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Programação, trabalho em equipe, engenharia e criatividade: a robótica e o impacto na vida de jovens estudantes

Estudantes de diferentes estados representam o Brasil na FTC, mostrando talento e criatividade em robótica

Giovanna Mitrani* Publicado em 10/07/2025, às 06h00

Aprender programação é uma forma produtiva de uso de tela - pexels
Aprender programação é uma forma produtiva de uso de tela - pexels

O que a nova geração tem a nos ensinar sobre inovação, trabalho em equipe e superação? Adolescentes brasileiros de diferentes estados — Espírito Santo, Goiás, Rio de Janeiro e São Paulo — deram uma resposta prática e inspiradora ao representar o Brasil na competição internacional de robótica First Tech Challenge (FTC), realizada em Monterrey, no México. Após meses dedicados ao desenvolvimento de robôs que combinam programação, engenharia e criatividade para resolver desafios propostos pela organização da FTC, os estudantes conquistaram a vaga no torneio internacional ao se destacarem em etapas nacionais, superando obstáculos técnicos e colaborativos. A etapa final aconteceu na Universidade Tecmilenio, reunindo jovens talentos de diversos países em um ambiente de inovação e disputa saudável.

Para chegarem até esta etapa do campeonato, as equipes passaram por horas de dedicação e desenvolveram robôs com mecanismos complexos que, de acordo com o desafio proposto pela FTC, precisavam carregar blocos plásticos para uma cesta elevada ou pendurar blocos com ganchos em uma estrutura metálica no centro da arena. Centenas de adolescentes de todo o mundo estavam focados em construir o seu robô e passaram por um extenso processo de descoberta que os levou a estudar, testar, prototipar e conversar, além de desenvolver habilidades como o trabalho em equipe, saber delegar tarefas, ouvir e considerar o outro. Os robôs que vemos, feitos de parafusos e fios, são na verdade uma construção de muitas mãos e mentes de adolescentes focados e trabalhando com propósito.

Quando levamos o espírito esportivo para dentro de um contexto da ciência percebemos que toda conquista deve ser comemorada com ânimo de copa do mundo, que esses jovens são capazes de muito, quando bem direcionados. As equipes brasileiras se destacaram por sua capacidade técnica, pela sua criatividade para solucionar problemas da engenharia e por serem exemplos de profissionalismo e integridade. A equipe Tech Dragons, do Sesi Espírito Santo, e a equipe Alpha, do Sesi Jacarepaguá, do Rio de Janeiro, ganharam, respectivamente, o 1º e 2º lugar do prêmio Inspiração, que destaca o espírito esportivo, o nível de excelência e profissionalismo dentro e fora de campo. Já a equipe Brainmachine, do Sesi Catalão Goiânia, ficou em 3º lugar geral da competição e levou para casa o prêmio Connect por ser a equipe que melhor estabelece troca e comunicação entre a comunidade local e os seus aprendizados de STEM. A equipe Avenues Robotics, da escola Avenues São Paulo, impressionou os jurados com sua inventividade e levou o 2º lugar do prêmio de Design pela forma de organização dos diferentes sistemas do robô: num gesto simples e criativo, passaram canudinhos plásticos no apontador de lápis e assim criaram espirais que envolvem e organizam o que seria um emaranhado de fios. Através dessa solução a equipe mostrou uma grande habilidade em solução de problemas, através de um processo de evolução interativa e inovação. Todas as equipes brasileiras voltaram para casa premiadas, uma grande conquista que aponta o potencial científico do país.

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Parece incongruente ver um espaço com arena, arquibancada, bandeiras, jurados, gritos de guerra, aplausos e uniformes, coexistindo com parafusos, ferramentas, controles de videogame e computadores com código de programação. Este tipo de experiência mescla o universo do esporte, do espetáculo e da ciência, oferecendo aos jovens evidência de como projetos ‘mão na massa’, são também o espaço para apresentar seus saberes tecnológicos. O domínio da tecnologia aqui vai muito além de saber usar os dispositivos. Nesse contexto, os jovens são os programadores e engenheiros que constroem o robô, criam os sistemas digitais e códigos de programação que fazem-o performar autonomamente e são também avaliados em quão bem consegue operá-lo na arena. Fica evidente que oferecer aos adolescentes oportunidades de ocuparem seu tempo com o uso da tecnologia com propósito lhes mantém interessados, ajuda-os a navegar a complexidade do contemporâneo e ainda lhes oferece amizades com outros jovens que compartilham do mesmo interesse.

Quantas oportunidades desse tipo buscamos oferecer aos jovens da nossa rede? Acreditar e investir no seu potencial é lhes dar a oportunidade de extrapolar nossas expectativas.

*Giovanna Mitrani (São Paulo, 1997), vive e trabalha em São Paulo. É artista visual e educadora, formada pela Universidade Central St Martins em Londres e FMU em São Paulo. Sua atuação enquanto artista e educadora é pautada pela relação entre estes dois motores culturais: foi professora interdisciplinar de Artes na Avenues e fundadora da Casinha Atelier, um espaço de arte independente que sediou inúmeras oficinas, eventos e exposições. Pesquisa a confluência entre arte e educação para trabalhar as questões do contemporâneo com potência e sensibilidade.