Aquela criança que fomos, ainda existe dentro de nós? Encontrá-la e olhar para ela pode nos ajudar
Mônica Geisa Cereser* Publicado em 14/10/2024, às 06h00
Muitos dizem que quando nasce um filho, junto com ele nasce uma mãe. Sabemos que a história não é bem assim. Muitas mães se veem aflitas, sem saber o que fazer, quando se dão conta que tem uma nova vida para cuidar. O problema é que essa mulher que virou mãe também tem uma “criança” dentro dela que raramente é vista ou ouvida.
Muitas nem sabem que ela existe, e aí quando se depara com um recém-nascido é inevitável, mesmo que inconscientemente, que se depare com a sua história, com sua mãe ou quem cuidou dela e isso pode ser bom ou não.
Temos muitas informações, artigos e livros falando sobre como educar uma criança, como fazer isso, como não fazer aquilo. Dentro desse contexto, eu trago um estudo que fala que a falta de habilidade dos pais é pelo menos, parcialmente, responsável pelo desenvolvimento ou manutenção de alguns padrões, que não são muito saudáveis dentro dessa interação familiar. Muitas vezes também são fontes geradoras do mal comportamento dos filhos.
Buscar o velho autoconhecimento parece clichê, mas é muito necessário, pois se você não souber quais são os seus pontos fortes e fracos, provavelmente irá gastar energia e desperdiçar tempo em coisas que não são necessárias. Se conhecendo ao invés de gastar sua energia vital, você usará cada vez mais sua sabedoria, amorosidade, e consistência para educar seu filho.
O ambiente familiar exerce papel importante no desenvolvimento das condutas de cada pessoa, normalmente tendemos a seguir os padrões familiares que está repleto de crenças limitantes que geram muita ansiedade. Essas crenças podem ser muito bem administradas, se tivermos consciência delas e assim podemos fazer algo transformador e sair do ambiente nocivo em que vivemos.
A aprendizagem não ocorre pelo reforço direto, mas por meio de modelos, observando o comportamento de outras pessoas, você cria seu próprio padrão e é isso que seu filho está fazendo agora, observando e te copiando assim como você fez com quem cuidou de você.
Para diminuir a dor de enxergar essas feridas, o caminho é se aceitar, se acolher, buscar ferramentas para promover a saúde mental e então passar a agir de modo diferente. Os temas que proponho são os pilares do meu trabalho, junto ao grupo MAM - Mães que ajudam mães, com quem tenho grupos criados em Jundiai, interior de São Paulo.
Muitos padrões são internalizados, quando ainda não havia a possibilidade das escolhas e capacidade de decisão. Você só consegue se libertar destes caminhos, se tornando autoconsciente. Muito do que ocorre com você hoje foi aprendido em uma fase da sua vida em que se estava aberto a todo e qualquer tipo de influência.
A habilidade de olhar para sua história pessoal, revendo o passado e não vivendo no passado age como uma força mestra que impulsiona o entendimento da vida e a possibilidade de criar um futuro diferente e isso só depende de você.
Pare e pense agora com o olhar mais consciente sobre o que são crenças. Como foi sua infância? O que você pode ter escutado que contribuiu para que agisse de modo automatizado e sem parar para pensar? Se sabotando e deixando a vida para depois, ou vivendo exclusivamente para o outro, ou só querendo agradar ou sendo muito esforçado ou desejando ser perfeito ou fazer tudo correndo.
Essa retrospectiva lhe ajuda a acolher amorosamente a sua história, assim como olhar o outro com olhos mais carinhosos, pois eles também têm histórias que você nem imagina e carregam crenças que você desconhece.
Precisamos nos reconhecer em primeiro lugar como ser humano, falível, vulnerável que somos, e que possa ter acendido o desejo de querer se conhecer mais, procurar se aceitar como é para que com novas ferramentas, seja possível mudar suas atitudes e ser a mãe que tanto deseja: feliz, leve e cheia de energia. Desse modo, os filhos sentirão que as mães estão felizes. Logo mãe feliz, significa filho feliz.
*Mônica Geisa Cereser é especialista em psiquiatria de crianças, adolescentes e adultos há 30 anos. Formada em Medicina pela PUC–Sorocaba com especialização em psiquiatria geral na Santa Casa de São Paulo e em psiquiatria da infância e adolescência no Hospital das Clínicas da USP.