primeiro passo é aceitar a diversidade em todas as suas formas, tornando-a não apenas parte integrante do ambiente escolar, mas também um elemento educador fundamental.
É crucial compreender que a diversidade não é apenas um símbolo de riqueza ou potência, mas é, sobretudo, uma ferramenta de resiliência cerebral e social. Viver em uma sociedade diversa nos transforma, amplia nossos horizontes e nos desafia a amar e reconhecer a diversidade como algo intrínseco e valioso.
Para dar conta disso, fiz questão de garantir que o currículo da nossa escola refletisse a filosofia de Martin Luther King Jr., a partir da qual entendemos que a verdadeira grandeza está em servir uns aos outros.
Tenho uma crença profunda de que os estudantes podem alcançar a grandeza ao se tornarem conscientes das disparidades no mundo e ao se tornarem agentes de mudança em suas comunidades locais, nacionais e globais.
É assim que vão desenvolver a abertura, uma habilidade essencial para a vida agora e no futuro. Estar aberto e curioso em relação à vida, suspender o julgamento e fazer perguntas significativas são elementos-chave para um ambiente inclusivo. Isso também implica em estar disposto a mudar de ideia, a acolher o novo e a encontrar maravilhas tanto nas coisas simples quanto nas complexas.
Inclusão e a diversidade na educação dos nossos filhos e estudantes não são somente vantajosas para determinados grupos, mas beneficiam a todos: quem aprende, quem educa, quem convive, quem constrói sociedade. É um investimento não apenas no futuro, mas também na construção de um mundo mais justo, empático e próspero para as gerações vindouras. Um investimento com ganho alto e certo para todos. Talvez o único com essa característica.
*Leticia Lyle é diretora pedagógica da Camino School e cofundadora da Camino Education e da Cloe