Investir na formação de professores é crucial para potencializar o impacto da tecnologia e criatividade na educação de comunidades carentes
Alex Paiva* Publicado em 24/11/2025, às 06h00

A robótica educacional, antes restrita a grandes escolas urbanas, começa a se expandir para comunidades remotas do Brasil, como aldeias indígenas na Amazônia, promovendo inclusão e novas oportunidades de aprendizado.
Em Vitória do Xingu, estudantes da comunidade Juruna utilizam a robótica para desenvolver habilidades como raciocínio lógico e trabalho em equipe, culminando na formação de uma equipe para participar da FIRST® LEGO® League.
Para garantir o sucesso dessas iniciativas, é essencial investir na formação de professores, que são fundamentais para transformar tecnologia em aprendizado significativo e promover a equidade na educação brasileira.
Durante muito tempo, a robótica educacional foi vista como um luxo reservado às grandes e bem estruturadas escolas dos centros urbanos — um recurso moderno, mas distante da realidade de milhões de estudantes brasileiros. Felizmente, esse cenário começa a mudar. E o mais interessante e simbólico é que a mudança não está vindo apenas das capitais, mas nasce de iniciativas que alcançam regiões distantes e até mesmo esquecidas pelo avanço tecnológico, como comunidades ribeirinhas e aldeias indígenas na Amazônia.
Um exemplo de sucesso, vivenciei em Vitória do Xingu, no interior do Pará, onde um grupo de estudantes da comunidade indígena Juruna encontrou na robótica uma nova forma de aprender e expressar criatividade. Com orientação de seus professores, eles começaram a montar e programar robôs, experimentando uma abordagem de ensino que estimula o raciocínio lógico, o trabalho em equipe e a resolução de problemas reais. O que surgiu como curiosidade rapidamente se transformou em entusiasmo e, em pouco tempo, em um projeto coletivo: a criação de uma equipe para participar da FIRST® LEGO® League, uma das maiores competições de robótica do mundo.
A cena de jovens indígenas unindo saberes tradicionais à inovação tecnológica é, ao mesmo tempo, simbólica e transformadora. Ela rompe o estereótipo de que a tecnologia pertence apenas a contextos urbanos e mostra que ciência e cultura local podem, e devem, caminhar juntas. Quando um estudante indígena vê um robô ganhar vida a partir de suas próprias ideias, ele também está construindo um caminho de pertencimento e de futuro.
Nesse contexto, a robótica educacional deixa de ser apenas um recurso didático para se tornar uma ferramenta de inclusão social e digital. Ela amplia horizontes, desperta talentos e ajuda a construir pontes entre mundos que antes pareciam distantes. Mais do que ensinar programação, trata-se de ensinar a pensar, desenvolver autonomia, criatividade e colaboração.
Por outro lado, para que essa transformação aconteça de fato, é preciso olhar além dos equipamentos e investir na formação dos professores. São eles que traduzem o potencial tecnológico em aprendizado significativo, que transformam motores e sensores em oportunidades de descoberta. O sucesso de experiências como a de Vitória do Xingu mostra que, quando o educador é empoderado com conhecimento e suporte, o impacto da tecnologia se multiplica.
Num país onde a desigualdade ainda define o acesso à educação de qualidade, iniciativas como essa mostram que inovação e inclusão podem caminhar juntas e que democratizar o acesso à robótica é mais do que ensinar programação. É um passo essencial para tornar a educação mais equitativa e inspiradora. Levar inovação a lugares onde ela parecia não caber é também um ato de justiça social. É abrir portas para que cada aluno, seja de uma escola urbana ou de uma aldeia indígena, descubra o poder de imaginar, construir e transformar o mundo ao seu redor.
O futuro da educação brasileira não será escrito apenas por quem domina a tecnologia, mas por quem entende o poder de usá-las para criar pontes entre culturas, ideias e possibilidades.
*Alex Paiva é head de produtos do Educacional – Ecossistema de Tecnologia e Inovação, área da Positivo Tecnologia para negócios de educação.
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